Riccardo Marchi, investigador do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, afirma que "o resultado de Marine Le Pen é importante para o caso português" e para "estratégia" do Chega e do seu presidente, André Ventura, de "aproveitar a projeção internacional" da candidata de extrema-direita.
O investigador considerou que os "sucessos por parte de partidos de direita radical têm um efeito de normalização da direita radical" e apontou que o resultado de Le Pen na segunda volta das eleições presidenciais em França, que se disputa no domingo, "pode ter uma repercussão na forma como os eleitores de direita portugueses veem o Chega".
"O debate que existe em Portugal sobre o Chega poder ser um aliado de Governo acontece mais nas elites" porque "as bases não teriam problema com uma larga coligação de direita que inclua o Chega para derrubar um Governo socialista", considerou.
Também ouvida pela agência Lusa, Susana Salgado, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, alertou que "é difícil medir o impacto direto e exato" que o desfecho das eleições francesas poderá ter no futuro do Chega a nível eleitoral, mas antecipou uma "influência por exemplo em termos das agendas e dos tópicos" escolhidos, além da "forma como as coisas são abordadas, um tipo de discurso mais agressivo".
"Olhando para o possível crescimento do Chega em Portugal, o que diria é que a influência direta dos resultados em França será menor do que a influência da forma como o Governo PS exercer o seu mandato", salientou a investigadora.
Susana Salgado afirma que "o facto de a extrema-direita estar mais normalizada na Europa e eventualmente ter algum tipo de credibilidade, entre aspas, pode ajudar no fundo ao eventual crescimento do Chega", mas alerta que é necessário ter em conta "como dentro do país as coisas estão a ser resolvidas ou não", referindo ser necessário "mais algum tempo para fazer essa análise".
A politóloga concorda que um bom resultado de Marine Le Pen nas eleições presidenciais de domingo pode resultar "numa espécie de normalização da posição da extrema-direita no contexto europeu".
Já António Costa Pinto, investigador coordenador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e professor convidado no ISCTE, afirmou, em declarações à agência Lusa, que "é muito difícil extrapolar a conjuntura francesa para a conjuntura de outras democracias europeias".
E considerou que os resultados de Le Pen "não são nenhuma novidade em França" porque "o crescimento" do seu partido "tem sido consolidado ao longo do tempo".
"A tendência para o crescimento dos partidos populistas de direta radical parece óbvia em todos os países europeus", defendeu, e considerou que "não há efeitos de contágio sobre esse ponto de vista" dado que "o Chega não cresceu por causa de Le Pen".
António Costa Pinto afirmou também que uma vitória da candidata Marine Le Pen "evidentemente teria um grande impacto" a nível da realidade política europeia.
A segunda volta das eleições presidenciais francesas está marcada para domingo e será disputada entre o Presidente cessante, Emmanuel Macron, e Marine Le Pen.
Nas eleições do passado dia 10, o Presidente cessante obteve 27,8% dos votos, enquanto a candidata de extrema-direita recolheu 23,2% dos votos.
As sondagens mais recentes apontam um aumento da vantagem de Emmanuel Macron em relação a Marine Le Pen.
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