Soldados israelitas contra ocupação apresentam exposição em Lisboa

 A organização de ex-soldados israelitas 'Breaking the Silence' inaugura sábado, em Lisboa, uma exposição de fotografias sobre a violência nos territórios ocupados, disse à Lusa o organizador Ori Givati, que luta por soluções que evitem "desastres" como o dos últimos dias.  

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© Breaking the Silence

Lusa
21/05/2021 17:24 ‧ 21/05/2021 por Lusa

Mundo

Médio Oriente

devastador ver o que se passa em Gaza, as baixas são devastadoras, os danos materiais são devastadores e é também devastador ver que Israel tem de enfrentar o lançamento de foguetes contra nós. Temos de nos proteger em abrigos, evidentemente. Mas tudo isto é o resultado da ocupação e não se pode ocupar um povo durante tanto tempo sem ser violento e sem estas grandes operações", disse Ori Givati.

Para o ex-soldado israelita, de 27 anos, a violência só gera violência e "destrói soluções de futuro" porque a morte de civis, entre os quais crianças, como aconteceu nos últimos 11 dias em Gaza, só agrava a situação.

"As pessoas que acreditam em democracia não podem concordar com isto. Não é legítimo o meu país matar 40 crianças numa operação de 10 dias. Estamos devastados por esta situação. Estamos satisfeitos por finalmente termos um cessar-fogo e esperemos novos progressos sobre diferentes soluções para não termos mais uma operação que vai matar mais crianças nos próximos anos", acrescentou.

Ori Givati lembrou que a ocupação israelita se prolonga desde 1949 e manifesta-se sempre de maneiras diferentes e em alturas distintas, sublinhando que a guerra em Gaza durante os últimos 11 dias foi "mais uma das muitas operações que ocorrem no mesmo local, ao longo dos últimos anos".

Numa tentativa de encontrar novas soluções, o grupo 'Breaking the Silence' - uma organização de soldados israelitas veteranos que visa expor a realidade nos territórios ocupados - mostra fotografias captadas pelos próprios soldados que cumpriram serviço militar obrigatório nos territórios ocupados desde a Segunda Intifada, que começou no ano 2000 e se prolongou durante cinco anos.

A exposição dos ex-soldados israelitas vai poder ser vista em Lisboa, na sala de exposições do Mercado do Forno do Tijolo a partir de sábado. 

O grupo original da organização foi constituído por 60 soldados que cumpriram serviço militar na cidade de Hebron, onde participaram em missões violentas de ocupação.

"Assistiram à violência de palestinianos contra os soldados, à violência dos palestinianos contra os colonos israelitas, mas também à violência dos colonos contra os palestinianos e dos colonos contra os soldados", explica o organizador da exposição de Lisboa.

"Quando regressaram a casa, depois de cumprirem serviço em Hebron, estes soldados israelitas descobriram que as pessoas em Israel não faziam a mínima ideia do que se passava nos territórios ocupados, sobretudo em Hebron", acrescentou.

As fotografias mostram os momentos em que os soldados se mobilizam em missões de recolher obrigatório, em ações de detenção de palestinianos, invasão de casas de civis além de imagens de inscrições racistas escritas por colonos judeus contra os palestinianos, sendo que todas as imagens são acompanhadas de testemunhos dos soldados que participaram nas missões.

Após a primeira exposição em Telavive, outros soldados mobilizados noutros locais também quiseram partilhar a mesma experiência e contar a história da ocupação.

Desde essa altura, os membros da 'Breaking the Silence' falam com civis sobre "o que é fazer parte de uma ocupação" e, ao longo dos anos, têm promovido outras atividades como conferências ou visitas aos locais de conflito.

"Partilhamos testemunhos sobre a experiência nos territórios ocupados, a vida dos palestinianos e queremos dizer a toda a gente como é que é esta ocupação: o que significa uma invasão militar, o que significa uma rusga a uma casa ou a uma povoação. Queremos dizer o que significa estar num posto de controlo militar e o que significa atuar contra uma população civil", refere.

"Nós fazemos isto porque acreditamos que todas as pessoas que olharem e escutarem o que nós fizemos com as nossas mãos vão querer o fim da ocupação", disse ainda o ex-militar israelita.  

A organização 'Breaking the Silence' é atualmente formada por mais de mil antigos soldados israelitas que serviram nos territórios ocupados desde o princípio da Segunda Intifada, até hoje. 

A exposição, que pode ser visitada a partir de sábado, já foi exibida no Parlamento Europeu, em Berlim e em Washington.

Leia Também: Exposição em Londres eleva sapatilhas ao estatuto de obra de arte

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