Governo norueguês quer "exigências tangíveis" para os talibãs
O Governo norueguês garantiu querer apresentar "exigências tangíveis" aos talibãs, com quem negoceia em Oslo, sendo hoje o último dia da visita dos extremistas à Noruega, a primeira à Europa desde o regresso ao poder no Afeganistão.
© Reuters
Mundo Afeganistão
Uma delegação talibã liderada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Amir Khan Muttaqi, está, desde sábado, na Noruega para discutir a crise humanitária no Afeganistão, onde a fome ameaça mais de metade da população, devido sobretudo ao congelamento da ajuda internacional e às secas registadas no país.
O último dia de negociações entre os talibãs e diplomatas ocidentais começou com uma reunião bilateral com funcionários do Governo norueguês, focada sobretudo na situação humanitária no Afeganistão.
Os encontros começaram no domingo com conversas entre os talibãs e membros da sociedade civil afegã, seguidas, na segunda-feira, por conversas multilaterais com diplomatas da União Europeia, dos Estados Unidos, do Reino Unido, de França, de Itália e da anfitriã Noruega.
As conversas bilaterais incluirão, ainda hoje, organizações humanitárias independentes.
As reuniões estão a decorrer à porta fechada, num hotel nas montanhas perto da capital norueguesa, e devem cobrir todos os assuntos, desde a educação até à ajuda humanitária e maior inclusão.
Os encontros acontecem num momento crucial para o Afeganistão, já que as temperaturas glaciares que se fazem sentir no país estão a agravar a miséria que tem vindo a aumentar desde a queda do Governo apoiado pelos EUA e a tomada do poder pelos talibãs em agosto de 2021.
Grupos de ajuda e agências internacionais estimam que cerca de 23 milhões de pessoas, mais da metade do país, enfrentam a fome.
As pessoas têm recorrido à venda de bens para comprar comida, queimando móveis para se aquecerem e até vendendo os filhos.
As Nações Unidas conseguiram fornecer alguma liquidez e permitiram que a administração dos talibãs pagasse por algumas importações, incluindo eletricidade.
Face ao pedido dos extremistas de levantamento de quase 8,8 mil milhões de euros congelados pelos Estados Unidos e outros países ocidentais, as potências ocidentais deverão condicionar a cedência à garantia de cumprimento dos direitos das mulheres e raparigas do Afeganistão, juntamente com um pedido recorrente do Ocidente ao Governo talibã para que partilhe o poder com os grupos étnicos e religiosos minoritários do Afeganistão.
"Este não é o início de um processo aberto e infinito", afirmou o secretário de Estado norueguês, Henrik Thune.
"Vamos apresentar exigências tangíveis que possamos acompanhar e verificar se se cumprem", disse, em declarações à agência de notícias norueguesa NTB.
Afastados do poder em 2001, os talibãs recuperaram o controlo do Afeganistão em agosto passado, mas sem que tenham sido reconhecidos internacionalmente. Segundo os atuais responsáveis talibãs, a visita à Noruega serve como um passo para o reconhecimento internacional e o levantamento da suspensão das ajudas financeiras.
"O facto de ter vindo à Noruega (...) é um sucesso porque partilhamos o cenário internacional", congratulou-se Muttaqi na segunda-feira à margem de conversas com representantes de países ocidentais.
A Noruega alega que as discussões em curso não constituem uma "legitimação nem um reconhecimento" do Governo talibã, mas a decisão de receber uma delegação talibã foi fortemente criticada por muitos especialistas e membros da diáspora afegã.
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