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Europeus exigem à China mais direitos humanos

A relação entre União Europeia e China está a mudar e os europeus estão a tornar-se mais atentos aos direitos humanos e preocupados com perdas de controlo na economia, conclui um documento do Instituto Mercator, hoje apresentado em Lisboa.

Europeus exigem à China mais direitos humanos
Notícias ao Minuto

09:39 - 16/04/21 por Lusa

Mundo China

A narrativa dominante nos últimos 45 anos relativamente à China mudou radicalmente em 2020, refere a análise realizada pela investigadora Lucrezia Poggetti, a que a Lusa teve acesso e que é hoje apresentada por Helena Legarda na "Conferência UE-Ásia: Desafios e Futo", na Fundação Gulbenkian.

Segundo o documento, intitulado "A relação UE/China em tempos de rivalidade sistémica", a Europa tem visto na China "sobretudo oportunidades económicas" e essa visão "prevaleceu sobre as considerações geopolíticas, com os países da UE a optarem em grande medida por não abordar os sinais de endurecimento político da China".

No entanto, "em 2020, este quadro mudou radicalmente", considera a investigadora do Mercator, o maior 'think tank' europeu com foco exclusivo na China, sublinhando que "o comportamento de Pequim durante a pandemia" de covid-19 "tornou os europeus mais atentos aos problemas existentes, tanto nas relações políticas como económicas".

A repressão chinesa sobre Hong Kong e as revelações sobre a existência de campos de reeducação em Xinjiang, ao longo de 2020, "criaram também uma maior urgência sobre a necessidade de responder às violações massivas dos direitos humanos", considera a análise.

"Embora os países da UE ainda estejam interessados na cooperação económica com a China, veem hoje mais claramente os desafios geopolíticos apresentados pela ascensão" daquele país e a União Europeia "está sob pressão" da opinião pública e dos parceiros em todo o mundo para "equilibrar os interesses económicos e as considerações geopolíticas na sua política para a China".

Por outro lado, a posição de força na economia que a China tem adotado, sobretudo desde 2016, quando fez um aumento do investimento estatal em indústrias estratégicas da EU, provoca "preocupações acerca da possibilidade de Pequim estar a ganhar controlo sobre setores críticos da economia da UE, fragilizando a soberania e a segurança europeias".

A situação já levou Bruxelas a criar um quadro para análise do investimento direto estrangeiro.

Até há pouco tempo, "a ingerência russa era a principal preocupação dos governos europeus", mas "as atividades de Pequim para influenciar a tomada de decisões e a opinião pública em toda a Europa" alteraram a situação, adianta a investigadora, referindo que a covid-19 trouxe novos desenvolvimentos.

"As agências do Partido-Estado chinês lançaram campanhas de desinformação na Europa para contrariar as críticas feitas a Pequim pela má gestão inicial do surto em Wuhan", refere a análise, que explica que a estratégia passou pela utilização de uma mistura de 'bots' e contas oficiais dos meios de comunicação social do governo chinês.

A China publicitou, "de forma bastante agressiva, os fornecimentos comerciais chineses de máscaras faciais e outro equipamento de proteção individual para a Europa como se fossem doações" e recorreu "à desinformação ao estilo russo, promovendo teorias de conspiração contraditórias para semear a confusão sobre as origens do vírus".

O cenário levou Bruxelas a apostar no combate à influência da China em diferentes domínios, conclui a investigação, adiantando que "os decisores políticos da UE enfrentam desafios à medida que os Estados-membros debatem o nível de recursos a utilizar".

O futuro da relação UE/China vai passar, segundo o documento, por uma tentativa da China de aumentar a sua influência e uma reação de Bruxelas para controlar a manipulação e desinformação de Pequim, considera o Instituto Mercator.

Para se tornar um interveniente geopolítico, a UE tem de "dar cada vez mais atenção às geografias em que a China tem um forte potencial para moldar normas e regras", em particular a região do Indo-Pacífico e os Balcãs Ocidentais, aconselha a investigadora.

O documento sobre as relações China/UE foi apresentado a propósito da conferência que antecipa a cimeira de alto nível UE/Índia, a 08 de maio, no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.

A iniciativa, que partiu do Fórum Futuro da Fundação Gulbenkian, visa, de acordo com a organização, "contribuir para o processo de análise e formulação da política externa da União Europeia com a Ásia em geral e com a Índia em particular".

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