Nuclear. Exigências dos EUA e da Rússia ameaçam atrasar acordo com Irão
O Irão acusou hoje os Estados Unidos de fazerem "novas exigências" para restaurar o acordo nuclear de 2015, dias depois de a Rússia ter pedido garantias adicionais que podem atrasar as negociações.
© Getty Images
Mundo Nuclear
"Não há uma justificação racional para algumas das novas exigências feitas pelos Estados Unidos", destacou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Hossein Amir-Abdollahian.
Para o governante, estas exigências contradizem o desejo, declarado por Washington, para uma "rápida conclusão do acordo".
As autoridades iranianas estão envolvidas há vários meses em conversações com as principais potências mundiais em Viena, com o objetivo de restaurar o Plano de Ação Global Conjunto (JCPOA, como é conhecido o acordo nuclear de 2015). Os Estados Unidos participam nas negociações de forma indireta.
Este pacto, realizado entre o Irão e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China), mais a Alemanha, permitia o levantamento de sanções internacionais contra Teerão em troca de rigorosos limites ao seu programa nuclear, com vista a impedir o país de se dotar da bomba atómica.
Os Estados Unidos abandonaram unilateralmente o acordo durante a administração de Donald Trump, em 2018. Um ano depois da decisão de Washington, Teerão começou a desrespeitar os limites impostos ao seu programa nuclear e tem enriquecido urânio a níveis cada vez mais próximos do necessário para criar uma arma nuclear.
Hossein Amir-Abdollahian não especificou hoje quais são os requisitos dos Estados Unidos, que foram transmitidos através do chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell.
O diplomata iraniano defendeu ainda que os Estados Unidos, que participam indiretamente nas negociações de Viena, não pode "enviar uma mensagem nova e diferente todos os dias" através da UE.
Por seu lado, Josep Borrell, pediu aos norte-americanos e iranianos para que "mostrem mais flexibilidade na troca de mensagens e façam esforços" para chegar a um acordo rapidamente, acrescentou um comunicado de imprensa de Teerão.
Também hoje, o secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão, Ali Shamkhani, alertou, através da rede social Twitter, que "as negociações de Viena estão a ficar cada vez mais complicadas, sem uma decisão política dos Estados Unidos".
Dias antes, Moscovo tinha referido que antes de apoiar um novo acordo, a Rússia pretendia obter garantias por escrito de Washington de que as sanções impostas agora devido ao conflito na Ucrânia não afetariam a sua cooperação económica e militar com Teerão.
Após as críticas dos europeus e norte-americanos para os atrasos esperados, o negociador-chefe russo, Mikhail Ulyanov, frisou que as negociações de Viena não estavam perto do fim antes de Moscovo fazer as suas exigências.
"Estão a tentar culpar-nos pela extensão das negociações. Mas estas não estavam nem perto da fase final", salientou na quarta-feira.
"Como qualquer outro participante, temos o direito a pedir algo (...) Temos o direito de proteger os nossos interesses no domínio nuclear e num contexto mais amplo", acrescentou, defendendo uma proteção das atuais e futuras sanções dos ocidentais a todas as relações económicas e comerciais entre Teerão e Moscovo.
Já o líder do Irão, aiatola Ali Khamenei, que tem a última palavra em questões sensíveis como o nuclear, garantiu hoje que o seu país não abre mão dos elementos que acredita fazerem a força do Irão, como o programa nuclear.
"Os avanços científicos em questões nucleares são necessários para atender às necessidades do país num futuro próximo, e se desistirmos deles, a quem e para onde devemos nos voltar nos próximos anos", questionou através do seu 'site' oficial.
Reduzir as capacidades defensivas do Irão como "o inimigo" deseja seria "amadorismo", atirou.
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