Ucrânia. Jornal independente russo pede apoio a jornalistas refugiados

A jornalista russa Galina Timchenko, fundadora do jornal independente Medusa, a operar no exílio, disse hoje que muitos jornalistas da Rússia estão a abandonar o país e precisam "desesperadamente" de apoio da União Europeia.   

PRZEMYSL, PODKARPACKIE, POLAND - 2022/02/28: People behind the border fence are waiting to leave the border area at the train station in Przemysl.
On the fifth day of the Russian invasion on Ukraine, thousands of asylum seekers arrive by trains to Przemy

© Getty Images

Lusa
10/03/2022 17:42 ‧ 10/03/2022 por Lusa

Mundo

Ucrânia/Rússia

"Os nossos jornalistas que saíram da Rússia para os países da União Europeia não têm vistos e, infelizmente, a União Europeia não está a mostrar empenhamento na atribuição de vistos de forma rápida. Eles (os jornalistas) estão em perigo e precisamos de apoio na obtenção de vistos, assim como nas transações bancárias", assinalou.

Responsável pela Meduza e exilada na Letónia há oito anos, Galina Timchenko participou hoje num debate 'online' sobre a sobrevivência do jornalismo independente na Rússia organizado pelo organismo Presseclub Concordia, com sede na capital austríaca.

Galina Timchenko disse que atualmente a principal preocupação do Medusa é a cobertura da guerra na Ucrânia para a sociedade russa, alertando que o regime do Presidente Vladimir Putin está a levar a cabo "o maior ataque" contra o jornalismo no país, provocando um êxodo de jornalistas para o estrangeiro.

No passado dia 04, os deputados russos aprovaram leis que permitem considerar a cobertura independente da invasão da Ucrânia como um crime de traição contra o Estado, punível com uma sentença de até 15 anos de prisão.

"Na quarta-feira, o governo russo anunciou que está a criar uma 'lista negra' com os nomes de todos os jornalistas que trabalharam no passado em agências internacionais e nos portais independentes. Os nossos jornalistas estão em perigo, mas continuamos a transmitir notícias", acrescentou Galina Timchenko.

O portal de notícias Meduza tem três repórteres a trabalhar na Ucrânia, mas os profissionais em Moscovo são obrigados a permanecer na "clandestinidade" porque "correm risco de vida" por relatarem "a verdade". 

"Nós continuamos a publicar notícias através de todas as plataformas, tal como há oito anos quando ocorreu a invasão russa do Donbass (leste da Ucrânia) e a anexação da Península (ucraniana) da Crimeia. Usamos 'news-letters', redes sociais ou sistemas de mensagens por telemóvel. Neste momento aumentámos a audiência para dois milhões de leitores, apesar do nosso portal estar bloqueado na Rússia, usamos todos os meios possíveis: Telegram (serviço de mensagens) ou o correio eletrónico", explicou. 

"O jornalismo na Rússia está a ser destruído, a palavra 'guerra' está proibida estando apenas autorizada a designação 'operação especial'" disse Timchenko, destacando que ainda há alguns focos de "resistência jornalística" na Rússia como o Novaia Gazeta, o portal Meduza e "outras pequenas publicações".   

No mesmo debate participou o jornalista Kirill Martynova, do jornal independente Novaia Gazeta, que na terça-feira publicou um artigo sobre a censura em tempos de guerra acompanhado de uma ilustração que considerou "histórica" - no atual contexto - e que mostra a explosão de uma bomba atómica sobre bailarinas do "Lago dos Cisnes", de Tchaikovsky.  

"Tratou-se de uma posição editorial muito forte porque na verdade não podemos fazer a cobertura da guerra", disse o jornalista Kirill Martynov. 

"Também temos alguns jornalistas no estrangeiro com as contas bancárias bloqueadas (devido às sanções internacionais contra os bancos russos) e sem 'estatuto legal' ou vistos apropriados. Era importante a União Europeia garantir a segurança dos nossos jornalistas que saíram da Rússia", frisou o subeditor do Novaia Gazeta.

A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 516 mortos e mais de 900 feridos entre a população civil e provocou a fuga de mais de 2,1 milhões de pessoas para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.

Leia Também: Guerra realça "ainda mais" importância dos jornalistas

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