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Milhares pedem ajuda junto a projeto de gás, um mês após ataque

Um mês depois do ataque armado de rebeldes contra Palma, distrito dos projetos de gás no norte de Moçambique, milhares de pessoas continuam à espera de ajuda humanitária junto ao recinto de construção onde procuraram segurança, segundo a OIM.

Milhares pedem ajuda junto a projeto de gás, um mês após ataque
Notícias ao Minuto

16:55 - 23/04/21 por Lusa

Mundo Moçambique

A Organização Internacional das Migrações (OIM) estima, através de contactos, que ali haja pelo menos 11.000 pessoas a precisar de "ajuda humanitária urgente", sobretudo alimentar, a seis quilómetros a sul de Palma, Cabo Delgado.

Um terço dorme ao relento e há vários casos de vulnerabilidade, tais como grávidas, mães em fase de aleitamento, crianças desacompanhadas, idosos e deficientes, descreve a agência da ONU, num cenário corroborado por testemunhos de quem esteve no local.

Muitas pessoas procuram fugir para outros distritos por via marítima, mas a saída de embarcações tem sido travada pelas autoridades, alegando questões de segurança, temendo que haja rebeldes entre a população, referem fontes locais.

Fonte do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) reafirmou hoje à Lusa que o objetivo da proteção civil passa por criar condições para a população regressar à vila de Palma em vez de a transferir para outros distritos de Cabo Delgado, já sobrecarregados com deslocados.

"Mas não está a ser vedada a saída de ninguém", desde que estejam criadas "condições de segurança", acrescentou, sublinhando que esse é um tema em discussão com parceiros de cooperação.

O INGD e outros doadores dizem estar a providenciar formas seguras de apoio alimentar ao distrito, acrescentou a mesma fonte oficial, mas sem fornecer detalhes, porque os anúncios de distribuição de ajuda podem ter sido um dos motivos do ataque de há um mês, com o objetivo de a saquear.

Esta semana, cerca de 130 pessoas oriundas de Palma chegaram num barco a motor a Pemba, referindo que há mais a querer deixar a zona, mas sem meios para o fazer, contou à Lusa fonte na capital provincial.

Entretanto, a opção de outros que estão em Quitunda, Afungi, assim como noutros pontos do distrito de Palma tem sido caminhar dias a fio, pelo mato, arriscando morrer à fome, até distritos vizinhos, segundo dados das Nações Unidas.

A OIM contabiliza cerca de 25.679 deslocados de Palma registados noutros distritos de Cabo Delgado, após o ataque de 24 de março, num movimento que diz continuar a crescer e em que 43% são crianças.

Fonte oficial do INGD refere que um dos principais desafios em Palma, um mês após os ataques, passa por reinstalar as estruturas de governação local.

"Todo o trabalho está a ser levado a cabo para o efeito", referiu, detalhando que depois de reinstaladas as estruturas locais e respetivos serviços públicos, poderá ser a vez de os parceiros humanitários regressarem ao terreno.

Outras pessoas vencem "o medo", como uma descreveu à Lusa, e vão regressando à vila, de novo controlada pelas tropas moçambicanas, onde apesar das marcas de violência "já se dorme em silêncio", contou.

Mas o retorno é feito a conta-gotas e condicionado pela falta de bens essenciais: "falta comida" e "ainda ninguém vai para as machambas [hortas]", resumiu à Lusa uma das pessoas, a partir de Palma - onde as comunicações foram repostas.

Outra ameaça está à espreita nos próximos dias: o ciclone tropical Jobo deverá atingir no domingo a costa da Tanzânia, arrastando chuva muito forte para o distrito de Palma e outros do norte de Cabo Delgado.

Grupos armados aterrorizam aquela província moçambicana desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.

O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.

Leia Também: Cerca de 20 mil deslocados vão ter água potável até finais de maio

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