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Harvard doa 100 milhões de dólares à reparação dos laços com escravatura

A Universidade de Harvard anunciou ir dedicar 100 milhões de dólares para investigar e expiar os seus laços extensos com a escravatura, informou na terça-feira o presidente da instituição.

Harvard doa 100 milhões de dólares à reparação dos laços com escravatura
Notícias ao Minuto

06:44 - 27/04/22 por Lusa

Mundo Investigação

Do plano de ação consta a identificação dos descendentes dos escravos que trabalharam nas instalações, para o fornecimento de apoios.

O presidente de Harvard, Lawrence Bacow, anunciou aquela verba por ocasião da divulgação de um relatório da universidade em que se detalham as muitas formas como a instituição beneficiou da escravatura e perpetuou a desigualdade racial.

Encomendado por Bacow, no documento apontou-se que a instituição, o seu pessoal e os seus líderes escravizaram mais de 70 pessoas - negras e nativas - desde a sua fundação, em 1636, até 1783. E alertou-se que o número "quase de certeza é uma estimativa por baixo".

Através do uso de registos históricos, os investigadores foram capaz4es de identificar dezenas de pessoas escravizadas pelo nome, bem como a sua ligação à universidade.

"Homens e mulheres serviram, em escravidão, presidentes e professores de Harvard e alimentaram e tomaram conta dos estudantes de Harvard", apuraram os investigadores.

"Para mais, através deste período e até bem dentro do século XIX, a universidade e os seus financiadores beneficiaram de extensos laços financeiros com a escravatura".

No documento, recomendou-se que a universidade "deve fazer um significativo compromisso financeiro e investir em remédios de dimensão igual ou superior ao de outras universidades". Mas no texto não se recomendaram reparações financeiras diretas e não há planos imediatos para este tipo de apoio.

Bacow disse que Harvard vai tentar reparar as suas más práticas através de "ensino, investigação e serviço" e adiantou que está a criar uma comissão para aplicar as sugestões do relatório.

No documento detalhou-se como a mais velha e rica universidade dos EUA beneficiou do comércio de escravos nos seus primórdios. Investiu diretamente nas indústrias do rum e açúcar nas Caraíbas e na do algodão e via-férrea nos EUA. Também beneficiou de doações feitas por quem tinha acumulado fortunas no comércio de escravos e nas indústrias que dependiam dele.

Mais tarde, depois de a escravatura ter sido abolida, académicos de relevo continuaram a promover conceitos que salientaram as ideias da supremacia branca. No relatório, citou-se, a propósito, o docente Louis Agassiz, que, no século XIX, promovia teorias desacreditadas sobre 'ciência racial' e eugenia. Outros académicos lideraram um programa de 'educação física', que recolhia medidas físicas dos estudantes, para elaborarem teorias eugénicas.

Na sua mensagem, Bacow disse que o que foi apurado era "perturbador e chocante" e reconheceu que a universidade "perpetuou práticas que eram profundamente imorais".

Com este documento, Harvard juntou-se a um número crescente de outras universidades dos EUA que estão a tomar medidas para reidentificar e corrigir o seu envolvimento com a escravatura.

A de Georgetown prometeu, em 2019, dedicar 400 mil dólares por ano para os descendentes dos escravos vendidos pela escola. O Seminário Teológico de Princeton criou um fundo de 27,6 milhões de dólares para reparações. A Universidade da Virgínia estabeleceu bolsas para os descendentes dos escravos.

Leia Também: António Guterres diz que "mentira da supremacia racial" está viva

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