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NATO apela à contenção após agravamento da crise política na Arménia

A NATO apelou hoje à redução das tensões políticas na Arménia e a resolução pacífica da crise, após o primeiro-ministro do país ter denunciado uma tentativa de "golpe de estado" e exigido a demissão do chefe das Forças Armadas.

NATO apela à contenção após agravamento da crise política na Arménia
Notícias ao Minuto

19:12 - 25/02/21 por Lusa

Mundo Arménia

"Estamos a acompanhar de perto o desenvolvimento dos acontecimentos na Arménia, nosso país parceiro. É importante evitar palavras ou ações que possam conduzir a uma maior escalada. Qualquer divergência política deve ser resolvida de forma pacífica e democrática, no respeito pela Constituição da Arménia", escreveu na rede social Twitter a porta-voz da NATO, Oana Lungescu.

A Arménia participa em missões da NATO, incluindo o treino e formação das forças de segurança afegãs.

Hoje, o primeiro-ministro arménio Nikol Pachinyan denunciou uma tentativa de "golpe militar", no que constitui o ponto mais crítico da crise instalada no país após a derrota da Arménia há três meses na guerra do Nagorno-Karabakh.

"Fui eleito pelo povo e é o povo que deve decidir sobre a minha demissão", disse Pachinyan ao intervir numa manifestação de apoiantes que se concentraram na praça da República de Erevan, a capital do país do Cáucaso do Sul.

O frágil equilíbrio entre o Governo e as Forças Armadas arménias foi hoje quebrado na sequência das críticas do primeiro-ministro a supostas deficiências dos mísseis táticos de fabrico russo Iskander durante a recente guerra com o vizinho Azerbaijão em torno do território separatista do Nagorno-Karabakh, que provocou mais de 4.000 mortos militares e civis do lado arménio.

O subchefe do Estado-Maior arménio, Tigran Khatchatrian, considerou "pouco sérias" as declarações do chefe do Governo, uma declaração que lhe custou o cargo e gerou mal-estar entre os restantes altos comandos militares.

Hoje, mais de 40 responsáveis militares assinaram uma declaração na qual exigem a demissão de Pachinyan e do seu executivo.

Após esta iniciativa, Nikol Pachinyan ordenou ao exército para "fazer o seu trabalho" e denunciou uma tentativa de golpe de estado.

"O exército não pode tomar parte nos processos políticos e deve obedecer ao povo e às autoridades eleitas", disse Pachinyan perante a multidão de cerca de 20.000 apoiantes que se concentrou em seu apoio.

A cerca de um quilómetro, num outro local do centro da cidade, entre 10.000 a 13.000 apoiantes da oposição estavam também reunidas para exigir a demissão do primeiro-ministro.

Previamente, o principal partido da oposição da Arménia tinha apelado ao primeiro-ministro para considerar a "última oportunidade" de uma saída do poder sem violência e "evitando uma guerra civil".

"Apelamos a Nikol Pachinyan a não conduzir o país para a guerra civil e ao derramamento de sangue. Pachinyan tem uma última oportunidade de sair sem problemas", disse o Partido para a Prosperidade da Arménia.

O Ministério da Defesa também se pronunciou sobre a situação interna ao denunciar "tentativas inadmissíveis de politicar o exército após o apelo do Estado-Maior à demissão do chefe do Governo.

"O exército não é uma instituição política e as tentativas de envolvimento no processo político são inaceitáveis", sublinhou o ministério em comunicado, acrescentando que estas posições constituem "uma ameaça à estabilidade e à segurança" da Arménia.

Em paralelo, o Presidente arménio disse estar a preparar "medidas urgentes" para ultrapassar a crise, e na sequência do apelo da hierarquia militar.

"Estou a adotar medidas urgentes para travar as tensões", declarou sem mais detalhes Armen Sarkissian, com funções essencialmente protocolares.

"Apelo a cada um, órgão do Estado, forças da ordem, forças políticas e todos os cidadãos, à contenção e ao bom senso", acrescentou.

Em Budapeste, onde se encontra em visita oficial, o chefe da diplomacia da Turquia Mevlut Çavusoglu disse que o seu país "condena firmemente" a "tentativa de golpe" na Arménia um país vizinho com o qual mantém relações turbulentas.

A Turquia constituiu um aliado decisivo do Azerbaijão no seu conflito armado em finais de 2020 com a Arménia em torno no enclave do Nagorno-Karabakh, e que resultou numa pesada derrota militar dos arménios.

A Rússia, também com influência decisiva na região, manifestou por sua vez preocupação com a situação de instabilidade no seu principal aliado do Cáucaso do Sul.

Os recentes desenvolvimentos ocorrem depois de manifestações durante o último fim de semana em que foi exigida a demissão do chefe do executivo.

Os mais recentes combates no Nagorno-Karabakh, um enclave em disputa entre os dois países vizinhos desde 1988, deflagraram em 27 de setembro e prolongaram-se por 44 dias.

Na sequência do acordo de cessar-fogo mediado por Moscovo que pôs termo ao conflito em 10 de novembro, o Azerbaijão passou a controlar mais de dois terços do território do Karabakh.

Os protestos internos contra Pashinyan iniciaram-se quase de imediato, promovidos por setores nacionalistas da oposição que consideraram o acordo uma "humilhação" para o seu país.

A Arménia e o Azerbaijão, ex-repúblicas soviéticas do Cáucaso do Sul, declararam a independência em 1991.

O Nagorno-Karabakh, região em território azeri e atualmente habitada quase exclusivamente por arménios (cristãos ortodoxos), declarou independência do Azerbaijão muçulmano após uma guerra entre 1992 e 1994 que provocou cerca de 30.000 mortos e centenas de milhares de refugiados.

Na sequência dessa guerra, foi assinado um cessar-fogo em 1994 e aceite a mediação do Grupo de Minsk (Rússia, França e EUA), constituído no seio da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), mas as escaramuças armadas continuaram frequentes, em particular durante a guerra de quatro dias em 2016.

A declaração de independência do Nagorno-Karabakh foi legitimada por três referendos organizados pelas autoridades arménias locais (1991, 2006 e 2017) mas nunca foi reconhecida internacionalmente, incluindo pela Arménia.

Em meados de dezembro as suas partes iniciaram a troca de prisioneiros de guerra na sequência do conflito em torno da região do Nagorno-Karabakh, com um balanço de mais de 5.500 mortos entre as forças militares dos dois países.

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