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ONG quer investigação a cumplicidade francesa no genocídio no Ruanda

A associação Survie pediu à justiça francesa para alargar às atividades do mercenário Bob Denard, morto em 2007, a investigação sobre o papel de Paul Barril, oficial de uma unidade de elite, no genocídio no Ruanda.

ONG quer investigação a cumplicidade francesa no genocídio no Ruanda
Notícias ao Minuto

15:01 - 10/12/21 por Lusa

Mundo Ruanda

Uma fonte citada pela agência France-Presse revelou que a organização não-governamental (ONG) Survie, que se constituiu parte civil no processo, solicitou no final de novembro ao juiz de instrução parisiense encarregado das investigações que realizasse novos atos nesta investigação, aberta após uma denúncia por cumplicidade no genocídio e apresentada em 2013.

A Survie baseou o pedido em notas da Direção Geral de Segurança Externa (DGSE), datadas de 1994, depositadas nos arquivos nacionais e recentemente tornadas públicas após a publicação do relatório dos historiadores da comissão Duclert, que reconheceu as "responsabilidades avassaladoras" da França no genocídio de 1994.

Algumas dessas notas evocam a proximidade entre a família do Presidente ruandês Juvénal Habyarimana, que morreu em 06 de abril de 1994 no ataque que visou o seu avião e deu início ao genocídio contra os tutsis, e o mercenário francês Bob Denard, durante o período dos massacres, que provocaram pelo menos cerca de 800.000 mortos em três meses.

Paul Barril, capitão e antigo número dois da unidade de elite da polícia francesa Grupo de Intervenção da Gendarmeria Nacional (GICN), colocado no Palácio do Eliseu [sede da Presidência francesa] e que integrou as equipas de segurança de chefes de Estado africanos na década de 1980, também manteve contacto com a família Habyarimana e esteve no Ruanda durante os massacres.

A investigação que visa Paul Barril pretende, designadamente, confirmar se assinou em 28 de maio de 1994, no auge do genocídio, um contrato de treino militar e assessoria com o governo provisório de Ruanda (GIR) ao mesmo tempo que vigorava um embargo internacional imposto pelas Nações Unidas.

Ouvido pela primeira vez em maio de 2020, Paul Barril não foi acusado e essa possibilidade diminui à medida que o seu estado de saúde se deteriora.

A Survie pede ao juiz que junte as notas da DGSE ao processo e investigue o rasto do mercenário, reconhecendo que embora a morte de Denard inviabiliza a sua responsabilização as investigações permitirão apurar a responsabilidade penal de quem colaborou com ele.

A associação também questiona o facto de se as mais altas autoridades políticas e militares francesas tinham conhecimento do conteúdo das notas da DGSE.

"O que fizeram eles para acabar com as graves violações da lei em pleno genocídio? E os mercenários receberam ordens ou seguiram uma 'estratégia indireta' das autoridades francesas no local", questiona Eric Plouvier, advogado da Survie, citado pela agência noticiosa.

No seu requerimento, a Survie lamenta que desde o início da investigação judicial, há oito anos, os juízes não tenham realizado nenhuma investigação para "determinar a cumplicidade no seio do Estado francês".

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