Meteorologia

  • 19 ABRIL 2024
Tempo
14º
MIN 14º MÁX 21º

Pintar unhas em Maputo. "Faço isto para não ter de roubar ninguém"

Fabião Mucandzi, 22 anos, carrega ao ombro uma ripa de madeira com dezenas de furos onde está encaixado um arco-íris: em cada furo está preso um frasquinho colorido de verniz para as unhas que aplica nas ruas de Maputo.

Pintar unhas em Maputo. "Faço isto para não ter de roubar ninguém"
Notícias ao Minuto

10:36 - 05/06/21 por Lusa

Mundo Moçambique

"Faço isto para não ter de roubar ninguém. A partir daqui consigo comprar crédito [saldo do telemóvel] e Internet para sustentar os meus estudos e fazer outras coisas", conta à Lusa. 

Sentado na paragem de transportes coletivos, enfrenta a azáfama da Praça dos Combatentes em busca de clientes há quase quatro anos, na ambição de conseguir financiar os seus próprios estudos.

"Com o coronavírus, nada está a andar. Está difícil para mim pagar as mensalidades da escola. Está tudo parado. Por vezes tenho de fazer empréstimos para pagar a mensalidade", lamentou.

Apesar do futuro incerto, para Fabião, mais do que um negócio para escapar ao desemprego, cuidar das unhas é uma "arte".

"Eu considero o meu trabalho uma arte. A arte que eu tenho nas mãos e que estou a partilhar com outras pessoas".

Foi a mesma "arte" que conquistou Bibi de Fátima, uma entre várias mulheres moçambicanas que preferem recorrer à manicure de rua em Maputo.

"Eu faço as unhas aqui porque gosto do trabalho deles, são acessíveis e são simpáticos. Por isso eu opto por eles", diz, enquanto espera pelo autocarro.

De pé esticado, observa a arte de Fabião, dedo a dedo, imune à agitação em redor, na Praça dos Combatentes.

Belgito Carlitos, 24 anos, fugiu da fome no interior de Inhambane em 2014 e hoje, em Maputo, ganha a vida como manicure de rua.

O sonho de uma vida melhor na capital começou na infância sofrida nos subúrbios de Inhambane, a 478 quilómetros da capital, e não tardou até Carlitos descobrir uma vocação: cuidar das unhas dos pés e das mãos dos seus clientes - apesar do estigma e preconceito que os homens sofrem neste tipo de profissão, principalmente no meio rural.

"Comecei observando o que os outros faziam. Primeiro vendi brincos [nas ruas de Maputo] e depois comecei a pintar unhas. Hoje, já sou profissional", diz de peito cheio à Lusa, enquanto trata de uma das suas clientes.

Simples, rápido e barato, com os preços a variarem entre cinco meticais (0,06 cêntimos de euro) e 250 meticais (três euros), o tratamento de Belgito é quase sempre banhado de cores. 

Após quase oito anos, diz que é famoso no seu bairro - até já conseguiu instalar um pequeno salão no interior de Laulane, subúrbios de Maputo.

Mas com o impacto das restrições impostas pela pandemia de covid-19, os clientes estão a desaparecer e as contas começam a apertar.

"Antes do coronavírus, conseguíamos tratar, por dia, 10 a 15 pessoas, mas agora não estamos a conseguir muito dinheiro", diz, acrescentando, no entanto, que "ainda dá para pagar a renda" de casa que divide com os seus colegas.

Leia Também: Desarmamento de ex-guerrilheiros avança no centro de Moçambique

Recomendados para si

;
Campo obrigatório