A informação foi adiantada pelo brigadeiro-general Paulo Neves Abreu, comandante da missão de treino da União Europeia (EUTM) na República Centro Africana, que foi hoje ouvido por videoconferência na Comissão de Defesa Nacional da Assembleia da República, juntamente com representantes da Missão das Nações Unidas (Minusca) no país.

"Formámos desde setembro cerca de dois mil militares das Forças Armadas Centro Africanas nas mais variadas áreas", nomeadamente "160 oficiais e sargentos, garantimos a formação básica a 1.662 recrutas e formámos cerca de 156 especialistas em áreas como o socorrismo, administração, logística, recursos humanos, entre outras", detalhou o militar.

O responsável pela missão da UE admitiu que o clima de insegurança vivido e a escalada de violência sentida nos últimos meses tem criado dificuldades uma vez que "tarefas de aconselhamento, treino e formação normalmente dirigidas aos membros do governo e aos militares das Forças Armadas Centro Africanas, não são para eles neste momento a sua maior e mais importante preocupação".

"No entanto, apesar de todas estas condicionantes, os diversos pilares da missão continuam a cumprir a sua tarefa de uma forma muito empenhada e profissional", garantiu o brigadeiro-general.

Neste momento, completou, a missão europeia está a apoiar a formação de mais 437 recrutas, "que iniciaram a sua formação no final de dezembro e que irão brevemente reforçar o efetivo das Forças Armadas Centro Africanas", sendo que destes 272 elementos são "ex-membros dos grupos armados".

O responsável militar disse ainda que o Presidente da RCA autorizou recentemente a constituição de mais um batalhão, tendo atribuído à EUTM a responsabilidade de formação de cerca de mais 650 militares, decisão vista como "um voto de confiança".

Em 17 de dezembro, seis dos grupos armados rebeldes que ocupam dois terços da RCA aliaram-se na Coligação de Patriotas para a Mudança (CPC), tendo, em 19 de dezembro, oito dias antes das eleições presidenciais e legislativas, anunciado uma ofensiva para impedir a reeleição do Presidente, Faustin Archange Touadéra.

Desde aí, Bangui tem sido bloqueada pelos principais grupos armados, que realizaram vários ataques a importantes estradas nacionais que ligam a capital a países vizinhos.

A Minusca criticou as tentativas de os rebeldes no país asfixiarem a capital, Bangui, alertando para a "tragédia social e humanitária" que poderá afetar a população.

Touadéra foi declarado reeleito em 04 de janeiro após uma votação que foi contestada pela oposição e na qual apenas um em cada dois eleitores recenseados teve a oportunidade de votar por causa da insegurança fora de Bangui.

Mais de um mês depois da primeira volta e quando ainda não há data marcada para a segunda ronda, 118 assentos parlamentares continuam por preencher, depois de o Tribunal Constitucional centro-africano ter validado a eleição de 22 deputados no primeiro sufrágio.

A RCA caiu no caos e na violência em 2013, após o derrube do então Presidente François Bozizé, por grupos armados juntos na Séléka, o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas na anti-Balaka.

Desde então, o território centro-africano tem sido palco de confrontos comunitários entre estes grupos, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes da RCA a abandonarem as suas casas.

Portugal tem atualmente na RCA 243 militares, dos quais 188 integram a Minusca e 55 participam na missão de treino da União Europeia (EUTM), liderada por Portugal, pelo brigadeiro general Neves de Abreu, até setembro de 2021.