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Ex-primeiro-ministro libanês Saad Hariri deixa de participar na política

Saad Hariri, antigo primeiro-ministro e principal líder sunita libanês, anunciou hoje que vai "suspender" a participação na vida política, devido à "influência iraniana" no país, à "desordem na cena internacional" e às "divisões internas". 

Ex-primeiro-ministro libanês Saad Hariri deixa de participar na política
Notícias ao Minuto

17:25 - 24/01/22 por Lusa

Mundo Líbano

Hariri, 50 anos, foi "empurrado" para a cena política após o assassínio do seu pai, o também ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, em 2005, e anunciou a decisão num breve discurso proferido em Beirute. 

O anúncio surgiu após uma série de reveses financeiros e políticos nos últimos anos, numa altura em que o Líbano é atingido pela pior crise socioeconómica da sua história. 

"Suspendo a minha participação na vida política e convido a minha família política do Movimento para o Futuro a seguir o meu caminho", declarou, apelando ao principal partido sunita, a que preside, a não apresentar candidatos às eleições. 

"Não há oportunidades positivas no Líbano devido à influência iraniana no país, à desordem no cenário internacional, às divisões internas e ao sectarismo e desintegração do Estado", argumentou Hariri, que não adiantou, porém, se voltará à vida política ativa no futuro.

A Arábia Saudita já foi o principal aliado regional de Hariri, antes de, nos últimos anos, o relacionamento azedar, pois Riade sentiu que era muito brando com o movimento xiita Hezbollah, partido que tem estado sempre no topo da vida política no Líbano. 

Peso pesado na política libanesa, o Hezbollah é armado e financiado pelo Irão xiita, grande rival regional da Arábia Saudita sunita, e é a única fação libanesa que manteve as armas após a guerra civil (1975-1990).

No Líbano, que está sujeito a repetidas crises políticas, Hariri já liderou três governos. 

Desde que chegou ao poder pela primeira vez em 2009, ganhou gradualmente a reputação de homem de compromissos.

Hariri apresentou a sua terceira renúncia cerca de duas semanas após os protestos populares contra a classe política, que começaram a 17 de outubro de 2019 e se aprofundaram após as explosões no porto de Beirute, a 04 de agosto de 2020, que provocaram mais de 200 mortes.

Apesar de nomeado a 22 de outubro de 2020 para formar um Governo, Haririri não conseguiu completar a missão devido ao ressentimento popular e às divisões políticas.

Nas últimas eleições de 2018, que consolidaram a influência do Hezbollah, o número de deputados do partido de Hariri caiu cerca de um terço.

Alguns analistas locais associaram o mau resultado eleitoral à queda da sua popularidade face às concessões políticas que fez, que segundo argumentou então Hariri, visaram a preservação da paz civil.

O anúncio de Hariri ocorre, também, no mesmo dia em que o Conselho de Ministros libanês se reuniu pela primeira vez em três meses, pondo fim ao impasse imposto desde outubro por alguns partidos, no meio de uma crescente pressão internacional para que Beirute lide com a grave crise económica.

Na sessão, o Presidente do Líbano, Michel Aoun, que presidiu o Conselho de Ministros no Palácio Presidencial, frisou que a "interrupção" no órgão afetou "negativamente" a regularidade dos trabalhos oficiais e agravou as "repercussões da situação" no país.

O conselho de Ministros não se reunia desde outubro passado devido à pressão dos partidos xiitas Hezbollah e Amal, supostamente dirigidas ao Executivo, para exigir o afastamento do responsável pela investigação judicial à explosão que, em 2020, causou mais de 200 mortes em Beirute.

Em causa está sobretudo a investigação a ex-ministros do Amal por suposta negligência na explosão de 04 de agosto de 2020, que as autoridades libanesas atribuem a um incêndio num depósito no porto onde se encontravam armazenadas cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amónio.

A violenta explosão deixou cerca de 300.000 pessoas desalojadas, mais de 200 mortos e 6.500 feridos, além de mais de duas dezenas de desaparecidos.

Ainda sem terem sido apontados responsáveis pela catástrofe, fruto de uma justiça inoperante, associada à ideia generalizada entre a população de que os políticos libaneses são corruptos, a crise política tem vindo a acentuar-se, face aos sucessivos desentendimentos entre os políticos, o que mergulhou ainda mais o país na então já existente grave crise económica.

A crise económica do Líbano está enraizada em décadas de corrupção e má gestão da classe política do país e nas disputas entre grupos rivais que, até agora, impedem as reformas exigidas pela comunidade internacional para libertar milhões de dólares em investimentos.

Leia Também: Líbano pode receber ajuda do FMI se fizer reformas

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