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França. Toulouse prepara-se para votar à esquerda após 5 anos de Macron

Entre sacos de compras, tapeçarias orientais e pratos de tajine, dois candidatos da NUPES distribuem folhetos no mercado de Bagatelle, em Toulouse, para ver se encontram quem confirme a tendência iniciada no domingo: 'tirar' a cidade a Macron.

França. Toulouse prepara-se para votar à esquerda após 5 anos de Macron
Notícias ao Minuto

17:37 - 15/06/22 por Lusa

Mundo Eleições

Nesta cidade tradicionalmente de esquerda, Jean-Luc Mélenchon tornou-se uma vedeta e um "símbolo de esperança" para a população: foi aqui que organizou o seu último comício antes da primeira volta das eleições presidenciais, para, depois, ficar em primeiro lugar na cidade, com 36,95% dos votos.

Agora, a poucos dias da segunda volta das eleições legislativas, a aura do líder da coligação de esquerda parece continuar a dar frutos: nos 10 círculos eleitorais em disputa no departamento de Haute-Garonne, onde se situa Toulouse, todos os candidatos da Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES) conseguiram qualificar-se para a segunda volta.

François Piquemal é o exemplo mais paradigmático da 'onda Mélenchon': com 46,54% dos votos na primeira volta das legislativas, foi o candidato que obteve o melhor resultado na Haute-Garonne, a uma grande distância da sua adversária da coligação presidencial, Marie-Claire Constans, com 23,59%.

A cinco dias da segunda volta, Piquemal diz à Lusa que, apesar de estar "muito satisfeito" com o seu resultado, pretende "continuar a amplificar e concluir" a "vontade de rotura" que se tem manifestado nas urnas desta cidade, que diz ser "profundamente de esquerda".

Para tal, escolheu hoje o mercado de Bagatelle para distribuir folhetos: aqui, onde se fala árabe com a mesma frequência que francês e se vendem véus islâmicos a oito euros, a mensagem da coligação de esquerda parece ser bem recebida.

Brice, de 48 anos, diz à Lusa que não se deslocou às urnas no domingo passado por considerar que a eleição "só se decide na segunda volta". No entanto, afirma que, este domingo, irá votar na NUPES, por gostar de Mélenchon e querer que ele seja primeiro-ministro.

A equipa que acompanha Piquemal sabe que, na grande maioria dos casos, as pessoas a quem distribuem "folhetos já está convertida, mas insistem no principal: "é preciso ir votar no domingo!".

É o grande desafio para a coligação de esquerda: os dois estratos sociais mais propensos a votar na NUPES -- os jovens e as classes populares -- são também os que têm mais tendência a ficarem em casa no dia das eleições. Na primeira volta, por exemplo, cerca de 69% dos jovens com menos de 24 anos abstiveram-se.

Para tal, nos grupos da rede social Telegram onde os apoiantes da NUPES organizam as ações de campanha, a mensagem é clara: "a missão 'vamos buscar os abstencionistas' está lançada!", diz um dos organizadores.

A candidata da NUPES Christine Arrighi, que pertence ao partido Europa Ecologia Os Verdes, assume claramente esse desígnio: "o apelo aos jovens é claro, é preciso que vão votar!".

"É preciso que a juventude se apodere do seu destino, é preciso que a juventude se sinta preocupada com esta eleição. Essa participação é importante não apenas nos dias que correm, mas é sobretudo importante para o futuro", diz a candidata ecologista, que obteve 39,77% dos votos na primeira volta e se prepara para substituir na Assembleia Nacional a deputada 'macronista' Sandrine Mörch que, na primeira volta, conquistou apenas 25,05% dos votos.

As jovens Nassima e Soukaima, ambas com 21 anos, são um dos alvos preferenciais visados pelos candidatos que distribuem folhetos no mercado de Bagatelle. Após terem falado com Christine Arrighi, decidiram ir votar no próximo domingo, apesar de não o terem feito na primeira volta.

"Gosto muito do Mélenchon: ele não estabelece qualquer diferença entre raças, entre origens ou entre religiões, ao contrário de outros... E ainda por cima estamos fartas do Macron: só votámos nele na segunda volta das presidenciais porque do outro lado estava a Le Pen. É o Presidente dos ricos!", diz à Lusa Nassima.

Do lado da coligação presidencial Juntos! (Ensemble!, em francês), a onda 'mélenchonista' começa a preocupar: nas eleições legislativas de 2017, o partido de Emmanuel Macron, La République en Marche, tinha conseguido eleger nove deputados nos 10 círculos eleitorais em disputa. Agora, os candidatos de esquerda parecem imparáveis.

Para tentar contrariá-los, os candidatos 'macronistas' começaram a alertar para "os perigos" que a "extrema-esquerda" representa e procuram somar os apoios de personalidades de peso para tentar convencer os indecisos.

Com 28% dos votos na primeira volta, o candidato Pierre Baudis -- filho e neto de dois antigos presidentes da Câmara de Toulouse -- é um desses casos: na terça-feira, convocou uma conferência de imprensa no hotel Soclo, em pleno centro de Toulouse, para mostrar que o autarca, Jean-Luc Moudenc -- do partido de centro-direita, Republicanos -- o apoia.

À Lusa, o candidato da coligação presidencial diz ainda ter confiança na vitória, apesar dos mais de 10 pontos porcentuais que o separam do seu adversário. Para tal, conta com a transferência de votos dos candidatos que foram eliminados na primeira volta e que, segundo Baudis, "não se podem conformar em ver a França ficar num imobilismo total".

"Deixo um apelo a todos os republicanos convictos, a todas as pessoas que querem respeitar o Estado de direito. (...) A NUPES mete em causa o Estado de direito, é contra a laicidade e é contra a igualdade", adverte.

É uma estratégia comum junto dos candidatos da coligação Juntos!: Marie-Claire Constans, a adversária de François Piquemal, também sublinha à Lusa que a sua eleição vai depender das pessoas que, na primeira volta, votaram noutros partidos.

"Eu aceito todos aqueles que têm medo da extrema-esquerda, todos aqueles que amam a França, os valores republicanos, que não se reconhecem num projeto de extrema-esquerda e que se recusam a dar todos os poderes a Mélenchon", sublinha, pouco depois de ter recebido o apoio de François Bayrou, líder do MoDem, um dos três partidos que compõem a coligação presidencial.

No mercado de Bagatelle, Fatiah, de 59 anos, sai com um folheto na mão com a foto de Mélenchon e de Piquemal. Apesar de "não se interessar pela política" e de ter votado em Macron na segunda volta das eleições presidenciais, desta vez já decidiu que vai votar na NUPES.

"Eu vou votar em Piquemal, sem dúvida, porque ele, no outro dia, veio falar connosco ao jardim, falou com todas as mães. (...) É muito bom quando eles vêm falar connosco, mostra que se importam", diz a senhora, antes de seguir caminho com o seu saco de compras.

Leia Também: São necessárias "novas discussões" com autoridades ucranianas, diz Macron

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