Questionado pelo juiz Raymond Zondo, que lidera a comissão judicial de investigação da captura do Estado pela grande corrupção no mandato do seu antecessor, Ramaphosa revelou que o encontro se realizou na manhã do dia seguinte "logo após" a 53.ª conferência do ANC, durante um "pequeno-almoço".
Na 53.ª Conferência Nacional do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), que se realizou em Mangaung, na província do Estado Livre, centro do país, em dezembro de 2012 - em que Jacob Zuma foi reeleito presidente do ANC - Cyril Ramaphosa foi eleito vice-presidente do partido no poder com pouco mais de 3.000 votos.
Ramaphosa avançou que voltou a reunir-se com os irmãos Gupta, em Luthuli House, a sede nacional do ANC, partido no poder na África do Sul desde 1994, de que é também presidente.
No encontro em Joanesburgo, explicou Ramaphosa, foi discutido o polémico uso privado da base área de Waterkloof, em Pretória, pela família Gupta e a "dificuldade" em que a controversa família de empresários indianos "colocaram Zuma e o Governo" ao fazê-lo.
Ramaphosa salientou que se reuniu novamente com os Guptas num "outro pequeno-almoço onde foi questionado por um jornalista sobre a amizade de Zuma com os Guptas", que passaram a residir no Dubai para evitar a Justiça sul-africana.
Na altura, Cyril Ramaphosa foi criticado por ser o "número dois" de Jacob Zuma na Presidência da República, quando a família Gupta foi acusada de "saquear" o Estado com a alegada conivência de Zuma.
No poder entre 2009 e 2018, Zuma foi forçado a demitir-se após uma série de escândalos.
No primeiro de dois dias de depoimento na comissão judicial 'Zondo', na qualidade de vice-presidente e Presidente da República, Ramaphosa deu a entender um "total desconhecimento" sobre as decisões de Zuma e dos seus aliados no seio do partido no poder e também no Estado, incluindo na gestão da estatal elétrica Eskom.
Ramaphosa sugeriu que "a grandiosidade e complexidade" das operações da Eskom dificultaram o acompanhamento dos acontecimentos na empresa estatal que se encontra praticamente falida e incapaz de fornecer energia elétrica ao país que conta atualmente com cerca de 60 milhões de habitantes, segundo dados oficiais.
Questionado sobre a "colocação direta" de quadros do ANC na administração do Estado durante o seu mandato como vice-presidente do partido no poder, em que presidiu também ao comité de destacamento de membros do partido, Ramaphosa referiu que "o Congresso Nacional Africano deixou de fazer atas e registos sobre o destacamento de quadros no Governo ao longo de vários anos".
"Não me recordo, quando fui presidente, de quaisquer atas apresentadas para adoção, que é o que acontece frequentemente quando se é membro de uma comissão, em que as atas serão submetidas, analisadas, aprovadas e adotadas", declarou.
Todavia, o chefe de Estado sul-africano defendeu o princípio de destacamento de quadros e o envolvimento político do ANC na administração do Estado.
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