A revelação desta ONG irlandesa marca pela primeira vez o uso do polémico programa informático Pegasus desenvolvido pela NSO Group na vigilância de ativistas palestinianos.
O programa foi usado contra jornalistas, ativistas de direitos humanos e dissidentes políticos em vários pontos do mundo, nomeadamente em Marrocos, França, México ou Arábia Saudita, desde 2015.
O programa Pegasus consegue introduzir-se nos telemóveis e aceder a toda a informação guardada, vigiando também as comunicações em tempo real.
De acordo com Mohamed al-Maskati, investigador da Frontline Defenders, ainda não se sabe quem introduziu o programa Pegasus nos telefones móveis dos seis ativistas palestinianos.
Pouco depois de ter sido detetado o uso de Pegasus nos telemóveis de dois membros do grupo de seis ativistas, o ministro da Defesa de Israel declarou que os indivíduos pertencem a "organizações terroristas".
Segundo a Frontline Defenders, pelo menos dois dos seis ativistas consideram Israel como o principal suspeito da operação de vigilância e acreditam que a acusação de "terrorismo" foi intencionalmente usada para desacreditar a revelação.
Até ao momento, no caso concreto dos seis ativistas palestinianos, Israel não forneceu provas sobre a acusação de "terrorismo".
De acordo com a Frontline Defenders, três dos seis trabalham para grupos ligados à sociedade civil, mas os outros três pediram para que se manterem no anonimato.
As primeiras denúncias sobre o programa de vigilância desenvolvido em Israel partiram do grupo Citizen Lab, da universidade canadiana de Toronto, e de relatórios da Amnistia Internacional.
Estas últimas revelações sobre o uso do programa informático surgem numa altura em que a atividade da empresa NSO Group tem sido fortemente criticada, sobretudo nos Estados Unidos.
Na semana passada, a Administração Biden colocou a NSO Group na "lista negra, assim como uma outra empresa israelita - Candiru - que desenvolve o mesmo tipo de programas de vigilância digital e que também foi proibida de usar a tecnologia em território norte-americano.
Questionada sobre o eventual uso do programa Pegasus contra os ativistas palestinianos, a companhia NSO Group disse, em comunicado, que por motivos contratuais e de "segurança nacional", de cada um dos clientes, não identifica os países que usam o programa.
A venda do equipamento de vigilância só é permitida a Estados que usam o Pegasus no combate "ao terrorismo e crimes sérios".
Falando sob anonimato um membro dos serviços de Defesa de Israel disse que as acusações sobre o alegado envolvimento dos seis palestinianos em atividades terroristas têm como base provas "sólidas", mas acrescentou que as acusações sobre o uso do Pegasus são "infundadas".
O economista Ubai Aboudi, 37 anos, palestiniano com cidadania norte-americano, foi um dos seis ativistas vigiados, de acordo com a última denúncia.
Aboudi chefia o Centro de Investigação e Desenvolvimento Bisan, em Ramallah, na Cisjordânia, sendo que o organismo é considerado "terrorista" pelo Ministério da Defesa de Israel.
Os outros dois supostos alvos de vigilância são o investigador Ghassan Halaika, que integra o grupo Al-Haq, e o procurador Salah Hammouri, que pertence ao grupo Addameer, uma organização de defesa dos direitos humanos.
Os restantes três pertencem às organizações Defesa Internacional da Infância --- Palestina, União de Comités de Mulheres Palestinianas e União de Comités de Trabalho Agrícola.
Aboudi disse que perdeu o "sentido de segurança" depois de saber que o telefone estava a ser vigiado, o que considerou um ato "desumano", acusando Israel de estar a usar "a 'chancela' do terrorismo" contra os grupos que precisam de apoio financeiro de países europeus.
As seis ONG foram colocadas a 22 de outubro pelo Ministério da Defesa israelita na sua lista negra por supostos vínculos com a Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), grupo marxista considerado "terrorista" pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
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