Combatentes de Tigray acusados de matar e bombardear civis em Amhara
Rebeldes mataram civis e bombardearam aldeias no início de setembro no estado etíope de Amhara, vizinho do estado de Tigray, onde um conflito armado começou há mais de 10 meses, referiram testemunhas que fugiram e autoridades locais.
© Getty Imagens
Mundo Etiópia
O governo estadual de Amhara descreveu a violência na cidade de Kobo e arredores, no norte da Etiópia, como um "massacre".
A Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês), partido que durante décadas governou a Etiópia e detinha o poder no estado de Tigray quando o governo federal invadiu a região e o expulsou em 04 de novembro de 2020, sempre negou visar civis durante a luta contra as forças federais, que se alastrou nos últimos meses aos estados vizinhos de Amhara e Afar.
Com as comunicações cortadas, é difícil verificar independentemente os relatos recolhidos pela agência France-Presse de civis que fugiram para campos de deslocados em Dessie, uma cidade 150 quilómetros a sul de Kobo.
De acordo com estas testemunhas, a violência começou em 09 de setembro na aldeia de Gedemeyu, sete quilómetros a sul de Kobo, quando combatentes afetos à TPLF fizeram rusgas nas casas dos aldeãos em busca de armas. Os combatentes terão atacado civis quando estes fugiam para norte, e regressaram no dia seguinte, levando a cabo mais ataques.
"Massacraram agricultores (...) e trabalhadores sazonais das terras altas vizinhas", disse um residente de Kobo.
"Vi os corpos de sete pessoas no complexo de uma casa. Quatro deles pertenciam à mesma família", relatou a mesma testemunha, acrescentando ter visto "muitos" outros enquanto fugia para Dessie.
Outro homem contou que numa segunda aldeia, em Zobel, viu cadáveres e edifícios destruídos. "A TPLF disparou artilharia pesada contra civis e propriedades civis", disse, acrescentando que uma instalação de saúde tinha sido atingida e que os edifícios do governo tinham sido saqueados.
O porta-voz do governo de Amhara, Gizachew Muluneh, afirmou na rede social Twitter na segunda-feira que tinha sido "informado que várias centenas de civis de Amhara foram massacrados por terroristas da TPLF" na região.
"Tornaremos público o número exato de pessoas massacradas assim que investigarmos o crime", acrescentou.
A TPLF declarou que as alegações são "totalmente falsas" e apelou a uma investigação independente.
O norte da Etiópia é palco de fortes combates desde novembro, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, deu ordens ao Exército federal para invadir o estado de Tigray, com o objetivo de retirar do poder às autoridades regionais dissidentes da TPLF, com o argumento de que a intervenção respondia a ataques a campos militares federais orquestrados pelo partido que dominou a política etíope durante décadas.
Vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2019, Abiy Ahmed declarou a vitória no final de novembro, após a tomada da capital regional, Mekele, mas o conflito nunca parou e, no final de junho, as forças pró-TPLF haviam já recuperado o controlo da maior parte do estado de Tigray.
As forças pró-TPLF expandiram entretanto a ofensiva às regiões vizinhas de Amhara e Afar para pôr fim ao que descreveram como um bloqueio ao apoio humanitário ao estado de Tigray e para impedir o reagrupamento das forças pró-governamentais.
A propagação dos combates, que deslocou centenas de milhares de pessoas, tem vindo a ser acompanhada por acusações de execuções sumárias e bombardeamentos indiscriminados por parte dos rebeldes, negados pela TPLF.
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