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Populismo é uma ameaça à União Europeia maior do que o Brexit

O 'Brexit' "prejudicou" a União Europeia, mas não a vai "paralisar", no entanto, as divisões que alimentam o populismo "são ameaças existenciais" ao projeto europeu, defende o jornalista e académico Paul Rowinski.

Populismo é uma ameaça à União Europeia maior do que o Brexit
Notícias ao Minuto

08:44 - 20/02/21 por Lusa

Mundo Investigador

"Não acredito que a saída do Reino Unido da União Europeia vá paralisar a União Europeia de uma forma significativa. Prejudicou-a, mas não a paralisou", afirma em entrevista à Lusa o autor de "Post-Truth, Post-Press, Post-Europe - Euroscepticism and The Political Crisis" ('Pós-Verdade, Pós-Imprensa, Pós-Europa - Euroceticismo e a Crise da Comunicação Política', em tradução livre).

No livro, editado em 2020, Rowinski parte de campanhas eleitorais em Itália e no Reino Unido, como a campanha para o referendo do 'Brexit', para perceber como é que a comunicação social tem lidado com os fenómenos de populismo e da desinformação que os alimenta.

É por isso, considera, que os argumentos nacionalistas e eurocéticos, como os que foram utilizados durante a campanha para o referendo do 'Brexit' ou para as eleições europeias em Itália, ganham tração.

"Alguns dos factos ditos, por exemplo, por [Nigel] Farage", líder do UKIP, partido independentista britânico que liderou a campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia, "estão corretos", sublinha Rowinski, reforçando que os políticos populistas dão voz a problemas reais.

O jornalista aponta para a "arrogância [das redações] de Londres", que, a uma semana do referendo, mandaram jornalistas para o norte de Inglaterra, quando as sondagens começaram a mostrar "uma imagem muito diferente daquela em que eles acreditavam".

"Essa cobertura, nessas regiões, devia ter acontecido antes", afirma, acrescentando que "uma das formas como o jornalismo tem de responder [ao populismo] é que tem de começar a ir a esses sítios e a falar com as pessoas e publicar algumas das visões destas pessoas, que podem ser difíceis de digerir".

Se isso é verdade para combater esses fenómenos a nível nacional, também se aplica ao euroceticismo e à sobrevivência da União Europeia.

"Temos de ter discussões abertas com diferentes agentes, incluindo grupos regionais dentro da Europa", defende.

Para o investigador, é preciso "lidar com o facto de o euro estar a prejudicar o sul e continuar a beneficiar, essencialmente, o norte, como a Holanda, a Bélgica e a Alemanha" e são os jornalistas que "têm de os forçar para fora da sua zona de conforto, para terem estas discussões desagradáveis".

Essas discussões têm de acontecer a um nível nacional, mas também europeu, onde é preciso disputar a "esta noção de uma Europa a duas velocidades".

Mas a falha não é só do jornalismo, reconhece, admitindo que "há um défice de comunicação da União Europeia", já que a organização, "muitas vezes, é muito mais eficaz do que todos pensam, incluindo jornalistas, mas falha redondamente em comunicar".

"O problema é que a Europa é muito boa a comunicar medidas, mas as medidas são secas; não são 'sexy' e não vendem bem", acrescenta.

Por outro lado, "é péssima a comunicar a sua mensagem política, e são essas as mensagens que os jornalistas percebem", diagnostica.

Assumindo que o populismo e a desinformação são os grandes desafios para a sobrevivência da União Europeia, o académico aponta as redes sociais como o principal campo de batalha.

Paul Rowinski acredita que "nenhuma destas questões vai ser resolvida, porque o modelo de negócio é suportado por todos esses cliques de pessoas com milhares de seguidores" e adianta que "a única forma" de resolver o problema é os "governos nacionais e europeus legislarem" sobre a matéria.

"A Alemanha, por causa das sensibilidades pós-guerra, tem, compreensivelmente, um limiar bem mais baixo ao discurso de ódio, porque sabem onde é que ele vai dar e não querem ir lá parar outra vez. Há quem veja isto como intolerância. É uma questão de ponto de vista, mas há uma altura em que será preciso legislar e multar o Facebook [rede social], porque não podemos permitir que as redes sociais se policiem a si próprias, isso não vai resultar", considera.

Em plena pandemia de covid-19, o jornalista lamenta o "exercício de autocensura que os jornalistas estão a fazer" na cobertura do surto, "em que estão todos num pensamento de grupo e ninguém se atreve a sair da linha, porque haverá consequências para quem o fizer".

Na sua opinião, a falta de investigação em relação ao surto pandémico e a tudo o que ele implica "mostra que a fachada do nosso sistema democrático não é muito profunda, tem uma camada muito fina".

Paul Rowinski foi correspondente internacional de jornais como The European e Scotland on Sunday e colaborou com The Independent, Financial Times, Deutsche Welle TV, Der Tagesspiegel e Die Zeit.

Publicou os livros "Evolving Euroscepticisms in the British and Italian Press. Selling the Public Short", em 2017, e "Post-Truth, Post-Press, Post-Europe. Euroscepticism and the Crisis of Political Communication", em 2020.

É responsável pelo mestrado em Jornalismo Internacional na Universidade de Bedfordshire, em Inglaterra.

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