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Do "limbo" de um campo na Moldova, Olga vê um futuro em Portugal

Olga Syrbul diz-se num limbo, "sem passado nem presente", e com a vida arrancada de Berezanka, no sul da Ucrânia, vive agora num campo de refugiados na Moldova de olhos postos num futuro que pode passar por Portugal.

Do "limbo" de um campo na Moldova, Olga vê um futuro em Portugal
Notícias ao Minuto

08:04 - 06/04/22 por Lusa

Mundo Refugiados

"Portugal porque não? Tenho uma amiga que vive lá e diz-me bem... Só quero é sair desta situação. Faço qualquer coisa", diz à agência Lusa esta professora de inglês que fugiu de Berezanka, perto de Mykolaiv, cidade fustigada pelas tropas russas, onde deixou o marido e o gato, de nome Bucha.

"Ele é marinheiro, mas não pode sair. O que é que pode fazer um marinheiro sem mar? Está em casa à espera de ser convocado" para a segunda onda de mobilização geral, porque nunca foi militar. Em toda a vida, "só disparou três tiros. O que faz um homem desses numa guerra?", questiona.

Agora com dois filhos, de 02 e 08 anos, e a mãe a cargo, "com problemas mentais e a precisar de medicamentos", Olga diz-se pronta para tudo o que lhe apareça. "Vou limpar, trabalhar. Sou professora de inglês, mas faço o que for preciso".

"O meu mundo está ao contrário. O meu pai está lá, o meu marido está lá, para onde posso ir?", pergunta em jeito de desabafo.

A melhor amiga, que vivia em Mykolaiv, vive hoje na Crimeia, casou com um militar russo há dez anos, pouco antes da ocupação da península, em 2014.

"Seis dias depois da guerra, ligou-me a perguntar coisas normais, até como estava o tempo. Como se não houvesse uma guerra" , recorda Olga.

Olga retirou a mãe da amiga de Mykolaiv e levou-a para o campo de refugiados moldavo de Cosnita, de onde já saiu há uns dias para Itália, onde vive uma das outras filhas.

"Não compreendo. Não compreendo como é que eles [os que apoiam a Rússia] mentem. Ela ama mais o Putin que a própria mãe", desabafa, referindo-se à amiga.

Albina Bulat, 24 anos, concorreu a uma vaga de emprego no início do ano para gerir o campo de férias da aldeia de Cosnita. "Era uma coisa simples, sazonal, mas depois veio a guerra e mudámos tudo", diz a agora gestora do espaço, com duas dezenas de funcionários, todos voluntários, que já acolheu meio milhar de refugiados da Ucrânia desde 26 de fevereiro, dois dias depois da invasão.

Até agora sem quaisquer apoios estatais ou internacionais, Albina Bulat não se mostra preocupada. "Não somos uma Organização Não-Governamental, não somos funcionários públicos. Somos pessoas que não conseguiram ficar caladas e quietas".

"A burocracia tem-nos impedido de receber dinheiro do Estado", mas "Deus vai salvar-nos", confia a jovem gestora, atenta aos pormenores e que transformou o antigo campo de férias, onde também se celebraram casamentos, num ponto de chegada para quem foge à guerra.

"Recebemos muita gente de Palanca", fronteira internacional da Moldova com a Ucrânia, explicou. Apesar de a fronteira de Kuchuhan ser a mais próxima, o percurso implica uma passagem pela Transnístria, território moldavo controlado por um governo separatista prórrusso.

"Nunca recebemos gente de lá. Quanto muito é zona de passagem", explica Albina Bulat.

A maioria dos refugiados fica poucos dias e depois são reencaminhados para outros locais, mais a oeste.

Não é o caso de Olga Syrbul. Está há duas semanas no centro à espera de decidir o que fazer.

"Sou apenas uma pessoa normal, a maioria das pessoas quer viver em paz e ter uma vida normal. Ora, na Rússia, não podemos ter uma vida boa", diz, enquanto o filho mais pequeno, Ivan, se abraça à perna esquerda, como que a pedir para a mãe acabar a conversa.

"Só quero trabalhar, faço o que for preciso", insiste, para logo ir brincar com o filho.

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