Deputados depostos entregam provas de abusos dos militares à ONU
O partido da líder deposta de Myanmar vai entregar a investigadores da ONU dezenas de milhares de provas de alegadas violações dos direitos humanos pelo Exército, disse hoje um grupo de deputados, afastados pelos militares.
© Reuters
Mundo Myanmar
Cerca de 600 civis, entre eles cerca de 50 crianças e adolescentes, foram mortos desde o golpe de Estado de 01 de fevereiro em Myanmar (antiga Birmânia), segundo a Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos (AAPP).
O número pode ser mais elevado, ressalvou a AAPP, estimando que cerca de 2.700 pessoas foram detidas, muitas sem acesso a advogados, não existindo contacto com as famílias.
Execuções extrajudiciais, tortura, detenções ilegais: a comissão "recebeu 180.000 provas (...) mostrando violações dos direitos humanos em grande escala por parte dos militares", adiantou um grupo de resistência chamado CRPH (Comissão de Representantes do Pyidaungsu Hluttaw, o órgão legislativo birmanês).
O grupo é constituído por deputados depostos da Liga Nacional para a Democracia (NLD), da líder, também ela deposta, Aung San Suu Kyi, e que se esconderam para fugir aos militares.
A CRPH, que reivindica o direito de falar em nome do país, disse que os seus advogados se vão reunir hoje com investigadores da ONU para discutir as alegadas atrocidades.
"O objetivo da reunião é discutir as modalidades de diálogo" entre a CRPH e o Mecanismo Independente de Investigação da ONU sobre a Birmânia, afirmou.
Esta última, criada pela ONU em 2018 após os abusos do exército birmanês contra a minoria muçulmana rohingya, começou a recolher provas de violações desde o golpe.
Em meados de março, Thomas Andrews, o principal perito independente mandatado pelas Nações Unidas, já tinha denunciado prováveis "crimes contra a humanidade".
Apesar da violência, a mobilização pró-democracia não está a enfraquecer, com dezenas de milhares de trabalhadores em greve e setores inteiros da economia paralisados.
Em Mandalay, a segunda maior cidade do país, os grevistas tomaram as ruas na quarta-feira, alguns fazendo a saudação de três dedos, um sinal de resistência, de acordo com imagens publicadas em redes sociais.
O acesso à Internet continua cortado para a maioria da população, uma vez que a Junta Militar ordenou a suspensão dos dados móveis e das ligações sem fios.
Cerca de 100 celebridades - cantores, modelos, jornalistas - foram alvo de mandados de captura, acusados de terem divulgado informações suscetíveis de provocar motins nas forças armadas.
Os generais estão a tirar partido das divisões na comunidade internacional. Depois da China, a Rússia rejeitou na terça-feira a ideia de se avançar com sanções contra o regime.
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