Presidente do Ruanda elogia "imensa coragem" de Macron
O Presidente do Ruanda, Paul Kagamé, classificou hoje o discurso de Emmanuel Macron no memorial do genocídio, em Kigali, como um ato de "imensa coragem", que considerou "mais valioso do que um pedido de desculpas".
© Getty Imagens
Mundo Ruanda
Paul Kagamé falava numa conferência de imprensa conjunta com o homólogo francês, Emmanuel Macron, que está em visita oficial ao Ruanda.
Na mesma conferência de imprensa, Emmanuel Macron anunciou a nomeação, proximamente, de um embaixador francês para o Ruanda, onde o cargo está vago desde 2015 devido a tensões entre os dois países sobre o papel da França no genocídio de 1994.
"A normalização das nossas relações não pode começar sem este passo", disse Emmanuel Macron.
A França está atualmente representada em Kigali por um encarregado de negócios.
O Presidente francês reconheceu hoje responsabilidades da França no genocídio de 1994 no Ruanda, num discurso proferido no memorial aos mortos, em Kigali, considerando que o "silêncio sobre o apuramento da verdade" durou "demasiado tempo".
A França "não foi cúmplice", mas "durante demasiado tempo prevaleceu o silêncio sobre o apuramento da verdade", disse Macron, num aguardado discurso, no âmbito da sua visita oficial ao Ruanda, apresentada como o "passo final na normalização das relações" entre os dois países, após mais de 25 anos de tensões relacionadas com o papel desempenhado pela França no genocídio de 1994.
"Ao estar, com humildade e respeito, ao vosso lado, neste dia, venho reconhecer as nossas responsabilidades", afirmou o chefe de Estado francês no discurso, proferido após uma visita ao museu memorial.
No entanto, ressalvou que a França "não foi cúmplice" nos acontecimentos que resultaram na morte de mais de 800 mil tutsis e hutus moderados em cerca de cem dias, num dos piores massacres étnicos da história recente.
O genocídio do Ruanda teve início em 07 de abril de 1994 após os assassínios, no dia anterior, dos então Presidentes do Ruanda, Juvénal Habyarimana (hutu), e do Burundi, Cyprien Ntaryamira (hutu), quando o avião em que viajavam foi abatido sobre Kigali.
O papel da França antes, durante e depois do genocídio ruandês tem sido um tema controverso durante anos, levando mesmo a uma rutura nas relações diplomáticas entre Paris e Kigali entre 2006 e 2009.
Um relatório de historiadores publicado em março e liderado por Vincent Duclert concluiu que a França tinha "responsabilidades pesadas e condenatórias" e que o então presidente socialista François Mitterrand e a sua comitiva "fecharam os olhos" à deriva racista e genocida do Governo hutu, que Paris apoiava na altura.
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