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Após um ano, a esperança nas vacinas como a grande arma contra a pandemia

Um ano depois dos primeiros casos de covid-19 em Portugal, as vacinas contra o novo coronavírus são consideradas a grande esperança para derrotar a pandemia, mas a sua escassez tem obrigado a alterações ao plano inicial.

Após um ano, a esperança nas vacinas como a grande arma contra a pandemia
Notícias ao Minuto

08:32 - 02/03/21 por Lusa

Mundo Covid-19

Em 2 de março de 2020 a Direção-Geral da Saúde confirmava os dois primeiros casos da doença e, cerca de 300 dias depois, arrancava a campanha de vacinação em Portugal em simultâneo com diversos outros países da União Europeia.

As primeiras doses foram administradas a profissionais de saúde na linha da frente do tratamento dos doentes de covid-19, mas o plano tem sofrido atualizações devido ao menor número de vacinas disponíveis do que o inicialmente contratado pela Comissão Europeia com algumas farmacêuticas.

Perante isso, o início da segunda fase do plano nacional de vacinação contra a covid-19 passou de março para abril, mas autoridades portuguesas mantêm a expectativa de, até ao final do verão, vacinar 70% dos portugueses.

No mundo, a pandemia já obrigou à preparação da maior campanha de imunização da história, através da Covax, uma parceria a nível global que pretende distribuir mais de dois mil milhões de vacinas nos países mais desfavorecidos até final do ano.

Quem já está a ser vacinado em Portugal

Desde o início da vacinação, em 27 de dezembro de 2020, a prioridade foi atribuída aos profissionais de saúde diretamente envolvidos na prestação de cuidados aos doentes, assim como aos funcionários e residentes nos lares de idosos.

Nesta primeira fase estão também incluídos os elementos das Forças Armadas, das forças de segurança e de outros serviços críticos de combate à pandemia e os profissionais e utentes da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI).

Já em fevereiro, a vacinação passou a incluir cerca de 400 mil pessoas com 50 ou mais anos e com pelo menos uma das seguintes patologias: insuficiência cardíaca, doença coronária, insuficiência renal ou doença respiratória crónica sob suporte ventilatório e/ou oxigenoterapia de longa duração, assim como os idosos a partir dos 80 anos.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, o primeiro-ministro, António Costa, e a ministra da Saúde, já receberam a primeira dose da vacina.

Todas as vacinas contra a covid-19 são disponibilizadas pelo Serviço Nacional de Saúde e têm um caráter universal e gratuito.

No total, estima-se que sejam cerca de 1,5 milhões de pessoas a vacinar nesta fase, que, inicialmente, estava prevista terminar em março, mas que foi alargada até ao mês seguinte.

Como está a decorrer a vacinação em Portugal

Segundo os dados oficiais mais recentes, até 26 de fevereiro, mais de 797 mil pessoas já tinham sido vacinadas contra a covid-19. Perto de 259 mil já têm a vacinação completa e cerca de 538 mil receberam a primeira dose.

Até 21 de fevereiro, o país já tinha recebido quase 831 mil doses de vacinas de três farmacêuticas: Pfizer, Moderna e AstraZeneca, todas com duas tomas.

A quarta vacina a chegar a Portugal, prevista para o segundo trimestre deste ano, deverá ser a da Janssen (do grupo Johnson & Johnson), que está ainda em processo de avaliação da sua segurança e eficácia pela entidade reguladora europeia.

Ao contrário das restantes, esta quarta vacina é de toma única e exige uma menor capacidade de frio para o seu armazenamento, o que é considerado um fator vantajoso em termos logísticos.

Quem será vacinado na próxima fase

A fase 2 do plano nacional de vacinação está prevista arrancar em abril com a inoculação das pessoas com 65 ou mais anos de idade.

Esta segunda etapa inclui também os portugueses entre os 50 e os 64 anos que tenham pelo menos uma das seguintes doenças: diabetes, neoplasia maligna ativa, doença renal crónica, insuficiência hepática, hipertensão arterial e obesidade.

Para esta lista podem entrar outras doenças, em função do conhecimento científico que for sendo adquirido.

Quem será vacinado na terceira e última fase

A fase 3 do plano de vacinação nacional ainda não tem data definida para ter início e está dependente da conclusão da fase 2.

Nesta última fase, será inoculada toda a restante população portuguesa elegível para receber a vacina, que poderá ser priorizada por grupos, à semelhança do que está previsto para as duas fases anteriores.

Vacinação para quem já teve covid-19

A grande maioria das pessoas que já teve covid-19 adquiriu proteção contra a doença. Atualmente, essa proteção natural aparenta durar pelo menos três ou quatro meses, mas só com um maior conhecimento dos contornos da doença se saberá por quanto tempo mais se prolonga.

Segundo a Direção-Geral da Saúde, a maioria dos especialistas considera ser seguro que quem já teve a doença tome a vacina. Contudo, enquanto o número de vacinas for limitado em Portugal, as pessoas que já tiveram covid-19 não serão consideradas prioritárias para serem vacinadas.

Proteção de quem é vacinado

Ser vacinado contra a covid-19 permite uma proteção individual contra a doença e as suas complicações, contribuindo também para a proteção da saúde pública, através da imunidade de grupo.

Apesar da eficácia comprovada cientificamente, as vacinas não evitam completamente o risco de infeção, mas as poucas pessoas vacinadas que foram infetadas desenvolveram geralmente formas pouco graves de covid-19.

O que é a imunidade de grupo

A imunidade de grupo é a resistência de uma comunidade à transmissão de um determinado agente infeccioso, quando a maioria da população está imune, levando à proteção indireta dos não imunes. É um conceito habitualmente usado em relação a doenças evitáveis por vacinação.

A proporção de pessoas que precisam de estar imunes para alcançar a imunidade de grupo varia com o agente infeccioso, em função da sua capacidade de transmissão de pessoa para pessoa.

De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), estima-se que para alcançar uma hipotética imunidade de grupo na covid-19 será necessário que mais de metade da população esteja imune.

Objetivos e expectativas da vacinação no país

Segundo a ministra da Saúde, Marta Temido, o plano de vacinação continua a decorrer conforme planeado, o que permite a Portugal manter-se "em linha com os objetivos europeus" para este ano.

Na prática, os objetivos definidos passam por ter, no final do primeiro trimestre, vacinados 80% dos idosos com mais de 80 anos e das pessoas que trabalham no setor da saúde e no setor social no apoio a cidadãos vulneráveis.

O Governo pretende ainda que, até ao final do verão, 70% dos portugueses tenham recebido a vacina contra a covid-19, atingindo-se, assim, a imunidade de grupo no país.

O coordenador do plano de vacinação, Henrique Gouveia e Melo, já admitiu que, se se confirmarem as expectativas de entregas de vacinas para os próximos meses, o país poderá avançar para um ritmo de 100 mil inoculações diárias.

Esse aumento da vacinação contra a covid-19, a partir do segundo trimestre, deve contemplar a inclusão de outras plataformas, como centros de vacinação e farmácias comunitárias.

Com a compra prevista por Portugal de 22 milhões de doses de vacinas, num montante global de cerca de 200 milhões de euros, Henrique Gouveia e Melo defendeu que o país deve adquirir o máximo de vacinas possíveis, embora tenha lembrado que o "processo de negociação de vacinas é macroeuropeu".

O coordenador do plano de vacinação contra a covid-19 defendeu também o adiamento da toma da segunda dose para permitir a vacinação de mais 200 mil pessoas até ao fim de março.

A última previsão da chegada de vacinas a Portugal, fornecida pelo Infarmed em 19 de fevereiro, apontava para 2,5 milhões no primeiro trimestre, nove milhões no segundo trimestre, 14,8 milhões no terceiro e, finalmente, 9,5 milhões no quarto trimestre.

Rapidez garante segurança das vacinas

Numa situação considerada normal, as vacinas são desenvolvidas pelas farmacêuticas e outras organizações de investigação através de uma série de etapas que podem levar vários anos.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), dada a necessidade urgente de vacinas contra a covid-19, foi estabelecido um nível de colaboração científica sem precedentes que está a mudar a forma como as vacinas são desenvolvidas.

Na prática, segundo a OMS, isso significa que algumas etapas do processo de pesquisa e desenvolvimento decorrem em paralelo, mas mantendo os rígidos padrões clínicos e de segurança.

Pelo menos sete vacinas diferentes já foram lançadas em vários países, mais de 200 outras eventuais vacinas estão em desenvolvimento, 60 das quais já na fase clínica, indicou recentemente a OMS.

Maior programa de imunização da história

O Gana foi, na quarta-feira, o primeiro país do mundo a receber as vacinas contra a covid-19 adquiridas pela Covax, uma parceria composta por várias instituições mundiais que está a desenvolver o maior programa de imunização da história.

A entrega do primeiro lote de 600 mil doses da vacina da AstraZeneca ao Gana marcou o arranque da distribuição mundial de vacinas adquiridas pela Covax, no âmbito da operação que prevê a entrega de mais de dois mil milhões de vacinas contra o coronavírus SARS-CoV-2 até ao final deste ano.

A Covax é coliderada pela Coligação para a Inovação e Preparação para Epidemias (CEPI), a Aliança para o Acesso às Vacinas (GAVI) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) e está a trabalhar diretamente com os governos e farmacêuticas para disponibilizar vacinas a países de médio e baixo rendimento de todo o mundo.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, já considerou necessário desenvolver um grande trabalho com os países e com os fabricantes das vacinas "para garantir que a vacinação de profissionais de saúde e idosos esteja em andamento em todos os países nos primeiros 100 dias deste ano".

União Europeia quer acelerar vacinação

No âmbito do combate à pandemia, os líderes da União Europeia têm centrado as suas atenções na aceleração do processo de vacinação e no aumento das capacidades de produção de vacinas.

O ritmo da campanha de vacinação contra a covid-19 na Europa é considerado aquém do desejado e vários Estados-membros dão sinais de crescente impaciência com a morosidade na distribuição das vacinas adquiridas por Bruxelas.

"A nossa prioridade continua a ser acelerar a vacinação na UE. Tal significa acelerar o processo de autorização das vacinas, bem como a sua produção e distribuição. Implicará, por exemplo, procurar soluções para reunir os diversos fabricantes ao longo das cadeias de abastecimento, a fim de aumentar a produção na UE", salientou recentemente o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

Quarenta e uma fábricas em nove países da UE estão a trabalhar nas vacinas contra a covid-19, entre produção total ou só de componentes, mas Bruxelas quer reforçar este número para garantir entregas mais rápidas.

Entretanto, a Comissão Europeia já propôs um novo plano de preparação de biodefesa contra a covid-19, face à ameaça das variantes do coronavírus, assente numa melhor deteção das estirpes, maior rapidez na aprovação de vacinas e aumento da sua produção.

Denominada "Incubadora HERA" -- a sigla da futura Autoridade Europeia de Preparação e Resposta a Emergências de Saúde -, a nova estratégia é justificada pelo executivo comunitário com a necessidade de "preparar a Europa para a crescente ameaça das variantes" do coronavírus.

Quem mais vacina no mundo

Israel é o país onde já foram administradas mais vacinas contra a covid-19, tendo sido dadas 88,77 doses por cada 100 habitantes, enquanto a média mundial se fica pelas 2,77 doses por cada 100 pessoas.

Segundo dados recolhidos pelo portal ourworldindata.org até 22 de fevereiro, em termos de regiões do mundo, a América do Norte continua a ser a mais imunizada, com 11,52 doses administradas por cada 100 habitantes, o que significa um crescimento de 23% face à semana passada.

Em termos relativos, o maior crescimento aconteceu no continente africano (61,5%), mas esta região continua a ser, em termos absolutos e em conjunto com a Oceânia, aquela onde foram administradas menos doses de vacinas: menos de uma por cada 100 habitantes (0,21).

Na União Europeia, onde tem havido muitas queixas devido aos atrasos nas entregas das farmacêuticas de vacinas aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento, a média ronda as 6,25 doses por cada 100 habitantes.

Este valor representa um crescimento de 24,5% do número de doses de vacinas administradas, mas fica aquém dos valores registados na Europa alargada (que inclui o Reino Unido).

No resto do mundo, a administração de vacinas continua muito baixa, com a América do Sul a ficar-se nas 2,56 doses por cada 100 habitantes, a Ásia nas 1,71 doses por centena de pessoas e a Oceânia a contabilizar apenas 0,01 dose por 100 habitantes.

AstraZeneca produzirá fora da UE metade das doses a fornecer à União Europeia

A farmacêutica AstraZeneca anunciou que poderá fabricar na União Europeia apenas metade das doses que deve fornecer aos Estados-membros no segundo semestre do ano e que produziria o restante das doses prometidas aos europeus em outras localizações.

A AstraZeneca "está a trabalhar para aumentar a produtividade na sua cadeia de abastecimento na UE" e usará "a sua capacidade global para garantir a entrega de 180 milhões de doses à UE no segundo semestre do ano", disse recentemente um porta-voz do grupo anglo-sueco.

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