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Associação preocupada com livre jornalismo na emissora pública de Macau

A Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau mostrou-se hoje preocupada com o livre exercício do jornalismo na emissora pública, devido às novas diretrizes que proíbem jornalistas de português e inglês de divulgarem opiniões contrárias às da China.

Associação preocupada com livre jornalismo na emissora pública de Macau
Notícias ao Minuto

11:51 - 12/03/21 por Lusa

Mundo Macau

A Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) "manifesta enorme preocupação pela gravidade das implicações de alguns aspetos referidos (...) no que diz respeito ao livre exercício do jornalismo e às condições dos jornalistas para exercerem a sua atividade com profissionalismo e dignidade", apontou a associação em comunicado.

Entre os vários pontos transmitidos às redações portuguesa e inglesa numa reunião de quarta-feira onde foram comunicadas as novas diretivas, a AIPIM demonstrou muita preocupação com "uma indicação de impossibilidade do pessoal da TDM de 'divulgar informação ou opiniões contrárias às políticas do Governo Central da RPC'" e ainda o apoio às medidas adotadas por Macau.

"O ponto em questão é particularmente preocupante na medida em que colide com o pluralismo informativo e a busca do contraditório -- princípios basilares da atividade profissional dos jornalistas", para além de gerar "um clima de incerteza e receio, o qual tem um impacto muito negativo no trabalho do jornalista".

Demonstrando respeito pela autonomia da linha editorial dos orgãos de comunicação social, a AIPIM considera também que o ponto em questão pode entrar em colisão com o parte do Manual Editorial da TDM: "A 'regra das duas fontes' deve ser aplicada rigorosamente pelos [nossos] jornalistas quando transmitem uma notícia ou informação importante", citou a associação.

Um jornalista da TDM, que pediu para não ser identificado, disse na quinta-feira à Lusa que pelo menos um editor já colocou o lugar à disposição. O não cumprimento das novas diretrizes dá despedimento por justa causa, adiantou.

"Confirmando-se uma abordagem deste género, julgamos ser algo de injustificável e inaceitável", denunciou na mesma nota a AIPIM.

Os cerca de 40 jornalistas de língua portuguesa e inglesa foram notificados para comparecer na quarta-feira de manhã para uma reunião com a direção de informação.

Entre os pontos que foram transmitidos verbalmente pela direção de informação na reunião constam diretrizes como: A TDM divulga e promove o patriotismo, o respeito e o amor à pátria e a Macau; A TDM é um órgão de divulgação da informação do Governo Central da República Popular da China e de Macau; O pessoal da TDM não divulga informação ou opiniões contrárias às políticas do Governo Central da China e apoia as medidas adotadas por Macau.

Tal como foi defendido na Assembleia Nacional Popular chinesa, na semana passada, e apoiado publicamente pelo poder executivo de Macau, a carta que foi lida aos jornalistas aponta ainda que a TDM apoia o princípio fundamental de que a Região Administrativa Especial de Hong Kong é governada por patriotas.

Durante a reunião na TDM foi dito ainda que para a concretização destes objetivos, a Comissão Executiva fará os ajustamentos necessários ao nível da sua estrutura, pessoal e de programação.

A AIPIM pediu esclarecimentos à TDM "por forma a garantir o pleno exercício da profissão" e demonstrou ainda toda "a solidariedade com os (...) colegas profissionais dos serviços em português e inglês da TDM, que merecem respeito, consideração e apoio".

A Teledifusão de Macau assegura o serviço público no território, cuja língua portuguesa também é a oficial, conta com canais de televisão em português, inglês e chinês e ainda com rádio em língua portuguesa e chinesa.

A emissora pública de televisão e rádio de Macau assumiu hoje que vai manter a atual política editorial alinhada com o "princípio do patriotismo e do amor por Macau".

"A Teledifusão de Macau (TDM) não irá alterar a sua política atual em matéria de cobertura noticiosa", indicou a emissora, num comunicado em chinês, sem nunca se referir à reunião de quarta-feira onde foi lida uma diretiva que proibia os jornalistas de português e inglês de divulgarem informações e opiniões contrárias às políticas da China, confirmada à Lusa por vários jornalistas da empresa e veiculada pelos 'media' locais.

"Enquanto organismo público de radiodifusão, a TDM continuará a cumprir a sua responsabilidade social nos meios de comunicação social e a aderir ao princípio do patriotismo e do amor por Macau", lê-se na mesma nota.

Até agora o único deputado que criticou as novas diretivas foi o pró-democrata Sulu Sou.

"As mãos das autoridades já esperavam chegar ao mundo português e inglês como [fizeram com] os meios de comunicação chineses há cerca de 8/10 anos", denunciou, em declarações à Lusa.

A transferência da administração de Macau ocorreu no final de 1999, pouco mais de dois anos depois de a China ter recuperado a soberania sobre a antiga colónia britânica de Hong Kong.

Na lei básica de Macau, miniconstituição do território que deverá estar em vigor até 2049, lê-se que "os residentes de Macau gozam da liberdade de expressão, de imprensa, de edição, de associação, de reunião, de desfile e de manifestação".

As duas regiões têm autonomia em todas as áreas, exceto na diplomacia e na defesa.

Leia Também: Emissora pública de Macau defende notícias alinhadas com patriotismo

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