Presidente argentino usa marcha para relançar Governo e negar derrota
Apesar de o seu partido ter sofrido uma derrota histórica nas legislativas do passado fim de semana, o Presidente argentino, Alberto Fernández, garante que "ninguém o venceu" e lançou já a sua campanha para 2023.
© Reuters
Mundo Argentina
"Não se esqueçam que o triunfo não é vencer, mas nunca se dar por vencido. Ninguém nos venceu", afirmou Alberto Fernández perante 100 mil pessoas na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede do Governo argentino.
"Teremos que fazer o necessário para que em 2023 tenhamos um triunfo rotundo. Damos início a esta segunda etapa do nosso governo", indicou Fernández, contrariando o resultado eleitoral de domingo (14), quando o Peronismo sofreu a maior derrota eleitoral desde 1983, ano em que país recuperou a democracia.
O Presidente argentino foi o único orador no ato "Todos Unidos Venceremos" organizado pelo Governo em resposta à derrota eleitoral.
Alberto Fernández convocou sindicatos, agrupações de militantes e organizações sociais, todos alinhados com o Peronismo e financiados pelo Governo, a "festejarem o triunfo", adotando uma linha de negação do resultado.
"O Governo pode tentar instalar uma ficção de que não houve uma derrota. O problema é que essa negação piora a credibilidade do Presidente e gera um desafio de governabilidade que Alberto Fernández não parece registar", avalia à Lusa o cientista político Sergio Berensztein.
"Alberto Fernández, ao contrário do que se esperava depois de uma derrota, pretende dissimular a sua franqueza com um ataque narrativo de triunfo e lança a sua campanha para 2023", observa Berensztein.
Com a manifestação, sindicatos, militantes e movimentos sociais visam blindar o Presidente, enfraquecido pelo resultado das urnas, quando ainda restam dois anos de mandato.
"O Governo adotou um relato épico de vitória para encobrir a realidade. É a tática da negação: repetir uma mentira para criar a sensação de que não houve uma derrota. Alberto Fernández escolheu governar a partir de um lugar cínico", explica à Lusa o analista político, Jorge Giacobbe, especialista em opinião pública.
Segundo a última sondagem de Giacobbe, Alberto Fernández conta com apenas 15,8% de imagem positiva.
Nas eleições legislativas de domingo, o Governo obteve 33% dos votos, enquanto os restantes 67% foram para forças opositoras, destacando a coligação Juntos pela Mudança, liderada pelo ex-Presidente Mauricio Macri (2015-2019), que obteve 42%.
Para ser eleito Presidente na Argentina, bastam 45% dos votos ou 40% desde que haja uma diferença de dez pontos sobre o segundo colocado. Se a eleição de domingo fosse presidencial, a oposição teria ficado a três pontos de vencer em primeira volta ou a um ponto de ganhar pela diferença.
Pela primeira vez, desde 1983, o Peronismo perdeu o controlo sobre o Parlamento.
Mesmo assim, Alberto Fernández classificou o resultado como "um triunfo" e membros do seu Governo começaram a falar sobre reeleição.
"Quando dizem que ganharam, fico muito preocupado porque isso indica que não vão fazer uma correção no rumo", interpretou o governador do Distrito Federal, Horacio Rodríguez Larreta, um dos líderes da oposição.
"É muito estranho que marchem à Praça de Maio para festejar uma derrota", refletiu.
O resultado eleitoral deveria afastar o temido cenário de uma radicalização e levar o governo ao pragmatismo para corrigir o rumo de uma economia com graves problemas.
Foi assim que os mercados interpretaram na segunda-feira, quando acumularam altas. No entanto, com a negação da derrota, o Governo acrescentou um elemento inesperado, abrindo um panorama de incertezas.
Desde terça-feira, as ações de empresas argentinas caem e os títulos públicos do país aumentam a um nível de "default".
A agência classificadora de risco Moody's alertou sobre a falta de credibilidade do Governo para adotar medidas de correção.
"As divisões políticas na coligação de Governo provavelmente enfraqueçam a capacidade de adotar medidas eficazes para reduzir os grandes desequilíbrios macroeconómicos do país", indicou o vice-presidente Gabriel Torres da Moody's.
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