"Não é fácil cortar à Rússia o seu sentido imperial"
A "prudência diplomática" deveria ter sido aplicada à Rússia no decurso da crise na Ucrânia e na questão da Crimeia, para evitar uma sensação de "humilhação" intolerável para um país com fortes convicções, defendeu hoje em Lisboa Adriano Moreira.
© Reuters
Mundo Adriano Moreira
"Não podemos avaliar as consequências do problema da Crimeia. É a situação em que digo que o imprevisto está à espera de uma oportunidade. Sei que não é fácil para um país como a Rússia cortar o sentido imperial", disse o académico, 91 anos, presidente do Instituto de Altos Estudos da Academia de Ciências de Lisboa, ao intervir como convidado no almoço-debate promovido pelo "International Club of Portugal", sob o lema "Conceito Estratégico Português".
Numa referência à crise na Ucrânia e à anexação da península da Crimeia pela Rússia, o académico e ensaísta considerou que o "único aspeto" em que foi denunciado o "sentido imperial" de Moscovo se relacionou com o Mar Negro "e à passagem para as águas quentes do Mediterrâneo".
Adriano Moreia sublinhou a importância dos cismas religiosos ao longo da história também para recordar a divisa da igreja russa, por vezes ignorada no ocidente: "O primeiro império caiu, com a tomada de Roma pelos bárbaros, o segundo império caiu quando Constantinopla caiu, o terceiro não cairá, o dos ortodoxos russos, de Moscovo".
Um registo milenar que não foi abandonado, antes "traduzido para soviético", vincou o também fundador do CDS.
E recordou a propósito: "A Rússia entendeu que trazia uma nova iluminação ao mundo inteiro. Quando caiu o regime soviético, o secretário-geral foi à missa. O conceito de que a Terceira Roma não cairá faz parte do ideário nacional da Rússia".
O professor admitiu ainda que a Rússia estará bem informada sobre atuais "debilidades" da União Europeia (UE), e escolheu a oportunidade.
"Neste momento não podemos fazer juízos sobre o consequencialismo do que aconteceu. A situação é esta. O que podemos dizer, com certeza, é que não é tranquilizante. Devemos estar preparados para isso, e por isso disse que talvez os financeiros que abundam, os economistas que temos em abundância, possam dizer-nos onde vamos buscar as migalhas dos orçamentos para responder a isto", declarou.
Ao justificar a sua linha de pensamento, Adrino Moreira admitiu que atualmente "sabe-se da maior parte dos fatores que vão influenciar o mundo".
"Não sabemos a estrutura do globalismo, designadamente porque os centros de decisão efetivos são desconhecidos. E os que são conhecidos não têm cobertura legal, como é o caso do G20", asseverou, antes de deixar um alerta: "A situação é grave, imprevisível, e contra o imprevisível não há política de cautelas que não tenha de ser assumida".
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