Hotel na ilha do Sal vai receber universidade de aeronáutica e turismo
O emblemático Hotel Atlântico, na ilha cabo-verdiana do Sal, detido pelo Estado, vai receber o futuro Instituto de Aeronáutica e Indústria Turística da Universidade Técnica do Atlântico (UTA), deixando o Governo cair a anunciada alienação em hasta pública.
© Lusa
Mundo Cabo Verde
A decisão de ceder o imóvel à UTA consta de uma resolução do Conselho de Ministros, publicada hoje e consultada pela Lusa, em que o Governo reconhece que aquele património, na cidade de Espargos, ilha do Sal, não chegou a ser alienado em hasta pública, conforme previa uma resolução governamental de 2020, e mantém que o Estado "não tem votação para explorar hotéis".
Contudo, a reitoria da UTA, pública e criada no ano passado e com sede na ilha de São Vicente, apresentou a proposta para assumir o imóvel, "visando a instalação e implementação do Instituto de Aeronáutica e Indústria Turística", enquanto "unidade orgânica de formação superior e investigação nos domínios da aeronáutica, transportes aéreos, gestão aeroportuária e economia turística", que terá sede no Sal.
Daí que a resolução hoje publicada aprove a cessão a título definitivo à UTA do imóvel, com origem no empreendimento que apoiava o aeroporto da ilha do Sal no período colonial português.
"De referir que a disponibilização do Hotel Atlântico para acolher uma instituição de formação superior nos domínios da economia turística e da aeronáutica coincide com o desejo e com a expectativa da sociedade salense, de atribuir as instalações do Hotel Atlântico a um fim de interesse público, que coadunasse com a vocação da ilha e com a sua própria identificação histórica", lê-se na resolução.
Este desfecho surge após o presidente da Câmara do Sal, Júlio Lopes, ter reivindicado, em entrevista à Lusa, em janeiro, a adaptação do hotel a escola de aviação e turismo, no âmbito do anunciado processo de venda do hotel, construído há cerca de 20 anos na cidade de Espargos, mas que praticamente não funcionou, criticado localmente.
"É um espaço simbólico para o Sal. Está ligado à aviação, porque vem desde o tempo colonial, pela importância geoestratégica do Sal no império colonial", recordou, aludindo à realização do primeiro voo comercial em Cabo Verde, com passagem por aquela ilha, há mais de 80 anos.
Durante o período colonial português, numa outra zona, chegou a ser construído um hotel, em pré-fabricado, de apoio ao então aeroporto, o único na ilha, memória que transitou para o novo empreendimento construído pelo Estado.
"Foi construído um novo. É um espaço que tem a sua importância histórica e a nossa vontade é que este espaço seja transformado, entre outras coisas, porque é muito grande, e até um privado pode participar nesse projeto, numa escola de hotelaria e turismo e também uma escola de aviação. Este é que é o desígnio do Hotel Atlântico", explicou Júlio Lopes.
O hotel, constituído por oito pavilhões, é detido pela empresa estatal com o mesmo nome, cuja alienação do capital social já tinha sido autorizada em 2014, sem sucesso, avançando em 2020 nova tentativa de venda.
"Não se vai destruir aquilo que é o Hotel Atlântico, a componente histórica, de aviação e do turismo", afirmava já em janeiro Júlio Lopes.
A solução, defendeu então, passaria pela instalação de um polo da nova Universidade Técnica do Atlântico, para colocar a funcionar no local, além de reativar o próprio hotel, as escolas de turismo e de aviação.
"Vai ter a sua componente de hotelaria, de aviação e da parte histórica. Agora, vamos iniciar um processo de auscultação das pessoas", garantiu Júlio Lopes.
Trata-se de uma área total de 13.491,99 metros quadrados, composto por oito pavilhões dentro de um triângulo murado e urbanizado e um outro pavilhão no exterior, com vários serviços, como cozinha e lavandaria. Um dos pavilhões conta com 19 quartos, um com cinco moradias e outro com três moradias da mesma tipologia T2, e outros dois com 12 suítes cada.
A empresa Hotel Atlântico foi criada pelo Estado em 1995, após um investimento público de 10 milhões de escudos (90 mil euros, à taxa de câmbio atual). Em 2014, na legislatura anterior, o Governo então liderado por José Maria Neves reconheceu a progressiva degradação do empreendimento e o acumular de prejuízos, depois de falhada a opção, iniciada 10 anos antes, de gestão do equipamento por uma empresa privada.
Foi tomada então a opção de alienação do capital social da empresa, por 45 milhões de escudos (405 mil euros), mas que também nunca foi concretizada, continuando o equipamento a deteriorar-se.
Cabo Verde recebeu em 2019 um recorde de 819 mil turistas, setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, sendo que praticamente metade visitaram a ilha do Sal.
Leia Também: Cabo Verde. Impostos cobrados afundam 34,1% em janeiro e só 'selo' cresce
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com