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Ambiente "tenso" no primeiro julgamento do movimento #MeToo na Grécia

Um treinador acusado de violar uma menor no âmbito da federação grega de Vela negou os factos no arranque do primeiro julgamento que resulta do movimento #MeToo e que decorreu esta quarta-feira, num ambiente "tenso", em Atenas.

Ambiente "tenso" no primeiro julgamento do movimento #MeToo na Grécia
Notícias ao Minuto

06:51 - 13/01/22 por Lusa

Mundo Grécia

Este caso é uma das muitas denúncias de agressão sexual desde que a campeã olímpica Sofia Bekatorou quebrou o silêncio, em dezembro de 2020, desencadeando na Grécia o movimento #MeToo, nascido nos Estados Unidos em 2018.

O técnico Triantafyllos Apostolou, de 38 anos, acusado de violar uma jovem desportista, quando esta tinha 11 anos, declarou-se inocente na abertura do julgamento, argumentando que as relações sexuais com a menor foram consentidas.

"Aconteceu várias vezes. É considerado violação quando acontece tantas vezes?", questionou o treinador dirigindo-se aos três juízes e quatro jurados.

"Tínhamos a intenção de casar, as [duas] famílias sabiam disso", acrescentou o arguido, sublinhando que "não aprovaria a violação de qualquer criatura do planeta".

Triantafyllos Apostolou é acusado de violação em série, agressão sexual a menor e peculato de menor, entre 2010 e 2013, quando a vítima tinha entre 11 e 13 anos, e pode ser condenado a 20 anos de prisão.

A jovem confessou ter tido várias relações sexuais não consentidas com o seu então treinador, 18 anos mais velho.

Agora com 21 anos, a jovem será chamada a tribunal em 26 de janeiro, durante uma audiência à porta fechada para proteger "a sua privacidade".

Vestida de preto e rodeada de vários membros da sua família, também vestidos de negro, a vítima prestou declarações à comunicação social, referindo que este é "um processo doloroso que está apenas a começar".

Mas "estamos aqui como uma família para lutar juntos", acrescentou, expressando "esperança" de que outros casos semelhantes sejam tornados públicos.

Numa entrevista recente ao canal grego ANT1 TV, a denunciante revelou que foi "violada sistematicamente" pelo acusado, que a "agrediu física e verbalmente" desde os 9 anos.

"Levei dez anos para entender que uma criança não tem culpa. Devemos quebrar o silêncio, punir os agressores e acabar com toda a estigmatização das vítimas de agressão sexual", sustentou.

A antiga campeã olímpica de vela, Sofia Bekatorou, revelou este caso à justiça após o consentimento da vítima, e será também chamada a tribunal para testemunhar.

A medalha de ouro em Atenas2004 e bronze em Pequim2008, que também esteve no tribunal na quarta-feira, descreveu o ambiente como particularmente "tenso" num julgamento "muito simbólico".

Na Grécia, o tema da violência sexual luta para sair da esfera privada e as revelações de Sofia Bekatorou, sobre as próprias agressões sexuais que sofreu, provocou na altura uma indignação generalizada no país e ajudou a que outras mulheres, incluindo a vice-campeã olímpica de salto em altura Niki Bakoyianni, fizessem denúncias, através da ashtag #MeTinSophia (#EstouComSofia).

Há pouco mais de um ano, a campeã olímpica revelou que em 1998, depois de se ter qualificado para os Jogos Sydney2000, então com 21 anos, terá sido violada no quarto de hotel por Aristidis Adamopoulos, ainda hoje vice-presidente da federação de vela.

Na quarta-feira, em frente ao tribunal, várias mulheres marcaram presença com cartazes.

Perante a escalada do movimento #MeToo, o governo conservador grego já endureceu as penas para agressores sexuais, ampliou o prazo para evitar a prescrição de queixas de agressões sexuais a menores e criou uma plataforma digital e linhas telefónicas de apoio às vítimas.

Leia Também: Deputado na origem do #Metoo tunisino condenado a um ano de prisão

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