ONU denuncia "ineficácia" na investigação de 95.000 desaparecidos
Um comité da ONU contra os desaparecimentos forçados denunciou a "ineficácia" das autoridades na investigação das cerca de 95.000 pessoas desaparecidas no México e a "impunidade" dos autores destes raptos e homicídios, com frequência ligados ao tráfico de droga.
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Mundo México
"Lamentamos constatar que ainda há desaparecimentos generalizados numa grande parte do território do Estado para os quais, como assinalámos em 2015, prevalece a impunidade", disse a representante do comité da Organização das Nações Unidas (ONU) Carmen Rosa Villa aos repórteres na sexta-feira, no final de uma visita de dez dias ao México.
Mais de cem pessoas desapareceram "durante a nossa estadia", acrescentou a representante do comité, que chegou à Cidade do México em meados deste mês. Um total de 95.121 pessoas estão listadas no Registo Nacional de Pessoas Desaparecidas e Não Contabilizadas.
O comité da ONU criticou a "ineficiência" das investigações e a "arbitrariedade" das decisões de acusação em casos de desaparecimento, num país onde as forças de segurança e o poder judicial são suspeitos de estarem infiltrados por redes criminosas de tráfico de droga em vários dos 32 estados.
O México deve adotar "uma política nacional de prevenção para erradicar os desaparecimentos, uma política que envolva todas as autoridades e que torne efetivo o direito das vítimas à verdade, à justiça e à reparação", acrescentou a representante do comité da ONU, que visitou o México pela primeira vez.
A comissão considerou que esta primeira visita marcou uma "abertura" ao apoio internacional do Presidente Andres Manuel Lopez Obrador, no poder desde finais de 2018.
O número de desaparecimentos aumentou tanto como o número de homicídios desde 2006, quando o ex-presidente Felipe Calderon declarou uma guerra total contra o tráfico de droga.
"O crime organizado continua a ser uma das principais causas dos desaparecimentos", nota Laura Atuesta do Centro de Investigação e Perícia Económica (Cide), num importante relatório sobre os desaparecidos no México que a AFP irá publicar na segunda-feira.
Existem valas comuns no norte do país, de acordo com a Comissão Nacional de Investigação (CNB), que estima, por exemplo, que foram encontrados 500 quilos de restos humanos desde 2017 perto de Matamoros, na fronteira com o Texas.
Em Guadalajara, a segunda maior cidade do país, uma encruzilhada foi rebatizada de Roundabout of the Disappeared (Rotunda dos Desaparecidos, numa tradução livre), com fotografias de jovens desaparecidos. Guadalajara é a capital de Jalisco, o estado mais afetado por desaparecimentos forçados (mais de 12.000).
É um estado onde estão presentes os cartéis mais poderosos do país (Jalisco New Generation e Sinaloa).
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