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Colonização francesa na Argélia: Stora defende "conhecimento do outro"

O historiador francês Benjamin Stora respondeu hoje às críticas dirigidas ao seu relatório sobre a "reconciliação das memórias" entre Paris e Argel e defendeu um "método que privilegia a educação e conhecimento do outro".

Colonização francesa na Argélia: Stora defende "conhecimento do outro"
Notícias ao Minuto

15:37 - 25/01/21 por Lusa

Mundo Benjamin Stora

Argel, 25 jan 2021 (Lusa) -- O historiador francês Benjamin Stora respondeu hoje às críticas dirigidas ao seu relatório sobre a "reconciliação das memórias" entre Paris e Argel e defendeu um "método que privilegia a educação e conhecimento do outro".

Stora, que na quarta-feira passada entregou o seu relatório sobre a colonização e a guerra na Argélia ao Presidente francês, Emmanuel Macron, foi muito criticado em diversos 'media' argelinos por não ter tomado posição favorável às "desculpas" exigidas à França pelo seu passado colonial no país magrebino.

Num artigo publicado no Quotidien d'Oran (oeste do país), o especialista em história contemporânea da Argélia, Stora argumenta que propôs no seu relatório um método que aplica "há muito tempo: Conhecer as motivações, a trajetória de todos os grupos de memória atingidos por esta guerra devastadora, de forma resoluta, para fazer recuar os preconceitos e o racismo".

E acrescenta: "O discurso das desculpas não devem ser palavras pronunciadas um dia para se desembaraçar no dia seguinte de um problema tão profundo", acrescentou o historiador, que afirma lamentar o atraso na França e na Argélia sobre este "trabalho de educação".

Perante uma história complexa, explica, o relatório "propõe precisamente um método que privilegia a educação, a cultura, através do conhecimento do outro, e de todos os grupos envolvidos na história argelina", afirmou ainda Stora.

A publicação do seu relatório, encomendado em julho por Macron, ainda não suscitou uma reação oficial em Argel.

No entanto, surgiram numerosas críticas nos 'media' locais, que lamentaram que tenha sido excluído o princípio das "desculpas".

"O relatório Stora não tem em consideração o principal pedido histórico dos argelinos, o reconhecimento pela França dos crimes cometidos pela colonização", indicou num 'tweet' o ex-ministro e diplomata argelino Abdelaziz Rahabi.

Em declarações à agência noticiosa AFP, o historiador argelino Fuad Soufi saudou, no entanto, a intenção de Stora de "estender o tapete entre os dois países", apesar das posições extremadas provenientes dos dois lados.

A "reconciliação das memórias" antagonistas sobre a colonização francesa e da guerra da independência (1954-1962) constitui um dos dossiês prioritários entre Argel e Paris.

No domingo, Emmanuel Macron e o seu homólogo argelino, Abdelmadjid Tebboune, comprometeram-se a uma cooperação conjunta, em particular sobre esta sensível questão, logo após o regresso a Argel do Presidente argelino, que permanece na Alemanha em tratamento a "complicações" pós-Covid-19.

Após receber as propostas detalhadas de Stora sobre a reconciliação entre as suas margens do Mediterrâneo, Macron prometeu adotar "atos simbólicos" para apaziguar memórias antagónicas, mas excluiu "desculpas" e arrependimento.

Macron, o primeiro Presidente francês a nascer após esta guerra, tem manifestado a intenção em apaziguar e desbloquear este complexo dossiê, e tentar reforçar as voláteis relações bilaterais entre dos dois países, particularmente agravadas desde a conquista e a colonização em 1830 à Guerra da independência, com um balanço de centenas de milhares de argelinos mortos e perto de três milhões de deslocados.

Em 2017, antes de ser eleito em maio, Macron denunciou em Argel a colonização como "um crime contra a humanidade", uma declaração muito criticada pelos repatriados e pela extrema-direita, mas que "não lamenta", sublinhou o Eliseu.

Para a Presidência francesa, trata-se de "olhar a História de frente" e de "uma forma serena e tranquila", para "construir uma memória da integração", uma "iniciativa de longo prazo" e não forçosamente com gestos diplomáticos imediatos.

Abdelmadjid Tebboune já encarregou o diretor dos arquivos nacionais argelinos, Abdelmadjid Chikhi, de trabalhar na questão da recuperação da memória em consonância com Benjamin Stora, após uma iniciativa comum e concertada dos dois chefes de Estado.

PCR // FPA

Lusa/Fim

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