"Preocupa-nos a instabilidade que se verifica na região. Em 18 meses tivemos três golpes de Estado e uma tentativa falhada, mas que não deixa de mostrar instabilidade, insegurança e tentativa de fragilização, ainda mais, das instituições democráticas", começou por dizer o chefe de Estado cabo-verdiano, em conferência de imprensa, na cidade da Praia.
José Maria Neves reagia de viva voz, após um comunicado divulgado na terça-feira à noite, sobre a tentativa de golpe de Estado na Guiné-Bissau, tendo abordado também atos semelhantes, mas concretizados, no Mali, Burkina Faso e Guiné-Conacri nos últimos 18 meses.
Para o Presidente da República de Cabo Verde, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) deve avaliar "com profundidade" as causas dessa instabilidade na região e procurar soluções que levam à maior segurança, maior estabilidade e consolidação democrática.
"Evitando assim mais golpes ou tentativas de golpes de Estado que poderão levar à deterioração da nossa comunidade e da democracia e à crise da política na nossa região", afirmou, lembrando que a África Ocidental ainda tem outros desafios, como o terrorismo e o narcotráfico, que entendeu devem ser considerados.
"E também, globalmente, a melhoria da governança para que haja políticas públicas consistentes, orientadas para a solução dos problemas das pessoas, para o desenvolvimento sustentável da nossa região e se garantir a paz, a tranquilidade, em toda a região e em todo o continente africano", completou.
Relativamente à Guiné-Bissau, o chefe de Estado voltou a afirmar que falou com o seu homólogo guineense, Umaro Sissoco Embaló, que lhe garantiu que a situação está "sob controlo", embora ainda sob investigação.
"Estamos a aguardar mais esclarecimentos relativamente aos contornos, aos meandros da tentativa de golpes de Estado que se verificou ontem [terça-feira]. O nosso apelo é para que a gestão do pós-golpe se faça com a necessária contenção para se evitar mais violência", pediu.
Vários tiros foram ouvidos na terça-feira perto da hora de almoço junto ao Palácio do Governo da Guiné-Bissau onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e do primeiro-ministro, Nuno Nabiam.
Entretanto, segundo fonte governamental, militares entraram cerca das 17:20 no palácio do Governo e ordenaram a saída dos governantes que estavam no edifício.
A tentativa de golpe de Estado já foi condenada pela União Africana, pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), através da presidência angolana, pela CEDEAO, pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, por Portugal, São Tomé e Príncipe, Angola, entre outros países.
Em declarações aos jornalistas, no Palácio da Presidência, o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló afirmou ter-se tratado de um "ato bem preparado e organizado e que poderá também estar relacionado com gente relacionada com o tráfico de droga".
O ataque provou pelo menos seis mortos e quatro feridos, segundo fontes militares e médicas.
Fontes militares também confirmaram à Lusa que várias pessoas foram detidas.
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