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Junta militar e grupos rebeldes do Chade iniciam hoje negociações em Doha

A junta militar no poder no Chade desde a morte do Presidente Idriss Déby, alegadamente morto há dez meses num combate contra um grupo armado rebelde, inicia hoje, no Qatar, negociações há muito adiadas com dezenas de grupos rebeldes.

Junta militar e grupos rebeldes do Chade iniciam hoje negociações em Doha
Notícias ao Minuto

06:33 - 13/03/22 por Lusa

Mundo Chade

O "pré-diálogo de Doha", prometido há meses e inicialmente marcado para 27 de fevereiro, foi adiado em cima da hora para este domingo, 13 de março.

"O Qatar acolherá as conversações de paz chadianas no domingo 13 de março", anunciou em Doha Um tlaq Al-Qahtani, representante especial do ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar para o Contra-Terrorismo e Mediação na Resolução de Conflitos.

A cerimónia de abertura do evento decorrerá, porém, sem a presença de um número significativo dos 84 líderes e quadros de 44 grupos armados convidados, de acordo com um membro da mediação chadiana, porque não puderam deslocar-se desde a Líbia, Sudão e outros locais por falta de documentos de viagem, que não terão sido formalizados a tempo.

Um líder rebelde contactado por telefone assegurou à agência France-Presse que os organizadores lhe garantiram que a presença na abertura não era "uma obrigação" e que haverá "uma certa elasticidade".

O objetivo de Mahamat Idriss Déby Itno, o general com 38 anos, filho do chefe de Estado chadiano morto e autoproclamado Presidente do país em 20 de abril de 2021, à frente de uma junta de 15 generais, é falar com "todos" os rebeldes, incluindo a sua mais poderosa aliança, a Frente para a Alternância e a Concórdia no Chade (FACT, na sigla em francês), acusada de ter morto o seu pai.

A intenção manifestada por Mahamat Déby é iniciar no próximo dia 10 de maio um "diálogo nacional inclusivo" com as oposições políticas e armadas que assediaram o regime do seu pai durante os 30 anos em que governou o país com "mão de ferro", por forma a concretizar a promessa feita no dia em que tomou o poder de realizar eleições no prazo de 18 meses, renovável uma vez.

Este compromisso foi o argumento usado pela comunidade internacional - liderada pela França -- para endossar o novo homem forte do Chade, quando ao mesmo tempo sancionava os autores de outros golpes militares em África, nomeadamente no Mali, entre outros.

O exército chadiano é há quase uma década um pilar essencial da coligação franco-africana que combate os 'jihadistas' no Sahel.

Os rebeldes apresentaram, entre outras exigências, a restituição de bens alegadamente "saqueados", uma amnistia geral e a libertação de "prisioneiros de guerra", o que a junta militar no poder em Ndjamena já começou a fazer, ainda tenha até agora excluído muitos deles, nomeadamente membros da FACT.

Fontes diplomáticas em Doha dão conta de que um total de 130 participantes poderá marcar presença neste fórum. Com tantas vozes dissonantes entre os grupos, muitos deles rivais ou mesmo inimigos, prevê-se que as negociações serão difíceis.

Na passada quarta-feira, a apenas quatro dias da abertura deste "pré-diálogo de Doha", Mahamat Déby substituiu a comissão encarregada da mediação, liderada pelo antigo presidente (1979-82) Goukouni Weddeye, uma figura respeitada e neutra, por uma equipa liderada pelo seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Cherif Mahamat Zene.

A decisão foi mal acolhida pelos principais líderes rebeldes, que disseram ter plena confiança em Weddeye e viram a responsabilidade da mediação ser entregue a um ministro próximo do defunto marechal Déby e reconduzido num governo nomeado pelo seu filho.

Nenhum dos líderes contactados pela AFP, porém, afirmou que irá boicotar o encontro de Doha.

"Tínhamos dito que Weddeye era o homem certo por causa da sua probidade e experiência. Esta forma de fazer as coisas cria muita confusão", afirmou o líder da FACT, Mahamat Ali Mahdi, em declarações à agência de notícias francesa por telefone.

"Mas não vamos deixar a cadeira vazia, a FACT estará presente", garantiu.

Outro líder rebelde, que a AFP não identificou, foi mais pessimista, considerando que "90% dos membros do comité de mediação são contra o diálogo" e não se deslocam a Doha "pela paz", antes "já têm um acordo pré-escrito que farão assinar aqueles que quiserem regressar ao país".

"O diálogo de Doha permitirá que algumas pessoas que não têm homens no terreno assinem um simulacro de acordo para poderem regressar ao país", acrescentou ainda outro líder rebelde, igualmente sob condição de anonimato, e respeitando uma condição que terá sido solicitada pelos organizadores do fórum para que não falassem publicamente antes de Doha.

"Para além da garantia de segurança que lhes será dada para participarem no diálogo nacional inclusivo e de restituição dos seus confiscados, não devemos esperar qualquer desenvolvimento político importante", admitiu à AFP um membro da delegação governamental, também anonimamente.

Leia Também: HRW acusa Chade de matar 13 manifestantes pacíficos, Governo nega

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