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Equador decide domingo entre virar mais à direita ou voltar à esquerda

O Equador inaugura amanhã o calendário eleitoral da América Latina em 2021 com a escolha de um novo Governo numa disputa polarizada entre a direita conservadora e a esquerda de Rafael Correa, um aliado do chavismo na Venezuela.

Equador decide domingo entre virar mais à direita ou voltar à esquerda
Notícias ao Minuto

08:47 - 06/02/21 por Lusa

Mundo Eleições

Além de Presidente e vice-Presidente, os equatorianos renovam todos os 137 assentos do Parlamento. Dos 16 candidatos a Presidente, dois têm hipóteses mais fortes de vitória, representando um exatamente o oposto do outro.

"O que está em jogo nessa polarização é a própria Democracia. Estamos perante um momento crítico no país", define à Lusa a cientista política e analista internacional, Ruth Hidalgo, da equatoriana Universidade das Américas.

"A disputa não é apenas entre direita e esquerda, mas entre Democracia com direitos, liberdades, institucionalização e divisão de poderes, por um lado, e autoritarismo, concentração de poder, perda do Estado de Direito, pelo outro", garante Hidalgo, também diretora da organização não-governamental Participação Cidadã, dedicada ao fortalecimento da democracia e à transparência nos processos eleitorais.

Ruth Hidalgo baseia-se nos dez anos em que Rafael Correa foi Presidente (2007-2017), quando concentrou poder em detrimento do Legislativo e do Judiciário, o qual submeteu.

Correa criminalizou o protesto social e proibiu a imprensa de investigar casos de corrupção.

Pelo lado da direita, o candidato liberal Guillermo Lasso (65 anos), ex-banqueiro e ex-ministro da Economia, apontado como um dos responsáveis pela crise de 1999 que levou o país à hiperinflação, à posterior dolarização da economia, à falência de metade dos bancos e ao êxodo de três milhões de equatorianos.

Do outro, um desconhecido Andrés Arauz, de apenas 36 anos, é o mais novo candidato presidencial da história do Equador e o artífice para o regresso ao país do ex-Presidente Rafael Correa, condenado a oito anos de prisão por corrupção.

Na centro-esquerda, Yacu Pérez (51 anos) é um ecologista que representa as organizações indígenas e que seduz os jovens pelo estilo, pelo discurso e pelas propostas, que, apesar de não ter possibilidades de ganhar, pode ser o fiel da balança e inclinar o resultado eleitoral numa eventual segunda volta.

O cientista político equatoriano Simón Pachano, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO) também vê riscos para a democracia equatoriana com o eventual regresso de Rafael Correa.

"Pode significar reformas na Constituição, feita à medida dos interesses políticos de Rafael Correa. Não podemos descartar o cenário em que se habilita a reeleição indefinida para que Correa possa ser novamente candidato e tentar perpetuar-se no poder", indica Pachano à Lusa.

Rafael Correa vive na Bélgica desde que deixou o poder em 2017. Não pode voltar ao Equador sem ser preso. Mesmo que não tivesse sido condenado, não poderia ser candidato porque a Constituição, que ele mesmo reformou, só permite uma reeleição, de que já beneficiou.

Mas Andrés Arauz fez campanha em nome de Rafael Correa. Nos cartazes e nas propagandas eleitorais era o rosto de Correa que pedia votos para Arauz.

Devido à pandemia, a breve campanha eleitoral iniciada em 28 de dezembro limitou-se às caravanas de automóveis, aos meios de comunicação tradicionais e às redes sociais. A campanha virtual favoreceu Correa que parecia presente, mesmo distante.

"Arauz Presidente, Correa presente", gritavam os militantes do 'correísmo' na quinta-feira, último dia da campanha eleitoral.

Com Arauz, Correa terá o verdadeiro poder, afirmam os analistas. O candidato prometeu que, se for eleito, indultará Rafael Correa, que o colocará como o seu principal assessor e que convocará uma Assembleia Constituinte.

"Com Arauz, Rafael Correa voltará ao país. Os juízes encontrarão alguma figura jurídica que anule os processos por corrupção ou a Assembleia votará uma amnistia. Um Presidente não pode indultar porque os crimes de corrupção não são passíveis de indulto", explica Simón Pachano.

Arauz também avisou que não vai cumprir o acordo fechado pelo atual Governo com o Fundo Monetário Internacional e que "desdolarizará" a economia - no Equador, a moeda oficial é o dólar americano.

Guillermo Lasso, na sua terceira tentativa de chegar à Presidência, opõe-se à "desdolarização" e adverte que "Arauz conduzirá o Equador direto a uma nova Venezuela".

O Presidente Lenín Moreno não concorre à reeleição. Publicamente, não apoia ninguém nem ninguém quer o seu apoio. O ex-aliado de Correa, com quem rompeu depois de chegar ao poder, tem apenas 5% de popularidade.

"Lenín Moreno foi apenas um Presidente de transição e bem fraco. Permitiu e favoreceu o combate à corrupção, mas faltou-lhe liderança para avançar mais em fortalecer a democracia e as instituições", observa Ruth Hidalgo.

"Foi uma meia transição", sintetiza.

"Foi o mais fraco governo desde o retorno da democracia em 1979", concorda Simón Pachano.

A maioria das sondagens indica uma liderança do candidato Andrés Arauz, do União pela Esperança (UNES) com cerca de 35%. Guillermo Lasso, do Criando Oportunidades, tem cerca de 26%, enquanto Yacu Pérez consegue cerca de 15%.

A disputa está aberta porque 14% continuam indecisos e 17% dos eleitores pretendem anular o voto.

No Equador, para ser eleito na primeira volta, basta superar os 40% dos votos, desde que a diferença com o segundo colocado seja de, pelo menos, 10 pontos.

Leia Também: Covid-19: Equador regista 46 mortos e 3.092 infeções nas últimas 24 horas

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