Se, como indica um projeto de decisão que foi divulgado, o Supremo Tribunal dos EUA votar a anulação de 'Roe v Wade' - que legitimou o direito ao aborto- muitas americanas que necessitam de aborto poderiam ser forçadas a viajar  para o Canadá e para o México.

Na terça-feira, a ministra das famílias do Canadá, Karina Gould, reafirmou que os americanos podem ter acesso aos serviços de aborto no Canadá. "Se eles, pessoas, vierem aqui e precisarem de acesso, certamente esse é um serviço que seria prestado", disse à CBC News.

Segundo o Guttmacher Institute, uma organização americana de investigação sobre direitos de saúde sexual e reprodutiva, é provável que 26 estados proíbam o aborto se 'Roe v Wade' for derrubado. 

Segundo o The Guardian, a travessia da fronteira só será provavelmente possível para aqueles que podem dar-se ao luxo de o fazer. Os defensores do aborto nos EUA sublinharam que depois da queda de 'Roe v Wade' serão as mulheres brancas mais ricas que terão os meios - incluindo viajar - para aceder ao aborto, enquanto as pessoas com rendimentos mais baixos e as que enfrentam barreiras socioeconómicas, incluindo mulheres afro-americanas, latinas e indígenas e pessoas transgénero, poderão fazê-lo.

A sul da fronteira dos EUA, também os mexicanos estão a preparar-se para um aumento das visitas de americanos aos serviços de aborto. Em 2021, o Supremo Tribunal do México decidiu que era inconstitucional criminalizar o aborto, embora o acesso ainda varie por estado.

O grupo de advocacia Las Libres faz parte de uma rede que ajuda as pessoas de ambos os lados da fronteira a aceder a pílulas de aborto. Vero Cruz, coordenadora de advocacia da Las Libres, disse que os americanos podem tecnicamente obter abortos em clínicas públicas em certos estados mexicanos de forma gratuita, embora ainda não conheça ninguém que o tenha feito. 

O direito ao aborto tem sido uma das questões que o Partido Republicano tem constantemente atacado ao longo dos anos, argumentando que a decisão de 1993 do processo 'Roe v. Wade', que legitimou o direito ao aborto (entre muitos outros direitos, como o casamento inter-racial) devia ser revertido.

Depois de ter sido eleito em 2016, Trump prometeu que nomearia juízes com uma visão conservadora sobre o aborto. Aproveitando uma transição no Supremo Tribunal, com uns juízes a reformar-se e outros a falecer, nomeadamente a juíza Ruth Bader Ginsburg, Trump nomeou uma maioria conservadora, que está finalmente a dar 'frutos' à luta antiaborto nos Estados Unidos.

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