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Judaicos consideram sequestro em sinagoga como ato de ódio religioso

O sequestro de quatro pessoas no passado sábado numa sinagoga no Estado norte-americano do Texas, que segundo as autoridades policiais não visou a comunidade judaica, é interpretado por líderes judeus como um ataque de ódio religioso.

Judaicos consideram sequestro em sinagoga como ato de ódio religioso
Notícias ao Minuto

23:09 - 19/01/22 por Lusa

Mundo Texas

A tese de que o ataque perpetrado por Malik Faisal Akram, 44 anos, de nacionalidade britânica, abatido pela polícia, não teve motivação religiosa partiu do FBI, mas os sobreviventes dão corpo às preocupações de líderes judeus, referindo que o captor expressou crenças de que os judeus controlavam o mundo e tinham o poder de organizar a libertação de um prisioneiro.

As palavras de Malik Akram soaram muito familiares para líderes judeus e especialistas em ações terroristas, que encaram o ataque à congregação Beth Israel como mais um no número crescente de crimes de ódio antissemita, um sinal da necessidade contínua de vigilância e solidariedade inter-religiosa.

O sequestrador "pensou que poderia entrar numa sinagoga, e nós poderíamos falar com o 'Rabi Chefe da América' e assim conseguiria o que precisava", disse o rabino Charlie Cytron-Walker ao Forward, um portal de notícias judaico.

O impasse de uma hora terminou depois de o último refém ter logrado escapar da sinagoga de Colleyville e uma equipe de operações especiais do FBI entrou no local, abatendo Akram.

O ataque traz à memória recentes ataques mortais a sinagogas, incluindo a Árvore da Vida de Pittsburgh, em 2018, e o Chabad of Poway da Califórnia, em 2019.

Todavia, ao contrário destes ataques, perpetrados por assaltantes ligados a ideais supremacistas brancos que não fizerem reféns e procuraram atingir o maior número possível de pessoas, Akram queria que os reféns jogassem a sua influência para obter a libertação da neurocientista paquistanesa Aafia Siddiqui, de 49 anos.

A paquistanesa está a cumprir uma pena de 86 anos de cadeia num hospital-prisão em Fort Worth, perto de Dallas, também no Estado do Texas, por suspeita de ligações à Al-Qaida.

A neurocientista foi condenada por tentar matar tropas dos EUA no Afeganistão.

Jeffrey Cohen, outro dos reféns da sinagoga, disse que Akram "não foi lá para matar judeus", mas tentou usá-los acreditando que poderiam libertar Siddiqui.

Akram "acreditava que os judeus controlam tudo. Que poderíamos falar com o Presidente (dos Estados Unidos, Joe) Biden e fazer com que ele a libertasse", disse Cohen ao jornal Times of Israel.

Lorenzo Vidino, diretor do Programa de Extremismo da Universidade George Washington, disse que, embora apenas o próprio Akram conhecesse seus motivos, as suas palavras refletem "uma mentalidade equívoca e conspirativa".

"A ideia de que os judeus são esmagadoramente poderosos e controlam os Estados Unidos é dominante" em algumas fações políticas islâmicas, semelhantes às crenças entre os nacionalistas brancos, acrescentou.

O caso de Siddiqui é uma "causa conhecida e relevante" nessas fações. A própria Siddiqui expressou palavras "assustadoras" no seu julgamento, culpando Israel pela sua condenação e pedindo testes genéticos aos jurados para comprovar eventuais ligações judaicas, vincou.

O sequestro teve como resultado o amento da proteção policial em várias sinagogas e instituições judaicas em várias cidades norte-americanas, como Dallas, Nova Iorque e Los Angeles, para detetar qualquer possível ameaça antissemita.

O rabino Rick Jacobs, presidente da União para a Reforma do Judaísmo, entidade de que faz parte a congregação Beth Israel, observou que muçulmanos, cristãos e outros líderes religiosos rapidamente se reuniram para apoiar os congregantes.

"Embora o aumento do antissemitismo seja evidente, nunca como agora vivemos numa comunidade em que há mais solidariedade", disse ele.

Anna Eisen, presidente fundadora do Beth Israel, viveu essa proximidade, citando o apoio "de vizinhos, estranhos, igrejas, o governador (do Estados do Texas)" e outros.

"Sinto-me mais segura. Sei que agora faço parte desta comunidade e deste país", destacou.

O rabino Noah Farkas, líder e presidente do conselho de administração da Federação Judaica da Grande Los Angeles, disse ter falado com outros rabis após o incidente no Texas e muitos têm receios na condução das suas cerimónias.

"Hoje, ser judeu nos Estados Unidos, usar trajes rituais judaicos como o quipá ou uma estrela de David, é um ato de coragem, e eu diria de desafio também", salientou.

Leia Também: Libertados adolescentes detidos por ligações a ataque a sinagoga nos EUA

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