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Polónia. Julgamento coloca em risco investigação sobre Holocausto

Dois historiadores polacos estão a ser julgados por difamação devido a um estudo académico sobre o comportamento polaco durante a segunda guerra mundial, um caso cujo desfecho poderá determinar o destino de pesquisas independentes sobre o Holocausto no país.

Polónia. Julgamento coloca em risco investigação sobre Holocausto
Notícias ao Minuto

01:05 - 05/02/21 por Lusa

Mundo Polónia

A decisão do tribunal distrital de Varsóvia sobre o processo contra os historiadores Barbara Engelking e Jan Grabowski deverá ser conhecida em 09 de fevereiro, sendo este o primeiro processo desde que, em 2018, a Polónia tentou aprovar uma lei para criminalizar o ato de culpar falsamente o país pelos crimes relacionados com o Holocausto.

Uma intenção legislativa que gerou uma forte disputa diplomática com Israel e que acabaria por cair.

O caso que envolve os dois historiadores é de difamação civil, julgado sob uma lei preexistente, mas vários estudiosos acreditam que abrirá um precedente na liberdade de pesquisa sobre o Holocausto.

Barbara Engelking e historiadora no Centro Polaco para a Pesquisa do Holocausto, em Varsóvia, e Jan Grabowski, filho de um judeu polaco sobrevivente, é professor de História na Universidade de Otava, no Canadá.

A notícia da Associated Press refere que desde que conquistou o poder, em 2015, o partido conservador Lei e Justiça tem procurado desencorajar as investigações sobre os delitos polacos durante a ocupação alemã ao longo da Segunda Guerra Mundial, preferindo salientar o heroísmo e sofrimento dos cidadãos do país.

O objetivo é promover o orgulho nacional, mas os críticos do partido no poder entendem que se trata de uma estratégia do Governo para encobrir o facto de alguns polacos terem colaborado no extermínio dos judeus.

O processo contra os dois historiadores é entendido pelo museu israelita do Holocausto Yad Vashem como "um sério ataque à pesquisa livre e aberta" enquanto a Fundação para a Memória da Shoah, sedeada em Paris, o descreve como "uma caça às bruxas" e uma "invasão perniciosa no coração da pesquisa".

No cerne deste processo está um estudo, de dois volumes e 1.600 páginas em polaco, com o título "Noite sem fim: O destino dos judeus em condados selecionados da Polónia ocupada", co-editado por Barbara Engelking e Jan Grabowski.

Os historiadores veem este caso como uma tentativa de desacreditá-los e de desencorajar outros investigadores a pesquisarem a verdade sobre o extermínio dos judeus na Polónia.

"Este é um caso do Estado polaco contra a liberdade de pesquisa", afirmou Jan Grabowski à Associated Press no início desta semana. O historiador, adianta a AP, foi alvo de assédio anti-semita, tanto online como nas palestras que deu no Canadá, França e outros países.

Por seu lado, as autoridades polacas, têm argumentado que este é um caso civil, refutando a tese de que representa uma ameaça à liberdade de expressão.

Numa carta ao representante dos sobreviventes do Holocausto em Israel, o embaixador da Polónia em Israel, Marek Magierowski, expressou a sua preocupação com os insultos anti-semitas que surgiram na sequência deste caso.

Por outro lado, Filomena Leszczynska, sobrinha de um homem da aldeia de Malinowo cujo comportamento durante a guerra é brevemente mencionado no estudo, processou os dois historiadores exigindo 100 mil zlotys (cerca de 22.250 euros) e um pedido de desculpa através dos jornais.

De acordo com as provas apresentadas no estudo, Edward Malinowsky, contribuiu para salvar uma judia ao ajudá-la a passar por não judia, mas o testemunho da sobrevivente é citado como tendo dito que o homem foi cúmplice da morte de várias dezenas de judeus.

Malinowski foi absolvido de colaboração com os alemães num julgamento pós-guerra e a sobrinha conta com o apoio da Liga Polaca Contra a Difamação, uma organização próxima do Governo polaco.

Para esta Liga, os dois historiadores são culpados de caluniar "o bom nome" de um herói polaco, que dizem não ter tido nenhum papel na morte dos judeus, e, por acréscimo, de prejudicar a dignidade de todos os polacos.

Mark Weitzman, diretor dos assuntos governamentais do Centro Simon Wesenthal referiu-se a "Noite sem fim" como um "livro meticulosamente pesquisido e conseguido... que detalha milhares de casos de cumplicidade dos polacos no assassinato de judeus durante o Holocausto".

Na sua opinião, os procedimentos contra os dois historiadores de reputação internacional "não são mais do que uma tentativa de usar o sistema legal para amordaçar e intimidar as pesquisas sobre o Holocausto na Polónia".

A Alemanha ocupou a Polónia em 1939.

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