Espanha assinala 40º. aniversário de tentativa falhada de golpe de Estado
A Espanha assinala esta terça-feira discretamente o 40.º aniversário da tentativa frustrada de golpe de estado em 1981 feita por um grupo de militares nostálgicos da ditadura franquista que falharam impedir a consolidação da democracia no país.
© Reuters
Mundo Espanha
A imagem do tenente-coronel Antonio Tejero Molina da Guardia Civil (correspondente à GNR portuguesa) a entrar no Congresso dos Deputados (câmara baixa do parlamento/Cortes) com uma pistola na mão à frente de quase 200 dos seus homens ficou na história de Espanha.
Uma cerimónia vai ter lugar esta terça-feira no Congresso dos Deputados, presidida pelo rei Felipe VI, cujo pai, o antigo rei Juan Carlos, que abdicou em 2014, desempenhou um papel fundamental para impedir a tentativa de golpe de Estado.
Sinal dos tempos em Espanha, na cerimónia oficial vão estar presentes os líderes dos dois partidos que formam a coligação governamental minoritária: Pedro Sánchez, primeiro-ministro e secretário-geral do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), e Pablo Iglesias, vice-presidente terceiro do Governo e secretário-geral do Podemos (extrema-esquerda).
Mas alguns dos principais partidos que dão atualmente o seu apoio parlamentar ao executivo de esquerda já indicaram que não vão estar presentes na cerimónia: o Partido Nacionalista Basco (PNV), a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, regionalista/independentista) e o EH Bildu (regionalista/independentista bascos).
Juan Carlos, cuja imagem se deteriorou muito nos últimos anos devido a revelações sobre a sua vida privada e práticas financeiras e que atualmente vive nos Emirados Árabes Unidos, será o grande ausente desta cerimónia.
O golpe pretendia travar o processo de democratização espanhol iniciado com a morte do ditador Francisco Franco em 1975.
Juntamente com a entrada de Espanha na NATO no ano seguinte, o fracasso da revolta serviu para acelerar a transformação das forças armadas espanholas, que renunciaram definitivamente à intervenção política para se dedicarem a novas tarefas.
O filme desse episódio, que na realidade consolidou de forma inequívoca a jovem democracia espanhola, começou às 18:23 de 23 de fevereiro de 1981, quando o tenente-coronel Antonio Tejero Molina, à frente de quase 200 homens, entrou no Congresso dos Deputados, que se preparava para votar a nomeação de Leopoldo Calvo Sotelo como novo primeiro-ministro.
Os assaltantes dispararam tiros para o ar com armas automáticas, fazendo com que a maioria dos deputados e membros do governo presentes se atirassem ao chão.
Ao mesmo tempo, veículos blindados invadiram as ruas de Valência (Comunidade Valenciana a leste de Espanha) e um destacamento de uma divisão blindada assumiu brevemente o controlo dos estúdios de rádio e televisão do Estado.
O rei Juan Carlos telefonou então a cada um dos generais que comandavam as diferentes regiões militares do país, a fim de os convencer a não apoiarem o golpe, havendo apenas um, o comandante da região de Valência, o general Jaime Milans del Bosch, que era um dos principais instigadores da revolta, que ignorou a sua chamada.
O soberano consegue ainda impedir os planos do líder do golpe, o general Alfonso Armada, que tinha sido seu instrutor militar e em seguida seu secretário entre 1976 e 1977.
Juan Carlos conseguiu que não se deslocasse, como seu representante, às Cortes, onde tinha previsto proclamar-se chefe de um governo de união nacional.
Para a história fica ainda o momento de glória de Juan Carlos, quando, pouco depois da meia-noite, vestido com o seu uniforme de comandante em chefe das Forças Armadas, fez um discurso solene de cerca de um minuto.
"A Coroa, símbolo da permanência e da unidade da pátria, não pode tolerar de forma alguma ações ou atitudes de pessoas que procuram interromper à força o processo democrático", afirmou Juan Carlos.
A partir desse momento, tornou-se claro que o golpe seria um fracasso, tendo os golpistas deposto definitivamente as armas ao meio-dia de 24 de fevereiro.
Alfonso Armada e Antonio Tejero foram condenados pela justiça militar a 30 anos de prisão e Milans del Bosch a 26 anos, tendo sido libertados, respetivamente, em 1988, 1996 e 1991.
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