Ocidente vai ter de adaptar-se à perda do domínio da ordem mundial
O Ocidente vai ter de adaptar-se a um mundo onde não é mais a força dominante, previu à Lusa um proeminente diplomata e autor de Singapura, observando que os últimos 200 anos foram uma "aberração" histórica.
© Reuters
Mundo Kishore Mahbubani
"O Ocidente tem que parar de ser arrogante e começar a ouvir também", afirmou Kishore Mahbubani, autor do livro "A China Já Ganhou?", editado em Portugal no final do ano passado.
"O Ocidente há muito tempo habitou-se a que o resto do mundo se adapte à sua visão, sem ter que esforçar-se por se adaptar a outros contextos", acrescentou.
Investigador do Instituto de Pesquisa sobre a Ásia, na Universidade Nacional de Singapura, Mahbubani foi durante mais de 30 anos diplomata, tendo assumido a presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas entre 2001 e 2002.
Mahbubani argumentou que a ascensão de países como a China e a Índia significam que Estados Unidos e Europa não são mais a força dominante na política mundial, e que devem agora aprender a compartilhar, ou até mesmo abandonar, a sua posição hegemónica.
"Até 1820, as duas maiores economias do mundo eram a China e a Índia", observou. "O facto mais importante é que os últimos 200 anos de dominação ocidental constituem uma aberração histórica".
"No século XIX, a Europa dominou o mundo, no século XX, os EUA dominaram o mundo. Muitos nos Estados Unidos e na Europa presumem que este é o estado natural das coisas e desejam que o seu domínio se prolongue no século XXI", disse.
"No entanto, todas as aberrações têm um fim natural", acrescentou, vincando que "a ascensão da Ásia é natural e teria que acontecer algum dia".
Em paridade de poder de compra, a China é já a maior economia do mundo, seguida pelos Estados Unidos. Japão e Índia ocupam o terceiro e o quarto lugar, respetivamente.
Em entrevista à agência Lusa, Mahbubani notou que o Ocidente - em particular, os Estados Unidos - tem vindo a cometer "erros estratégicos", incluindo "guerras desnecessárias" no Médio Oriente.
A crise financeira de 2008, causada por hipotecas de alto risco do mercado imobiliário, constituiu outra falha de governação.
Desde então, enquanto as economias desenvolvidas estagnaram, a China construiu a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, mais de oitenta aeroportos ou dezenas de cidades de raiz, alargando a classe média chinesa em centenas de milhões de pessoas.
A pandemia de covid-19, que causou quase 1,5 milhão de mortos nos Estados Unidos e Europa, em contraste com o leste da Ásia, onde a maioria dos países conseguiu suprimir a doença nos primeiros meses, constitui outro exemplo de um Ocidente em declínio, apontou.
Os países ocidentais devem preparar assim as próximas gerações para diferentes escolas de filosofia e aprofundar os seus conhecimentos sobre a História e valores da Ásia, onde vivem hoje cerca de dois terços da população mundial.
"Devemos aprender a entender como pessoas de outras civilizações sentem, agem e pensam", afirmou.
"Os chineses entendem os sistemas e a forma de pensar ocidentais, mas o Ocidente desconhece a cultura, História e processos de pensamento chineses", descreveu.
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