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Polícia detém 16 membros do grupo Arte Moris "por desobediência"

A polícia timorense deteve hoje para identificação 16 elementos do grupo artístico Arte Moris, por desobediência, alegando que estes atravessaram um cordão policial no complexo anteriormente ocupado pelo grupo.

Polícia detém 16 membros do grupo Arte Moris "por desobediência"
Notícias ao Minuto

09:04 - 16/12/21 por Lusa

Mundo Timor-Leste

Os jovens, 13 rapazes e três raparigas, foram detidos por elementos dos Serviços de Investigação Criminal (SIC) e estão agora retidos para identificação "durante 12 horas" na esquadra distrital da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) em Caicoli, em Dili.

No local o comandante do SIC, inspetor Mariano Soares, escusou-se a avançar à Lusa qualquer pormenor sobre o caso, por a investigação ainda estar a decorrer.

Fonte policial adiantou à Lusa que os jovens vão ficar retidos "para identificação durante 12 horas" e se "houver indícios suficientes" a retenção poderá passar a detenção "até 72 horas" antes da apresentação ao juiz.

O responsável da Arte Moris Iliwatu Danadere disse à Lusa que os jovens foram detidos por estarem no interior no complexo de onde o grupo artístico foi despejado, ao fim de 18 anos.

"A polícia estabeleceu um cordão na entrada da Arte Moris. Apesar de terem a linha policial, pedi quem seria responsável pelo equipamento, arte e resto do material. Eles disseram que não garantiam essa segurança", afirmou.

"O responsável do cordão policial disse para falar com o comandante da esquadra de Comoro, que nos deixou entrar por outro lado, e continuar a retirar o material do local. Fizemos isso", acrescentou.

Danadere disse ter estado no local durante a noite para garantir a segurança, tendo saído cedo esta manhã e, pouco tempo depois, a polícia deteve os jovens. "Estamos à espera do nosso advogado para ajudar a resolver esta situação", indicou.

Já este mês, as autoridades timorenses procederam ao despejo forçado do complexo que estava a ser usado pela Arte Moris, implementando uma decisão do primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, de atribuir o espaço ao Conselho de Combatentes de Libertação Nacional (CCLN).

A ação de despejo suscitou fortes críticas em Timor-Leste, incluindo do ex-Presidente José Ramos-Horta, que considerou a decisão e a forma como foi implementada um crime de lesa-arte.

O também ex-Presidente Xanana Gusmão disse à Lusa, em Lisboa, estar "muito triste" com o despejo, considerando que é uma decisão das autoridades timorenses, que "não prestigia os setores da arte e da cultura".

"Fico muito triste, fico muito triste na medida em que foi um ato que, eu não queria usar de vandalismo, mas um ato que não prestigia o setor da arte, da cultura", afirmou Xanana Gusmão, à margem de uma palestra em Lisboa sobre "A construção do Estado nos países frágeis no pós-covid: Desafios e oportunidades".

A Arte Moris e uma organização não governamental que lida com questões relacionadas com expropriações, Redi Ba Rai, acusaram o Ministério da Justiça timorense de violar a lei ao executar o despejo administrativo.

Num comunicado conjunto, as duas organizações consideraram que o Governo "não promoveu uma expropriação amigável", nem fez qualquer declaração de utilidade pública sobre o complexo, que devia ter sido publicada no Jornal da República.

O governo timorense defendeu já as suas ações, com o secretário de Estado das Terras e Propriedades timorense a explicar no parlamento que se tentou resolver a situação, mas sem que a Arte Moris aceitasse alternativas propostas.

Mário Ximenes, que respondia a questões dos deputados sobre o despejo em curso no complexo que a Arte Moris está a usar desde 2003, sublinhou que a Arte Moris é uma instituição privada e, como tal, o Estado não lhe pode fazer concessão de terrenos do Estado.

"A Arte Moris não é uma instituição do Estado. É uma instituição privada e produtiva e pode procurar fundos para sustentar a sua vida operacional e atividades diárias", afirmou.

Motivo pelo qual, explicou, o Governo procurou desde outubro de 2019, negociar com a Arte Moris, tendo executado o despejo apenas este mês, explicou.

"Notificamos a Arte Moris três vezes, a 30 dias, a 15 dias e depois a cinco dias. Todos esses prazos passaram e por isso é que usamos meios para os retirar de lá obrigatoriamente. Esta é que é a justificação", explicou.

"Mas é impossível ao Governo fazer o que a Arte Moris quer, porque a situação não permite ao Governo seguir a vontade deles. Concordamos em encontrar um lugar alternativo, um armazém grande. As condições não são muito boas, mas foi o que demos. E a Arte Moris não quis", sustentou.

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