Meteorologia

  • 16 ABRIL 2024
Tempo
22º
MIN 13º MÁX 26º

Chile elege novo Presidente entre contestação, pandemia e constituinte

O Chile, outrora considerado um "oásis latino-americano", viveu nos últimos dois anos uma crise social que torna a segunda volta das presidenciais do próximo domingo o ato eleitoral mais incerto desde o regresso do país à democracia.

Chile elege novo Presidente entre contestação, pandemia e constituinte
Notícias ao Minuto

17:32 - 17/12/21 por Lusa

Mundo Chile

Para trás, ficam os tempos em que o Chile era admirado pela sua estabilidade sociopolítica e a sua prosperidade económica: após dois anos de uma espiral de contestação social sem precedentes desde o fim da ditadura (1973-1990), uma pandemia que causou graves danos sanitários e económicos e um processo constituinte que poderá desmantelar o atual modelo económico, o país abrirá um novo capítulo no domingo, ao escolher entre o candidato de extrema-direita, José Antonio Kast, e o de esquerda, Gabriel Boric.

Dois modelos antagónicos competem nas urnas pela mão do ex-líder estudantil de esquerda Gabriel Boric e do advogado de extrema-direita José Antonio Kast, pondo fim a 30 anos de alternância política entre os dois blocos de centro que partilharam o poder desde o final da ditadura militar de Augusto Pinochet, o que faz deste escrutínio, juntamente com o referendo por uma nova Constituição de outubro de 2020, o mais importante da história recente do país.

Sistema de saúde universal e pensões de sobrevivência, feminismo e ambientalismo são as bandeiras de Boric, ao passo que Kast aposta no discurso anti-imigração, da família tradicional e do neoliberalismo.

Boric, de 35 anos e líder da Frente Ampla, representa a parte da sociedade chilena que quer "mudanças profundas" e que participou nos maciços protestos pela igualdade de 2019: quer melhores pensões, educação, saúde e põe muita ênfase no ambientalismo e no feminismo.

A primeira vez que a maioria dos chilenos ouviu falar dele foi durante as mobilizações estudantis de 2011 a favor de um sistema educativo mais justo e, desde então, conseguiu afirmar-se como "um líder forte" da esquerda.

O caso de Kast é muito diferente: católico fervoroso e pai de nove filhos, o candidato de extrema-direita parte de um clã familiar que teve laços políticos com a ditadura de Pinochet, um regime com o qual se mostrou complacente em diversas ocasiões, e é mais favorável à manutenção do 'statu quo' e da colocação dos valores conservadores e da família no centro de tudo.

É contra o casamento para toda a gente, o aborto em quaisquer circunstâncias e propõe escavar uma vala na fronteira para impedir a entrada de imigrantes, o que faz recordar o controverso discurso do ex-presidente norte-americano Donald Trump.

Segundo as últimas sondagens, Boric é o favorito para suceder ao conservador Sebastián Piñera em março de 2022, com entre cinco e 14 pontos percentuais de vantagem sobre o adversário.

Mas os especialistas alertam que a eleição se decidirá voto a voto, uma vez que caberá aos eleitores que na primeira volta votaram nos candidatos do centro, agora eliminados, escolher um dos dois ainda na corrida, e eles têm vindo a moderar o seu discurso por forma a captar esses votos em matérias como tributação e pensões.

Em termos económicos, a principal diferença entre Boric e Kast tem que ver com o papel do Estado: a perspetiva de Boric está alinhada com a de uma social-democracia europeia, que quer que o Estado garanta certos direitos, ao passo que Kast defende a preservação do atual modelo, muito marcado pelo papel mínimo do setor público.

O sistema chileno, que por herança da ditadura de Pinochet é acentuadamente liberal e com serviços básicos privatizados, fez com que o Chile fosse o país com mais rendimento 'per capita' da América do Sul, embora também o tenha tornado o país com maior desigualdade, de acordo com a base de dados independente World Inequality Database (WID).

Outro dos aspetos fundamentais será o futuro do processo constituinte, que arrancou em julho passado como via política para amainar a crise social de 2019: Boric tem mais espírito de cooperação, Kast é um cético da mudança constitucional e votou contra no referendo.

O novo Governo desempenhará um papel fundamental nesse processo, porque terá a seu cargo aspetos administrativos e orçamentais e poderá mesmo condicionar o resultado do referendo final de 2022, no qual os cidadãos chilenos deverão pronunciar-se sobre se aprovam ou não a nova Constituição do país.

Leia Também: Peru vai pedir ao Chile ampliação da convenção de extradição de Fujimori

Recomendados para si

;
Campo obrigatório