Marrocos, um país estável marcado por profundas desigualdades
Marrocos, onde decorrem na quarta-feira eleições legislativas e locais, é dirigido desde 1999 pelo rei Mohammed VI. Marcado por profundas desigualdades, o país goza de estabilidade num Magrebe agitado por sobressaltos políticos.
© Shereen Talaat/Reuters
Mundo Marrocos
Os "anos de chumbo"
Em 1912, Marrocos foi dividido em dois protetorados, espanhol no norte e francês no resto do país. Torna-se independente em 1956.
Morto o rei Mohammed V em 1961, sucede-lhe o filho Hassan II, que acompanha a modernização do reino após a descolonização.
Monarca popular, o seu longo reinado é manchado por violações dos direitos humanos perpetradas durante os "anos de chumbo", de 1970 a 1999.
Em 1991, é destruída a colónia penal de Tazmamart (sudeste), onde estavam detidos os opositores. Em 1992, uma reforma da Constituição integra o conceito de direitos humanos.
Reformas
Em julho de 1999, Mohammed VI sucede ao seu pai após a morte deste.
O descendente da dinastia alauita, que reina em Marrocos desde o século XVII, vai iniciar reformas para modernizar o país.
O rei conserva, no entanto, importantes prerrogativas e detém o essencial do poder executivo. Chefe de Estado, acima dos partidos, e chefe supremo das forças armadas, o monarca mantém o controlo sobre os setores estratégicos.
Código da família
Em 2003, é elaborado um novo código familiar que coloca o lar "sob a responsabilidade conjunta dos dois cônjuges", estabelece condições para a poligamia e aumenta para os 18 anos (mais três) a idade legal de casamento para as mulheres, com exceções. É aprovado em 2004, mas as associações feministas consideram-no insuficiente.
Saara Ocidental
Esta colónia espanhola é considerada um "território não autónomo" pela ONU na ausência de um estatuto definitivo.
Marrocos considera o vasto território, do qual controla 80%, como parte do reino e propõe uma ampla autonomia sob a sua soberania.
Os independentistas saarauis da Frente Polisário, apoiados pela Argélia, exigem um referendo sobre a autodeterminação.
O Saara Ocidental constitui o principal motivo de discórdia entre Marrocos e a vizinha Argélia, que em agosto rompeu relações com Rabat.
Grandes projetos
Em 2007, é inaugurado o mega-porto de Tânger-Mediterrâneo (norte), o maior em volume de África. A sua extensão em 2019 torna-o "o primeiro no Mediterrâneo".
Em 2016, é inaugurada a enorme central solar Noor (sul) e em 2018 a primeira linha de comboios de grande velocidade do continente africano.
Desigualdades
Já profundas em Marrocos, as desigualdades sociais aumentaram desde o início da pandemia do novo coronavírus.
A economia contraiu 7,1% em 2020 e a taxa de pobreza aumentou de 1,7 para 11,7% a nível nacional durante o confinamento, segundo o instituto de estatísticas marroquino.
As receitas do setor turístico, pilar da economia, que ficaram perto dos 80 mil milhões de dirhams em 2019 (cerca de 7,5 mil milhões de euros), caíram 65% até ao início de 2021, de acordo com o Ministério das Finanças.
Em julho de 2020, o rei anunciou uma generalização da cobertura social "em benefício de todos os marroquinos" durante os próximos cinco anos e a criação de um fundo de 11 mil milhões de euros para relançar a economia.
Polos turísticos
País do Magrebe à beira do Atlântico e do Mediterrâneo, Marrocos tem 36 milhões de habitantes e o islão como religião de Estado.
Mohammed VI defende um islão tolerante e moderado que assegura a liberdade de culto para os judeus e cristãos estrangeiros.
O país tem vários locais inscritos na lista do patrimonial mundial pela UNESCO, entre os quais as medinas de Essaouira, de Fez e de Tetouan e a cidade histórica de Meknès.
Ceuta e Melilla
Os enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla, no norte de Marrocos, são as únicas fronteiras terrestres entre África e a União Europeia.
Em maio, Ceuta viu chegar entre 8.000 e 10.000 migrantes em 48 horas, uma vaga migratória sem precedentes devido ao relaxamento do controlo por parte das autoridades marroquinas, num contexto de tensão com a Espanha.
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