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Milhares de turcas protestam contra saída da Convenção de Istambul

Dezenas de milhares de pessoas, na grande maioria mulheres, manifestaram-se em dezenas de cidades turcas para protestar contra a saída, hoje concretizada, da Turquia da Convenção de Istambul, tendo-se registado também confrontos com a polícia.

Milhares de turcas protestam contra saída da Convenção de Istambul
Notícias ao Minuto

21:18 - 01/07/21 por Lusa

Mundo Turquia

Os manifestantes, com palavras de ordem como "A convenção da vida", "não nos calaremos, não temos medo, não obedeceremos" ou "não caminharás sozinha", vários milhares de ativistas concentraram-se na praça Istiklal, no centro de Istambul, para protestar contra a saída da Turquia.

"É mais importante do que nunca que estejamos hoje nas ruas. Desde que anunciou a saída da convenção, nada melhorou. Pelo contrário, tudo piorou. O Estado deve proteger as mulheres", disse à agência noticiosa espanhola EFE a ativista turca Tugçe Sonmez.

"Não aguentamos mais. Deve-se aplicar a convenção e não confiamos numa lei local. Está claro que não sabem prevenir a violência", sublinhou outra participante na manifestação, que se identificou à EFE como Firde.

Em Istambul, a polícia permitiu inicialmente a marcha, mas, após os manifestantes percorrerem algumas centenas de metros na avenida central, as forças de segurança bloquearam a passagem e, face à insistência dos ativistas, lançaram granadas de gás lacrimogéneo e dispararam balas de borracha.

Também em Esmirna, a terceira maior cidade da Turquia, se registaram incidente, com a polícia antimotim a usar gás pimenta contra uma marcha em que participavam centenas de mulheres, reportou o diário local Evrensel.

Os protestos estenderam-se a várias cidades do país à mesma hora nas ruas e praças locais, enquanto na capital, Ancara, a polícia permitiu a realização das marchas, embora tenha tentado impedir algumas delas.

A Turquia deixou hoje oficialmente a Convenção de Istambul, tratado internacional que visa reforçar a luta contra a violência sexista, uma decisão do Presidente Recep Tayyip Erdogan muito criticada no país e no estrangeiro. 

A Convenção de Istambul, que data de 2011 e foi assinada por 45 países e a União Europeia, é o primeiro tratado internacional que fixa normas juridicamente vinculativas para prevenir a violência contra as mulheres. 

A decisão de Erdogan, tomada quando os feminicídios estão a aumentar há uma década na Turquia, motivou a indignação das organizações de defesa dos direitos das mulheres e suscitou críticas da União Europeia, de Washington e do Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.

O Governo turco justificou a sua decisão argumentando que a Convenção de Istambul "destrói os valores familiares" e "normaliza a homossexualidade", devido ao seu apelo contra a discriminação em função da orientação sexual.

Ao contrário do que acontece em muitos países maioritariamente muçulmanos, a homossexualidade não é ilegal na Turquia, mas existe uma homofobia generalizada. 

Os observadores admitem que, com esta decisão, Erdogan queira agradar à sua base eleitoral conservadora, num contexto de dificuldades económicas.

Na terça-feira, a justiça turca rejeitou um recurso que visava anular a retirada de Ancara da Convenção de Istambul.

"Esta saída envia uma mensagem perigosa a quem comete violência, mutila e mata: diz-lhes que podem continuar a fazê-lo com toda a impunidade", disse a diretora da Amnistia Internacional, Agnès Callamard, considerando que a Turquia recuou dez anos em matéria de direitos das mulheres.

As organizações temem um aumento da violência contra as mulheres, numa altura em que a situação é crítica.

Ainda hoje, em Genebra, num comunicado, o Comité da ONU para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres apelou à Turquia para reconsiderar a decisão de abandonar a convenção, considerando que a decisão é "profundamente lamentável e deve ser invertida".

Em 2020, 300 mulheres foram assassinadas na Turquia pelos seus companheiros ou ex-companheiros, e desde o início do ano o número de feminicídios já é de 189, segundo uma organização de defesa dos direitos das mulheres. 

Cerca de 38% das mulheres na Turquia disseram já ter sido vítimas de violência doméstica pelo menos uma vez, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, enquanto esse valor ronda os 25% na Europa.

Leia Também: ONU apela à Turquia para reconsiderar abandono da Convenção de Istambul

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