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Acordo à esquerda em França agrada, mas também divide socialistas

O acordo para a Nova União Popular Ecologista e Social (NUPES) em França estimula o debate político nas eleições legislativas de junho, defendem políticos da esquerda, mas no Partido Socialista (PS) criticam-se "cedências excessivas" a Jean-Luc Mélenchon.

Acordo à esquerda em França agrada, mas também divide socialistas
Notícias ao Minuto

18:31 - 11/05/22 por Lusa

Mundo França

"Sou muito favorável à alternativa que a esquerda está a oferecer, já que nos últimos 15 anos foi extremamente difícil reunir estes partidos e abre uma nova possibilidade no debate democrático em França. Isso só pode ser uma coisa boa", afirmou Pierre Franklin Tavares, conselheiro municipal de Épinay-sur-Seine, em declarações à Agência Lusa.

Nas eleições municipais de 2020, Tavares liderou uma coligação local que reuniu a 'França Insubmissa' e outras forças de esquerda em Épinay-sur-Seine, nos arredores de Paris, sendo próximo do deputado Éric Coquerel, braço-direito de Mélenchon, e considera que "nunca é fácil" criar uma coligação, mas que esta é a única maneira de "a esquerda avançar".

Há uma semana que o acordo que reúne os apoiantes de Mélenchon, os ecologistas, os comunistas e os socialistas para a coligação pré-eleitoral das legislativas que decorrem a 12 e 19 de junho foi formalmente aprovado. No entanto, este acordo não é consensual, especialmente dentro do PS francês.

"Estou de acordo com a grande parte das coisas que estão no acordo, como a reforma aos 60 anos ou a revalorização dos salários mais baixos. Mas há outros elementos, especialmente ligados à Europa, que são problemáticos", defendeu João Martins Pereira, conselheiro municipal socialista em Charenton, região parisiense.

Com 26 anos e líder dos socialistas no Val de Marne, este eleito local considera também que outras partes do acordo "são questionáveis", como a distribuição de lugares, já que em 577 candidaturas possíveis, apenas 70 foram para o PS, um cálculo baseado nos resultados das presidenciais, onde a candidata Anne Hidalgo teve apenas 1,75% dos votos e Melénchon 21,95%.

"O PS detém um número importante de cidades e de regiões e isto mostra que o PS não tem só 1,75% dos votos. Este acordo não traduz a realidade local. Cedemos coisas em que não precisávamos ter cedido, mas claro que tínhamos também algumas limitações. É um acordo feito também com os ecologistas e com os comunistas, ficámos com 70 candidatos, é pouco. Mas vamos tentar fazer o melhor e ter o maior grupo parlamentar possível", sublinhou.

Na sua região, a 8º circunscrição de Val de Marne, o candidato natural do PS seria Pereira, mas este acordo retirou-lhe a possibilidade de se candidatar à Assembleia Nacional, já que outro candidato vai ser nomeado pela França Insubmissa.

Este acordo está a gerar uma vaga de dissidências dentro do PS, com candidatos a anunciarem candidaturas independentes contra a NUPES, mas também muitas críticas vindas de algumas das personalidades mais conhecidas do partido como François Hollande e até abandonos do partido como Bernard Cazeneuve, antigo primeiro-ministro.

No entanto, é devido em parte a Hollande, antigo Presidente, que a esquerda tem tido problemas a reerguer-se nos últimos cinco anos em França, segundo Tavares.

"Saímos dos anos Hollande, que foram extremamente difíceis para a esquerda. No contexto nacional, temos uma subida da extrema-direita, que provocou uma grande preocupação nas pessoas de esquerda. Há também a equação pessoal de Jean-Luc Melénchon que se posicionou como a única força capaz de unir a esquerda", explicou o eleito de Épinay-sur-Seine.

João Martins Pereira, considera a saída de algumas figuras uma oportunidade de renovação para o PS francês, estando agora a ponderar se fará campanha junto do candidato da NUPES, vindo da 'França Insubmissa', na sua circunscrição.

"Tendo em conta a minha perspetiva sobre este acordo à esquerda, vou ver o que é o candidato que se vai apresentar na minha circunscrição tem a propor, mas se ele ficar numa retórica de insubmissão face aos tratados europeus, não sei", disse o dirigente socialista, que é o representante do Movimento dos Jovens Socialistas franceses junto dos Jovens Socialistas Europeus.

Já Pierre Franklin Tavares lembra que nada está ganho nestas eleições legislativas.

"A esquerda está com uma ótima dinâmica, mas nada está ganho, portanto temos de fazer uma boa campanha. O caso de Eric Zémmour é um exemplo, começou bem a campanha e terminou mal. A França está fraturada em três blocos, com tensões internas, e é uma boa notícia que a esquerda esteja de acordo", concluiu.

Leia Também: Socialistas franceses defendem coligação eleitoral com Jean-Luc Melénchon

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