Londres acusa Pequim de atacar vozes dissidentes em Hong Kong
O Governo britânico acusou hoje Pequim de atacar "as vozes dissidentes" e apelou ao respeito pela liberdade de imprensa na sequência da detenção de cinco responsáveis do jornal Apple Daily de Hong Kong.
© Reuters
Mundo Governo
"As rusgas e detenções no Apple Daily, em Hong Kong, mostram que Pequim utiliza a lei da Segurança Nacional para atacar as vozes dissidentes e não para garantir a segurança pública", disse o chefe da diplomacia britânica, Dominic Raab.
Numa mensagem difundida através da rede social Twitter, Raab afirmou ainda que Pequim deveria "proteger" e "respeitar" a liberdade de imprensa, cumprindo os compromissos acordados no momento da transferência da ex-colónia britânica no sul da China, em 1997.
A polícia na Região Administrativa Especial de Hong Kong deteve hoje o diretor e outros quatro responsáveis do jornal Apple Daily, por suspeita de "conspiração com forças estrangeiras", ao abrigo da lei de Segurança Nacional imposta pelo governo central de Pequim em 2020.
A polícia disse que cinco responsáveis, incluindo quatro homens e uma mulher, entre os 47 e 63 anos, foram detidos por conluio com um país estrangeiro ou com elementos externos para pôr em perigo a segurança nacional, violando o Artigo 29 da lei da República Popular da China.
Mais de 200 agentes entraram nas instalações do jornal para efetuarem uma busca com um mandado judicial.
O jornal tem assumido o apoio ao movimento pró-democracia e esta foi a segunda busca no jornal em menos de um ano.
O milionário Jimmy Lai, o proprietário da publicação, foi acusado de conluio após a busca realizada em agosto e encontra-se preso, após várias condenações por envolvimento em alguns dos protestos pró-democracia em Hong Kong há dois anos.
Entretanto, uma nota do jornal pró-democracia de Hong Kong Apple Daily considera que a liberdade de imprensa no território "está suspensa por um fio" reagindo assim à prisão dos cinco diretores e da rusga na redação.
Paralelamente, em Macau, dois comentadores do programa de debate em língua portuguesa "Contraponto" da TDM deixaram a emissão em 08 de junho, em protesto contra a "censura" a comentários à proibição da vigília de Tiananmen no território, disse à Lusa o advogado Frederico Rato.
O programa, transmitido em diferido no dia 30 de maio, passou sem os comentários do jurista, que considerava que a interdição da vigília violava a Lei Básica, a mini-constituição do território, correndo esta "o risco de passar a letra morta".
Na quarta-feira, a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) também manifestou "preocupação" com o caso.
Os Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que analisam a liberdade de imprensa em 180 países, já condenaram o corte de comentários sobre Tiananmen no debate em língua portuguesa transmitido pela Teledifusão de Macau, considerando-o "inaceitável".
"A eliminação de comentários sobre Tiananmen num debate televisivo na TDM, que levou dois comentadores a abandonar o programa, é totalmente inaceitável", disse hoje o diretor da delegação dos RSF para o Leste Asiático, Cédric Alviani, numa declaração por escrito enviada à agência Lusa.
O responsável para a região considerou que o caso "ecoa ataques semelhantes perpetrados em Hong Kong nos últimos anos", afirmando estar "muito preocupado com as recentes ameaças à independência do órgão de comunicação público TDM".
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