Vitória do PP em Madrid sem impacto a curto prazo no Governo nacional
Analistas defendem que a vitória "arrasadora" da direita na região de Madrid, que "varreu" o PSOE, irá influenciar, mas dificilmente terá impacto a curto prazo na coligação de esquerda no Governo de Espanha.
© Reuters
Mundo Madrid
"Não penso que a curto prazo haja impacto a nível nacional", disse à agência Lusa o professor de Meios de Comunicação e Política da Universidade de Navarra Carlos Barrera, depois da vitória de terça-feira do Partido Popular (PP, direita) na Comunidade de Madrid.
As eleições para a assembleia regional foram ganhas de forma clara pelo PP, que obteve 44,73% dos votos e elegeu 65 deputados num total de 136, seguido pelo Mais Madrid (extrema-esquerda regional) com 16,97% e 24 deputados, pelo Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) com 16,85% e 25 assentos, Vox (extrema-direita) com 9,13% e 13 lugares, Unidas Podemos (extrema-esquerda) 7,21% e 10 parlamentares.
O partido da direita-liberal Cidadãos, que nas últimas eleições regionais, em maio de 2019, teve quase 20% dos votos, obteve agora 3,57% dos votos e desaparece da assembleia regional onde só têm assento partidos com mais de 5%.
O professor de Comunicação e Política Internacional na Universidade Europeia de Madrid José Maria Peredo também é de opinião que Madrid tem uma "forte componente de ilha política" governada pelo PP há 25 anos com características únicas.
"Mas o resultado foi de tal forma rotundo que pode dar à opinião pública nacional a ideia de que se está a passar alguma coisa e que se iniciou a mudança política a nível nacional", acrescentou o analista.
O PP duplicou a votação das eleições anteriores e fica a três deputados da maioria absoluta, tendo mais votos do que toda a esquerda junta e apenas necessita que o Vox se abstenha para continuar a governar a região.
A "estrela" da vitória do PP, a atual presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, que se vai manter no cargo, já fez saber que irá pedir ao Vox a "abstenção ou o apoio", o que esse partido considerar ser melhor.
Por seu lado, este partido de extrema-direita já indicou que iria "facilitar a tomada de posse como presidente" de Ayuso, sem exigir fazer parte do novo executivo.
Para os analistas, a candidata do PP conseguiu muitos votos dos setores tradicionais do partido que vieram às urnas e também votos "emprestados", de setores que valorizaram a sua gestão durante a pandemia de covid-19.
"Ayuso somou muitos mais votos do que são os do PP, que evidentemente também sai fortalecido, e o grande desafio vai ser reter esse voto emprestado e tentar alargá-lo ao resto do país", disse Carlos Barrera.
A candidata de direita, que desde 2019 é presidente da região de Madrid, decidiu manter aberta desde o final da primeira vaga da pandemia, há um ano, a maior parte do comércio da capital de Espanha e durante a campanha eleitoral criticou de forma enérgica a forma como o Governo central "socialista-comunista" conduziu a luta contra a pandemia.
Carlos Barrera pensa que Isabel Díaz Ayuso conseguiu uma política de "proximidade" com as pessoas e que a ideia da esquerda de que era necessário escolher entre a "economia ou a pandemia" estava errada, sendo possível ter a "economia e a pandemia" ao mesmo tempo.
"O sucesso de Ayuso foi ter antecipado as eleições regionais e aproveitado a situação criada com a pandemia e o estado de emergência, o que tem uma leitura nacional", afirmou Peredo Pombo.
A presidente da Comunidade de Madrid dissolveu o parlamento regional em 10 de março para convocar eleições antecipadas, com receio de que o partido com quem esteve coligada até agora, o Cidadãos, se juntasse ao PSOE na apresentação de uma moção de censura ao executivo da região.
A decisão foi tomada depois da apresentação de uma moção de censura do PSOE e do Cidadãos na comunidade de Múrcia (sudeste), onde este segundo partido também era o parceiro minoritário do PP no governo de coligação regional.
Os votantes no Cidadãos parecem ter sido agora absorvidos pelo PP.
O PSOE é o grande perdedor da consulta eleitoral de terça-feira, mas desvalorizou o seu impacto nacional e assegurou que "estas eleições não representam o conjunto de Espanha".
Os socialistas, que em 2019 tinham sido os mais votados com 27,31% e 37 deputados, descem agora para 16,85% e 24 representantes.
A extrema-esquerda do Mais Madrid (uma cisão do Unidas Podemos) consegue mesmo ficar à frente do PSOE e passa a liderar a oposição regional ao PP, com 16,97% de votos e o mesmo número de deputados dos socialistas.
Apesar de aumentar a representação na assembleia de Madrid de sete para 10 deputados, o Unidas Podemos entrou numa crise que a curto prazo vai implicar a mudança da liderança de Pablo Iglesias para a de Yolanda Díaz, que o substituiu em finais de março na vice-presidência do Governo liderado por Pedro Sánchez.
O candidato às eleições regionais do Unidas Podemos anunciou na noite de terça-feira que se retirava da política, depois do seu mau resultado e do sucesso da direita.
Pablo Iglesias foi vice-presidente no Governo minoritário nacional liderado pelo socialista Pedro Sánchez, tendo abandonado o executivo em março para concorrer às eleições regionais de Madrid e evitar que o Unidas Podemos tivesse menos de 5% e deixasse de estar representado na assembleia regional.
Segundo os analistas, as derrotas do Cidadãos e de Pablo Iglesias também significam a perda de importância dos fundadores da "nova política" espanhola, de partidos que diziam que iam "enterrar o bipartidarismo (PSOE e PP)" no país.
"A verdade é que estes partidos que durante vários anos falaram do fim de uma certa maneira de fazer política e que asseguravam que tinham vindo para ficar agora ficam de fora e com pouca expressão", explicou Carlos Barrera.
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