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Nunca houve uma verdadeira reconciliação entre Zulus e o ANC

O fundador do Partido Livre Inkatha (IFP, na sigla em inglês), Mangosuthu Buthelezi, afirmou nunca ter existido uma verdadeira reconciliação com o partido no poder na África do Sul, com o qual gostaria ainda de fazer a paz.

Nunca houve uma verdadeira reconciliação entre Zulus e o ANC
Notícias ao Minuto

10:34 - 18/04/21 por Lusa

Mundo África do Sul

"Quando recusei a independência do povo Zulu, destruí essa política, por isso é que iniciaram as negociações, porque o maior grupo étnico não iria fazer parte do processo", recordou o primeiro-ministro tradicional do Reino amaZulu, em entrevista à agência Lusa, na sede do seu partido, em Ulundi, sobre o processo de reconciliação nacional.

Mangosuthu Buthelezi, que iniciou a sua carreira política no Congresso Nacional Africano (ANC), sublinhou ter sido instado pelo então chefe de Estado da Zâmbia, Kenneth Kaunda, durante uma visita a Lusaka, a criar uma organização política na África do Sul que fosse "mais representativa dos sul-africanos negros" nas décadas de 1960 e 1970.

"Posteriormente falei com o meu líder, Oliver Tambo [o fundador do ANC], que me disse: 'Por favor, avança', e foi assim que se criei o IFP, como uma frente do ANC, com base nos mesmos princípios de não-violência e negociações, da génese do ANC, em 1912", frisou.

Todavia, a transição política na África do Sul, do regime de segregação racial do 'apartheid' para a democracia viria a ser caracterizada por exigências constitucionais e uma escalada de violência entre o ANC e o IFP, liderados respetivamente por Nelson Mandela e Mangosuthu Buthelezi, nas províncias do Natal (atual KwaZulu-Natal) e do Transvaal (atual Gauteng), nas negociações com o Governo sul-africano de minoria branca.

O IFP, que o Governo de Pretória reconhecia como sendo representativo da maioria negra no país quando legalizou o ANC, ameaçou também boicotar durante o processo negocial as primeiras eleições multipartidárias e democráticas, de 26 a 28 de abril de 1994.

As primeiras eleições democráticas da África do Sul, em 1994 - em que Mangosuthu Buthelezi obteve 10,5% dos votos, integrando o primeiro Governo de Unidade Nacional, liderado pelo Presidente Nelson Mandela, resultaram de quatro anos de negociações, iniciadas em 1990 com a legalização dos movimentos de libertação, nomeadamente o ANC, o Partido Comunista Sul-Africano (SACP) e o Congresso Pan-Africano (PAC) e um acordo negociado pelo então partido no poder, o Partido Nacionalista (NP).

O líder partidário explicou que há dois anos abordou o Presidente sul-africano e dirigente do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), Cyril Ramaphosa, a quem lamentou que o partido no poder tenha sido injusto consigo, mas justificou que na altura não podia ceder o poder na região ao ANC.

"De forma que, disse-lhe que embora tenha participado no Governo de Unidade Nacional e que o Sr. Mbeki [então Presidente], em 1999, na verdade me nomeou vice-presidente da África do Sul, os líderes do ANC aqui [no KwaZulu-Natal] foram contra, afirmando que se eu fosse vice-presidente, então que a governação desta província, que na altura estava sob o controlo da minha organização, deveria ser entregue ao ANC, o que rejeitei", salientou Buthelezi.

"Não posso pegar de bandeja os votos das pessoas que votaram em mim e entregá-los ao ANC, e de forma que o Sr. Mbeki disse que deveríamos trabalhar juntos, então continuei como ministro do Interior por mais cinco anos, mas nunca houve qualquer reconciliação real entre nós", frisou.

Buthelezi referiu ter sublinhado ao chefe de Estado sul-africano que é preciso "fechar essa ferida", lamentando que a covid-19 tenha interrompido estas conversações porque, disse, "o tempo está a passar".

A saída de Mangosuthu Buthelezi do Governo do ANC, em 1999, afetou a popularidade do segundo maior partido de oposição da maioria negra na África do Sul, descendo à quarta posição nas eleições gerais desde 2009 (4,6%). Todavia, em 2019, a formação política de Buthelezi aparece mais forte (3,38%) na oposição ao ANC, este afetado por múltiplos escândalos de fraude e corrupção, e quando o líder do IFP está a apostar em "passar a pasta" a uma nova liderança mais jovem.

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