Antigo "senhor da guerra" na Costa do Marfim condenado a prisão perpétua
Um antigo "senhor da guerra" na Costa do Marfim ocidental, Amade Oueremei, foi hoje condenado a prisão perpétua pelo Tribunal de Justiça de Abidjan, por "crimes contra a humanidade", cometidos na cidade de Duékoué, em 2011.
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Mundo Costa do Marfim
Amade Oueremei, apelidado de "o senhor" na sua região, foi condenado por atos cometidos em 28 e 29 de março de 2011 durante a crise pós-eleitoral que abalou o país, nascido da recusa do Presidente Laurent Gbagbo em reconhecer a sua derrota eleitoral para Alassane Ouattara, e que matou cerca de 3.000 pessoas.
Durante o julgamento foi revelado que, num só dia, 817 pessoas foram executadas, em Duékoué, segundo a Cruz Vermelha, 300 segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
O tribunal "declara Amade Oueremei culpado de crimes contra a população, pilhagem, rapto, assassinato, violação, crimes contra a humanidade" e "condena-o a prisão perpétua", disse o presidente do tribunal, o juiz Charles Bini, na sequência do pedido da acusação, citado pela agência France-Presse.
O tribunal de Abidjan também o condenou a pagar mais de 1 mil milhões de francos CFA (cerca de 1,5 milhões de euros) a 34 vítimas que se tinham constituído como partes civis.
Vestido com uma 't-shirt' desbotada, usada desde o início do julgamento em 24 de março, Amade Oueremei, de 57 anos, permaneceu indiferente ao anúncio do veredicto, com o rosto coberto por uma máscara contra a covid-19.
"É um julgamento tendencioso na sua conduta e só pode resultar numa sentença tendenciosa", disse a advogada de defesa, Roseline Aka Sérikpa.
Para a advogada, Amadé Ouérémi "é apenas parcialmente responsável, [e] é injusto fazê-lo ser o único responsável pelo que aconteceu em Duékoué".
"Este julgamento não nos permitiu esclarecer o que aconteceu em Duékoué, por isso ainda há demasiadas áreas cinzentas para pensarmos", acrescentou.
Durante o julgamento, o tribunal ouviu testemunhos de familiares das vítimas sobre os abusos cometidos durante esses dois dias.
Segundo a ONU e várias organizações internacionais, a captura de Duékoué em março de 2011, por combatentes pró-Ouattara, foi acompanhada de massacres em grande escala.
As milícias pró-Gbagbo, apoiando as forças regulares, afirmaram estar a defender a população local, ao mesmo tempo que cometiam abusos.
Num contexto de questões de terra, a crise política levou à violência comunitária entre os guérés, grupo étnico local que é maioritariamente pró-Gbagbo, habitantes "não-Gbagbo", nomeadamente dioulas do norte, que são maioritariamente pró-Ouattara, e imigrantes burquinenses.
Um chefe de gangue, então líder de uma milícia que martirizou a população local, Amadé Ouérémi, cujos pais eram originalmente do Burkina Faso, tinha colocado a região sob o seu controlo e colocado os seus olhos nas ricas terras do Monte Péko, uma floresta classificada na costa ocidental da Costa do Marfim.
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