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Hondurenhos elegem no domingo novo Presidente em clima de violência

Mais de cinco milhões de eleitores escolhem no domingo o novo Presidente das Honduras, em clima de violência generalizada e com gangues de traficantes de droga cujas teias de corrupção chegaram às mais altas esferas do Estado.

Hondurenhos elegem no domingo novo Presidente em clima de violência
Notícias ao Minuto

07:55 - 27/11/21 por Lusa

Mundo Honduras

A expectativa é que estas eleições possam pôr fim à crise política que grassa no país desde o golpe de Estado de 2009, que depôs o Presidente de esquerda Manuel Zelaya, agudizada com a reeleição, em 2017, do Presidente da direita conservadora Juan Orlando Hernández, fortemente rejeitado por diversos setores da sociedade e acusado pelos principais líderes da oposição de corrupção e envolvimento no tráfico de droga.

Dos 13 candidatos presidenciais, Xiomara Castro, líder do partido de esquerda LIBRE e mulher do ex-presidente Zelaya, é a favorita, de acordo com várias sondagens, mas o Partido Nacional (PN, partido no poder), representado pelo presidente da câmara da capital, Tegucigalpa, Nasry Asfura, ainda não disse a última palavra.

"Após 12 anos de Partido Nacional no poder, marcados pela corrupção generalizada e pela criminalidade violenta, a maioria dos hondurenhos está farta e parece querer uma mudança", sustentou o presidente do centro de análise política Diálogo Interamericano, Michael Shifter.

"Mas a máquina do Partido Nacional não deve ser subestimada e há interesses poderosos que vão fazer tudo o que puderem para impedir [Xiomara] Castro de tomar as rédeas do país", advertiu.

Sentindo os ventos a mudarem, o PN endureceu o tom da sua campanha, chamando à líder do LIBRE "comunista" e criticando as suas propostas de legalização do aborto e do casamento homossexual, temas particularmente polémicos no pequeno país conservador, cuja população divide as suas crenças entre o catolicismo e o evangelismo.

Além disso, o partido de direita é conhecido por não rejeitar recorrer à fraude para ganhar eleições.

Em 2013, o Presidente cessante bateu por uma estreita margem Xiomara Castro e, em seguida, contornou a Constituição para poder candidatar-se a um segundo mandato em 2017.

A sua questionável reeleição por pouco, contra a celebridade televisiva Salvador Nasralla, desencadeou violentos protestos populares.

O escrutínio de domingo anuncia-se renhido e o período pós-eleitoral, tenso.

Se Xiomara Castro vencer por uma curta margem, "o Partido Nacional gritará 'fraude'", alertou Victor Meza, diretor de uma organização não-governamental (ONG) pró-democracia das Honduras.

Em contrapartida, se Nasry Asfura ganhar, não há qualquer dúvida de que "a oposição não aceitará", acrescentou.

Mais de metade dos quase 10 milhões de habitantes do país vivem abaixo do limiar da pobreza, e a pandemia de covid-19 mais não fez que agravar a miséria.

O desemprego quase duplicou num ano, passando de 5,7% em 2019 para 10,9% em 2020.

"O mais importante é que [o Presidente ou a Presidente] traga emprego, educação, ajude os pobres a sair da pobreza e, esperemos, que não haja distúrbios", declarou Wilson García, um vendedor ambulante de 37 anos.

"Esperamos que as eleições sejam pacíficas, que não haja problemas, que tudo seja transparente e que todos os candidatos" aceitem os resultados, acrescentou Delia Flores, também vendedora ambulante, de 65 anos.

Contudo, as propostas concretas estiveram quase totalmente ausentes da campanha eleitoral.

O candidato Yani Rosenthal, do Partido Liberal (centro-direita), terceiro nas sondagens, apenas prometeu dar mensalmente a cada adulto um vale de compras no valor de 60 dólares (53 euros).

Mas essa proposta é encarada com ceticismo, por ser feita por um candidato que cumpriu três anos de prisão nos Estados Unidos por branqueamento de dinheiro da droga.

"Os políticos prometem e prometem, mas eu não vejo nada a acontecer", comentou amargamente José Velásquez, de 50 anos.

Quem quer que seja o vencedor, "a lista dos desafios é enorme, sendo o primeiro deles reconstruir as instituições democráticas do país", sublinhou Victor Meza.

Nos últimos dois anos, o parlamento dissolveu uma comissão anticorrupção apoiada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e adotou um novo Código Penal prevendo penas mais leves para crimes de corrupção e tráfico de droga. É sabido que muitos parlamentares eram alvo de inquéritos por parte dessa comissão.

Traficantes de droga detidos nos Estados Unidos implicaram o Presidente Hernández, ao passo que Tony Hernández, seu irmão, foi condenado por um tribunal federal norte-americano a prisão perpétua pelo seu envolvimento no tráfico de 185 toneladas de cocaína.

As Honduras são "um Estado em processo de decomposição, parcialmente nas mãos do crime organizado", sentenciou o diretor da ONG pró-democracia hondurenha.

Leia Também: ONU pede ambiente pacífico e sem medo para eleições nas Honduras

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