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"Corrente liberal internacional" ataca-nos por motivos políticos

A "corrente liberal internacional" presente na União Europeia (UE) mantém o Governo húngaro sob ataque e as suas declarações políticas apenas constituem perceções afastadas da realidade, disse, em entrevista à Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria, Péter Szijjártó.

"Corrente liberal internacional" ataca-nos por motivos políticos
Notícias ao Minuto

06:10 - 28/07/21 por Lusa

Mundo Hungria

"Podemos considerar essas posições como o habitual, estamos no Governo desde 2010 e a corrente liberal internacional dominante mantém-nos sob forte ataque. Tem motivos políticos, e esses relatórios em causa nada têm que ver com a realidade", indicou o chefe da diplomacia de Budapeste que esteve na terça-feira em Lisboa, onde manteve conversações com o seu homólogo português, Augusto Santos Silva.

A Hungria, a par da Polónia, continua a ser alvo das críticas de Bruxelas face ao incumprimento das recomendações sobre o Estado de direito, com a Comissão Europeia a expressar "sérias preocupações" numa avaliação divulgada em 20 de julho.

Em simultâneo, e numa referência à independência do sistema judicial da Hungria, Bruxelas destacou que "a recomendação para reforçar a independência judicial, feita no contexto do Semestre Europeu, continua por resolver", assim como outros processos que ainda decorrem.

"Esses relatórios baseiam-se em julgamentos políticos, são enviesados, desequilibrados e injustos. São declarações políticas enviesadas, não dizem nada sobre questões concretas, apenas avançam com perceções. Sempre estivemos prontos para promover discussões sobre questões concretas, mas discutir perceções não faz sentido", assinalou Péter Szijjártó, de 42 anos, no cargo desde setembro desde 2014.

No seu relatório, a Comissão Europeia também salientou que o pluralismo dos meios de comunicação da Hungria continua em risco, nomeadamente pelo facto de a publicidade institucional ser um dos métodos utilizados por Budapeste para influenciar os 'media'.

Perante estas alegações, o chefe da diplomacia de Budapeste, também membro da União Cívica Húngara (Fidesz, partido liderado pelo primeiro-ministro, Viktor Orbán, e que regressou ao poder em 2010), insiste nos valores que regem esta formação, num regime já definido de "iliberal".

"O nosso Governo é conservador, patriótico e cristão-democrata, que coloca o interesse nacional no topo da agenda, e isso é muito desagradável para a corrente liberal internacional dominante, e que se estende aos 'media' e à elite política", assinalou.

"Independente daquilo que decidirmos ou do tema ou tópicos, estamos imediatamente sob forte ataque. Mas é parte da vida. Não fomos eleitos pelos burocratas europeus, fomos eleitos pelos eleitores húngaros, e enquanto satisfizermos os eleitores húngaros, a burocracia europeia terá de conviver connosco", afirmou Péter Szijjártó.

A Hungria, e ainda a Polónia, permanecem sob um procedimento no âmbito do artigo 7.º do Tratado da UE, um instrumento para avaliar se os valores democráticos e do Estado de direito estão em risco num Estado-membro.

"O facto de nos rotularem usualmente de iliberais deve-se ao facto de dizermos que a palavra democracia e a definição de democracia não necessitam de qualquer provérbio", acrescenta o chefe da diplomacia magiar.

"Não necessita de 'liberal' ou de qualquer outra expressão. Democracia é democracia, e acreditamos nisso. E o nosso primeiro-ministro referiu-se ao facto de sermos designados de 'democracia iliberal' porque observamos os acontecimentos quando os liberais perdem eleições", referiu.

Na perspetiva da liderança magiar, a corrente liberal "nunca pode imaginar" a possibilidade de perder eleições. "E nesse sentido, sim, podemos ser considerados uma democracia iliberal porque a nossa democracia não é governada por liberais".

No entanto, o ministro húngaro recusa qualquer perspetiva de saída da União Europeia, pronunciando-se antes pela necessidade de uma UE mais forte.

"O facto de existirem debates no interior da UE deveria ser considerado como natural. Somos 27 e é óbvio que podemos ter abordagens diversas e de formas diversas. É interessante que aqueles que falam em impor a democracia, a tolerância, nunca aceitam que existam opiniões algo diferentes das deles", argumentou.

"Penso ser natural que existam diversas abordagens quando se trata de saber como pode a UE ser mais forte no futuro. O debate é o âmago da democracia e não discutimos se a UE é boa ou má, porque é bom pertencer à UE. E a Hungria vai permanecer como membro. Mas o debate é em torno de como vamos garantir uma UE mais forte, e podemos diferentes abordagens, mas isso faz parte da democracia", acrescentou.

Nesta perspetiva, indicou quatro medidas que considera decisivas e que Budapeste tem esgrimido com insistência nas reuniões dos 27 Estados-membros.

"Em primeiro lugar, uma UE mais forte implica que não se permita que mais migrantes ilegais entrem na UE. Segundo, reforçar a economia europeia através do apoio total ao investimento. Terceiro, não comprometer a soberania dos Estados-membros. Quarto, respeito pela identidade, história, cultura e religião dos Estados-membros e dos valores cristãos, os valores fundadores da União Europeia. É isso que pensamos que pode tornar a UE forte de novo", defendeu o ministro húngaro.

Um projeto que, segundo adiantou, terá de incluir o respeito pelas "especificidades" de cada país.

"Não acreditamos numa UE uniformizada, não acreditamos nos Estados Unidos da Europa, antes acreditamos é numa UE forte baseada em fortes Estados-membros, que sejam orgulhosos da sua identidade, da sua religião, da sua cultura, da sua herança. Uma UE forte apenas pode assentar em Estados-membros fortes, Estados-membros fracos não podem formar uma UE forte", concluiu.

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