Meteorologia

  • 28 MARçO 2024
Tempo
14º
MIN 11º MÁX 17º

Repressão policial contra manifestantes na Nigéria em 2020 foi "massacre"

Um painel constituído há um ano para investigar os abusos da polícia nigeriana contra civis concluiu que os acontecimentos de 20 de outubro de 2020 numa portagem na cidade de Lagos podem ser considerados como um "massacre".

Repressão policial contra manifestantes na Nigéria em 2020 foi "massacre"
Notícias ao Minuto

12:50 - 16/11/21 por Lusa

Mundo Nigéria

"Na portagem de Lekki, membros do exército nigeriano dispararam, feriram e mataram manifestantes desarmados, indefesos e desvalidos, sem provocação ou justificação (...) e a forma de assalto e assassinato pode, no contexto, ser descrita como um massacre", afirma o relatório apresentado ontem pelo painel ao governo do Estado de Lagos, de acordo com os meios de comunicação locais hoje.

O relatório foi apresentado pouco mais de um ano após grandes mobilizações da população contra a brutalidade policial nas ruas de várias cidades nigerianas.

O movimento, conhecido como "End SARS", surgiu em outubro do ano passado para exigir o desmantelamento - que acabou por ter lugar - da unidade policial conhecida por essa sigla, a Brigada Especial Antirroubo da Polícia Nigeriana, acusada de detenções arbitrárias, torturas e execuções extrajudiciais.

Os protestos foram severamente reprimidos pelas forças de segurança, fazendo, pelo menos, 56 mortos - incluindo manifestantes, membros das forças armadas e provocadores, alegadamente contratados pelas autoridades -- segundo a Amnistia Internacional na altura.

No dia mais sangrento de entre vários episódios ao longo de semanas, em 20 de outubro de 2020, pelo menos 12 manifestantes foram mortos numa cabina de portagem na cidade de Lekki e no distrito de Alausa, ambos dentro do perímetro de Lagos, uma megacidade com 21 milhões de habitantes, quando a polícia abriu fogo contra manifestantes pacíficos.

De acordo com investigações levadas a cabo pela organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW), primeiro os militares cercaram os manifestantes em protesto e dispararam para o ar e para a multidão, depois a polícia ocorreu ao local e voltou a disparar contra os manifestantes.

Um dia antes destes eventos, tinha sido criado um painel judicial de inquérito sobre abusos relacionados com a SARS no estado de Lagos, com o objetivo de rever as queixas de violência e execuções extrajudiciais ali cometidas.

Segundo o relatório produzido por esta entidade apresentado ontem, os militares impediram as ambulâncias de prestar assistência médica aos feridos e tentaram esconder as suas ações, recolhendo munições espalhadas e retirando corpos, que transportaram em carrinhas militares.

O painel também acusa a empresa pública que gere e cobra portagens em Lekki, a Lekki Concession Company, de dificultar a investigação levada a cabo pelos seus membros ao "recusar-se a fornecer algumas informações e provas úteis e vitais", bem como adulterando gravações relativas à noite do incidente.

O membro do painel e advogado de direitos humanos Ebun Olu Adegboruwa, citado pelos meios de comunicação locais, advertiu que ele próprio publicará o conteúdo do relatório, caso as autoridades do estado de Lagos não venham a fazê-lo.

Se o governador do estado de Lagos aceitar as recomendações do painel, o Supremo Tribunal nigeriano deverá julgá-las, embora os advogados avisem que estas apenas poderão vir a ser executadas se as forças de segurança despedirem primeiro os oficiais responsáveis pela violência.

Na sequência dos protestos, nenhum perpetrador de violências foi até hoje conduzido perante a justiça e a brutalidade policial continua a ser um problema sistémico na Nigéria, o país mais populoso de África, apesar de o Governo nigeriano continuamente reiterar as promessas de mudar este estado de coisas.

Leia Também: Pelo menos 15 mortos no mais recente ataque de homens armados na Nigéria

Recomendados para si

;
Campo obrigatório