Primeiro-ministro polaco adverte líderes europeus para ameaças ao futuro
O primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, advertiu hoje, numa carta enviada aos outros líderes europeus, para o risco de a União Europeia (UE) se tornar um "organismo gerido de forma centralizada por instituições desprovidas de qualquer controlo democrático".
© TTILA KISBENEDEK/AFP via Getty Images
Mundo Polónia
"É um fenómeno perigoso que ameaça o futuro da nossa união", defendeu Morawiecki, acrescentando que a Polónia continuará a ser "um membro leal" do bloco comunitário e apelando aos líderes europeus para se manterem "abertos ao diálogo" sobre uma reforma da UE.
"Creio sinceramente que juntos, num espírito de respeito e compreensão mútuos, sem impor a nossa vontade aos outros, podemos encontrar uma solução que fortaleça a nossa União Europeia", declarou.
A carta foi enviada mesmo antes de uma cimeira dos dirigentes europeus que se realizará esta semana e pouco depois de uma decisão do Tribunal Constitucional polaco, emitida no início deste mês, que põe em causa o primado do direito comunitário sobre o direito nacional.
Essa decisão foi amplamente criticada por outros Estados-membros da UE, como a França e a Alemanha, mas não pela Hungria, e poderá constituir, segundo muitos analistas, um primeiro passo para uma saída da Polónia da UE.
O tribunal polaco estipulou que algumas passagens dos tratados da UE são "incompatíveis" com a Constituição da Polónia e advertiu o Tribunal de Justiça da UE contra qualquer ingerência nas reformas judiciais no país.
Tais reformas, levadas a cabo pelo partido nacionalista populista de direita, Direito e Justiça (PiS), no poder na Polónia, constituem há anos um pomo de discórdia entre Varsóvia e Bruxelas.
A União Europeia estima que elas atentam contra a independência da justiça e poderão fazer recuar as reformas democráticas, ao passo que o Governo polaco afirma que elas são necessárias para erradicar a corrupção do sistema judicial.
Morawiecki dirigir-se-á ao Parlamento Europeu na terça-feira.
Na sua carta, o primeiro-ministro polaco sustenta que o primado do direito europeu "não é ilimitado" e que "nenhum Estado soberano" poderá dizer o contrário.
"Confrontamo-nos hoje com um fenómeno muito perigoso em que diversas instituições da União Europeia usurpam poderes que não têm nos termos dos tratados, e impõem a sua vontade" aos outros Estados-membros, considerou Morawiecki.
"Isso é particularmente evidente hoje, quando são utilizados instrumentos financeiros para esse fim", lamentou o chefe do Governo polaco, referindo-se aos novos poderes da Comissão Europeia de retenção dos pagamentos da UE se se considerar ameaçado o respeito das normas da organização em matéria de corrupção e do Estado de direito.
Morawiecki advertiu de que "instituições geridas de forma centralizada, privadas de qualquer controlo democrático" em Bruxelas poderão transformar a UE "numa organização em contradição com os valores comuns" dos Estados-membros.
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